quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Resenha: Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley


"O princípio da produção em série aplicado, enfim, à biologia."

Admirável Mundo Novo é uma daquelas distopias assustadoras. Não tem vampiros, zombies, lobissomens, nem o apocalipse. Tem pessoas.  

Neste livro, Aldous Huxley cria um mundo totalmente dominado pela tecnologia e as suas aplicações nas áreas da biologia e da psicologia. Neste mundo, a religião consiste na veneração de Ford e do progresso científico. A concepção de família é completamente destruída e ridicularizada, sendo que, neste mundo, as crianças são geradas em provetas, passando por uma série de processos, como se estivessem numa fábrica. A sociedade está organizada em castas, informação essa que é, de certo modo, "adicionada" à criança, ao longo da sua criação. 

Todas as pessoas, desde crianças, são condicionadas, de maneira a serem felizes, independentemente do seu estatuto social ou do seu trabalho. Por exemplo, pessoas que estariam destinadas a trabalhar em locais com altas temperaturas, eram habituadas, desde cedo, a essas mesmas temperaturas, associando-as a coisas felizes. Além disso, todas as noites, os habitantes deste mundo eram sujeitos à hipnopedia, ouvindo repetições de frases que surgiam como regras ou mandamentos, relativamente a vários temas e consoante a sua casta. Um dos temas era o consumismo; as pessoas eram incentivadas a deitar fora o usado e a comprar mais e mais. 

"- E é aí que está o segredo da felicidade e da virtude: gostar daquilo que se é obrigado a fazer. Tal é o fim de todo o condicionamento: fazer as pessoas apreciar o destino social a que não podem escapar."

Tal como não existia a concepção de família, claramente, também não existia o casamento e a ideia de querer viver o resto das suas vidas com uma só pessoa, era algo aterrador para os habitantes deste mundo. Quanto maior a quantidade de parceiros sexuais, mais normal se era. Contudo, todos os cuidados contraceptivos eram tidos em conta, visto que ter um filho era algo absolutamente repugnante e desprezado socialmente. 

Os progressos na medicina eram tais que as pessoas nunca estavam doentes e envelheciam felizes, sem as típicas mudanças deste processo, a que estamos habituados. Existia o soma, um medicamento/droga distribuída pelo próprio Governo e que resolvia todos os problemas. Quem se senti-se mal, um pouco triste ou ansioso, recorria a este medicamente e ficava tudo bem novamente.

É neste mundo que vive e trabalha o psicólogo Bernard Marx (uma desilusão, este homem...), um alfa mais (casta mais elevada), que se sente incomodado com o mundo em que vive, especialmente com a superficialidade das relações. Isto, porque Bernard pretende criar com Lenina, uma relação que vá além dessa superficialidade e da ideia de que as relações entre homens e mulheres servem, puramente, para encontros sexuais casuais. É claro que Bernard é olhado de lado pelas outras pessoas, surgindo, até, teorias em relação a um potencial engano na composição química da sua proveta.

Eventualmente, surgem outros personagens marcantes, como Linda e o seu filho John, o "Selvagem". Linda é uma mulher que pertencia a este "admirável mundo novo", mas que engravidou e viu-se obrigada a sair. Quanto a John, este é-nos apresentado como sendo um rapaz absolutamente fascinado pelas obras de Shakespeare e que vai aparecer neste novo mundo como uma atracção, como se de um circo se trata-se.

Não quero adiantar muito mais sobre a história, porque é um livro muito rico. Notamos a evolução das várias personagens e percebemos o que está nas entrelinhas. Na minha opinião, só imaginar viver num mundo assim já é absolutamente assustador, especialmente por termos a consciencialização do perigo da obsessão pelo progresso.

Recomendo mesmo muito.

"O mundo é estável, agora. As pessoas são felizes, conseguem o que querem e nunca querem aquilo que não podem obter. Sentem-se bem, estão em segurança, nunca estão doentes, não receiam a morte, vivem numa serena ignorância da paixão e da velhice, não são sobrecarregadas com pais e mães, não têm mulheres, nem filhos, nem amantes, pelos quais poderiam sofrer emoções violentas, estão de tal modo condicionados que, praticamente, não podem deixar de se portar como devem."


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Resenha: Ratos e Homens, John Steinbeck


Ratos e Homens, publicado em 1937, foi o primeiro contacto que tive com John Steinbeck e é uma das suas obras mais conhecidas.

Neste livro, conhecemos dois homens amigos, George e Lennie, que viajam constantemente em busca de trabalho. George é-nos apresentado como sendo "quem lidera, é aquele que toma as decisões e protege o seu amigo". Já Lennie é descrito como um "gigante simpático, dotado de um físico excepcional, mas mentalmente retardado", uma "criança grande" que confia plenamente no amigo.

Apesar de sonharem com uma vida melhor e de quererem trabalhar, para um dia terem a sua propriedade, sem terem que obedecer a ninguém; nunca conseguem ficar muito tempo no mesmo emprego. Isto, porque Lennie, mesmo sem essa intenção, arranja sempre algum problema.

"E tudo isso será nosso, e ninguém pode pôr-nos fora. E quando não gostarmos de alguém, pode dizer-lhe: «Vá-se embora daqui.» E ele tem que ir, que diabo! E se um amigo chegar, teremos uma cama a mais e dizemos-lhe: «Porque não passa a noite aqui?» E ele fica na nossa casa. Vamos ter um cão perdigueiro e um par de gatos, mas tu tens de cuidar dos gatos, para eles não matarem os coelhinhos."

Estando então determinado a manter este trabalho e a lutar pelo seu sonho, George vai olhando por Lennie, tentando evitar que este, na sua ingenuidade, cometa algum erro que comprometa os seus empregos. Isto porque George conhece a força de Lennie e sabe que, mesmo sem ele querer, pode vir a magoar gravemente alguém.

Obviamente que não vou contar como termina a história, mas digo já que o final do livro é bastante intenso e que corresponde a uma demonstração do que é a verdadeira amizade.

É um livro curto, com menos de cem páginas, mas muito bom. Adorei a ideia de continuar a sonhar com o que queremos, até porque, na minha opinião, se não for assim, nunca vamos lutar por isso mesmo. Além disso, é uma história que conta a bela amizade e lealdade entre estes dois amigos que acabam por se complementar um ao outro. Ah... e aquele final!


terça-feira, 30 de setembro de 2014

TOP "5": Séries da TV

Hoje apeteceu-me falar sobre as minhas séries televisivas preferidas. Algumas já sigo há bastante tempo, outras comecei há pouco e já se tornaram em preferidas. Algumas já acabaram, outras ainda estão no ar. Tentei reduzir isto a cinco, mas não consegui mesmo. Sou péssima no que toca a ter que fazer escolhas, eu sei.



1. One Tree Hill. Esta foi a primeira série que eu comecei a ver, já há muitos anos atrás. Adoro tudo nela. A história passa-se numa cidade fictícia, Tree Hill, nos EUA, onde vivem e estudam os personagens. Essencialmente, vamos seguindo a vida de uma série de adolescentes, durante o ensino secundário, até mesmo à vida adulta. Como não é uma série que se foca apenas numa determinada pessoa, é dada atenção a todas e há sempre alguém com quem nos identificamos. Pessoalmente, uma das maiores influências da pessoa em que me tornei, é mesmo uma das raparigas desta série (ah... Peyton Sawyer... saudades!). Além disso, a história nunca fica aborrecida, há sempre algo a acontecer com alguém. Ao longo das nove temporadas, vemos o grande crescimento dos personagens e é absolutamente impossível não nos apaixonarmos por eles. (Ah, saudades dos meus serões agarrada a estes episódios e a estas pessoas...)



2. Gilmore Girls. Esta foi uma dessas séries que vi há pouco tempo, mas que saltou rapidamente para a lista das preferidas. Basicamente, é-nos contada a história desta mãe, Lorelai Gilmore, que engravida durante a sua adolescência, mas que acha sensato não se casar imediatamente com o pai da sua filha, porque reconhece que são ambos muito novos e que, muito provavelmente, o casamento não daria bom resultado. Assim, Lorelai acaba por sair de casa dos seus sufocantes, ricos e demasiado-importados-com-as-aparências pais e vai morar sozinha com a filha para Stars Hollow. Lorelai acaba por dar o seu nome à filha, mas esta começa a ser tratada apenas por Rory. Sozinhas, estabelecem a melhor relação entre mãe e filha que eu já vi. Lutam pelo que querem, cometem os seus erros, têm desilusões e tudo mais, mas sempre juntas. Rory é, no fundo, a razão para eu ter começado a ver a série. É aquele personagem tipo Hermione Granger, que nos vai dar motivação para ler e estudar. A Lorelai é alguém super engraçada e sarcástica, uma super mãe, e, quem gosta de ler (e mesmo quem não gosta!) vai adorar a Rory. Enfim, são sete temporadas que vi num ápice e adorei.



3. Supernatural. Adoro esta série com todo o coração e vou ficar super triste quando terminar. Resumidamente, temos a história de dois irmãos, Dean e Sam Winchester, que vivem sozinhos com o pai, depois da morte trágica e anormal da sua mãe. Após esta morte e com as constantes ausências do seu pai, Dean vê-se responsável pelo seu irmão mais novo, Sam, e assim vão crescendo juntos, tornando-se inseparáveis. Com o tempo, vão-se apercebendo de que há criaturas estranhas e sobrenaturais no nosso mundo e que a profissão do seu constantemente-ausente-pai é acabar com essas mesmas criaturas e salvar pessoas, profissão que eles mesmos adoptam, "the family business". A série já vai para a décima temporada, por isso é impossível explicar tudo sem contar demais. 
No entanto, posso dizer que é algo muito bem feito, com uma grande história. As personagens são absolutamente fantásticas. Chegamos mesmo a gostar dos maus da fita. Além disso é super engraçada, especialmente devido às personalidades de alguns personagens... O que eu já me ri com eles! Enfim, não é uma série "parvinha" de adolescentes com seres sobrenaturais. Vale mesmo a pena ver!


4. Californication. Quem não conhece a série e só se cruzou com um episódio aleatório na tv, vai dizer que é só sexo. É mentira. Tem sexo, sim, mas não é pornografia. Em Californication, conhecemos o charmoso Hank Moody, que podemos comparar, em certos aspectos, ao escritor C. Bukowski. Hank é um escritor, apaixonado pelo álcool e, especialmente, por mulheres. Este é incapaz de resistir a uma mulher bonita, pior ainda quando esta o tenta seduzir. É aí então que está a razão para Karen, a mãe da sua filha, ter perdido a confiança que tinha nele e, apesar de se amarem, não conseguirem estar juntos por muito tempo. 
No entanto a história não se foca apenas neste casal, dando também atenção a outros personagens, como o agente e amigo de Hank, Charlie Runkle. Charlie é um personagem bastante engraçado e a relação entre ele e Hank é fantástica.
Já tenho saudades desta série... Recomendo muito!



5.1. Hannibal. Esta série é recente e, basicamente, conta a história do conhecido serial killer, Hannibal Lecter. É difícil explicar a história, porque, na minha opinião, é um pouco confusa e ainda está em construção. É daquelas séries em que, num momento temos a certeza de uma coisa, mas no episódio seguinte questionamo-nos se será mesmo assim. Ao longo dos episódios deparamo-nos com uma vários assassinatos bizarros e toda a investigação feita para encontrar o(s) culpado(s). Para essa investigação, contamos com a participação de Will Graham, um homem que consegue colocar-se no lugar do assassino e perceber como ocorreu o crime e a mensagem transmitida neste. É uma série super interessante a nível mental, muito bem pensada e filmada, visto que os efeitos são excelentes, bem como toda a imagem.



5.2. Game of Thrones. Estava farta de ouvir falar sobre esta série. Tentei resistir durante bastante tempo até, mas não consegui mais. Pelo que me parecia, esta série tinha vários aspectos que me agradavam e eu estava extremamente curiosa para ver o porquê de todo o alvoroço em redor dela. Inicialmente, foi confuso entrar na história e, às vezes, ainda é, porque nesta série não nos focamos apenas num ou noutro personagem. No geral, vamos assistindo à luta pelo trono, mas temos vários enredos e personagens para todos os gostos. Contudo, cuidado, não se apeguem muito a ninguém, porque há fortes probabilidades dessa pessoa morrer. Este é um dos aspectos mais comentados acerca da série baseada nos livros de George R. R. Martin, o facto de o autor não ter medo de matar personagens, mesmo correndo o risco de desagradar os fãs. É uma série com muita história, com grandes actores, crua e filmada brilhantemente. Não se assustem com o facto de os episódios serem de quase uma hora, porque é uma hora que passa sem darmos por ela e vale muito a pena.



5.3. Friends.Sempre quis ver esta série, mas só comecei há pouco tempo e o facto de ela já estar aqui é porque é mesmo boa. Não consigo dizer muito sobre ela, porque ainda vou nas primeiras temporadas, mas já estou a adorar. Em Friends, acompanhamos a vida destes cinco grandes amigos, que se apoiam incondicionalmente uns aos outros. É uma série cheia de comédia e onde encontramos alguns actores que hoje em dia são bastante conhecidos. É daquelas séries que nos deixam bem-dispostos e, além disso, os episódios são de vinte e poucos minutos. Recomendo mesmo!


5.4. Skins (UK). Esta também tinha que estar aqui. É uma série de adolescentes diferente do que estamos acostumados a ver. É crua e toca em vários temas importantes na adolescência sem tabus, desde a homossexualidade, drogas, sexo, problemas familiares e entre amigos, até aos transtornos alimentares, suicídio e bullying. Existem sete temporadas, duas para cada geração de jovens, sendo que a última é uma espécie de final para alguns personagens mais marcantes. Acho que, por ser mais realista (apesar de alguns exageros, visto que nem toda a gente tem uma vida assim), as pessoas  que a vêem acabam por se identificar com alguém. Além disto, tem uma banda sonora excelente.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Resenha: Anna and the French Kiss, Stephanie Perkins


"If this were a vacation, I'm sure I'd be charmed. I'd buy an Eiffel Tower key chain, take pictures of the cobblestones, and order a platter of escargot. But I'm not on vacation. I am here to live, and I feel small."

Anna and the French Kiss é um daqueles livros que nos deixa imediatamente bem-dispostos e com vontade de nos apaixonar-mos, especialmente em Paris.

Neste livro temos como protagonista a Anna, uma rapariga absolutamente apaixonada por cinema, que é enviada para uma escola americana em Paris, para completar o seu último ano do ensino secundário.

Apesar de Anna achar que qualquer pessoa adoraria estar no seu lugar, esta não consegue evitar sentir-se triste por deixar em Atlanta a sua melhor amiga Bridgette, o seu "potencial namorado" Toph e o seu irmão mais novo, Sean. Isto tudo junta-se à sensação de não ter qualquer controlo ou opinião válida sobre o assunto, visto que está a ser enviada para outro país completamente contra a sua vontade, obrigada pelo pai, um escritor que nos é descrito como uma espécie de Nicholas Sparks.

Imediatamente no início do livro, temos o dia em que os pais de Anna a deixam naquele que vai passar a ser o seu quarto durante o resto do ano e é aí que ela se vai aperceber realmente que está sozinha, num país que não conhece, e tão longe de casa. É também nesse dia que conhece Mer(edith), a sua "vizinha". Juntamente com ela, Anna vai conhecendo outros alunos, incluindo Josh, Rashmi e St. Clair.

Sim, Anna teria deixado alguém em Atlanta, mas ninguém se poderia comparar a St. Clair, um rapaz por quem todas as raparigas estão apaixonadas, alguém absolutamente lindo, com o seu "musician hair", sotaque britânico e uma enorme paixão por História (yay!). Mas St. Clair tem um problema, Ellie, a sua namorada. Apesar desta relação entre St. Clair e Ellie já se ter tornado num namoro "só porque sim", St. Clair não consegue separar-se dela, mas a sua aproximação com a Anna é inevitável e os passeios por Paris vão complicando mais a situação.

Obviamente que não vou contar como acaba a história, mas até chegar ao fim, há algumas desilusões, alguns contra-tempos, mesmo com os outros personagens, e alguns obstáculos (àquilo que nós queremos que aconteça!), mas também há momentos que me fizeram sorrir de "oh, que amorosoooooo!" e as muitas descrições da cidade aumentaram ainda mais a minha vontade de visitar Paris.

Não diria que é um livro que todos deveriam ler, mas é um daqueles livros que, certamente, nos deixa felizes e com um sorriso parvo na cara. É uma leitura bastante leve, que se lê rapidamente, até mesmo em inglês. É dada atenção a todos os personagens e não só aos principais, o que, para mim, é um ponto forte. Além disto, não é uma daquelas histórias em que os personagens se apaixonam imediatamente e fica tudo cor-de-rosa. É um processo gradual e realista.

Acho que, dentro do género, é muito bom. Sei que já há mais dois livros desta autora, Lola and the Boy Next Door e Isla and the Happily Ever After, que (penso eu) também se passam na mesma escola, com personagens diferentes, mas, apesar de ter gostado deste, para já, não os tenciono ler.


"He said I'm beautiful, but I don't know if that was flirty, friends-with-everyone-St. Clair, or if it came from some place private. Do I see the same St. Clair everyone else does? No. I don't think so. But I could be mistaking our friendship for something more, because I want to mistake it for something more."

"The sky is grey. It looks like it's about to snow, but it never does. (...) The air is cold, but not bitter, and tinged with chimney smoke."


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Resenha: The Storied Life of A. J. Fikry, Gabrielle Zevin


"No man is an island; every book is a world."

The Storied Life of A. J. Fikry conta a história do dono da livraria Island Books, em Alice Island. Fikry é um homem de trinta e nove anos, que havia abraçado este negócio com a sua mulher, Nic, vivendo agora, após a sua morte, sozinho por cima da sua loja. Agora este livreiro sente-se só, com o seu negócio, que piora a cada dia, e com a sua personalidade fria e rabugenta cada vez mais acentuada.

Fikry é um homem extremamente complicado para os representantes das editoras, visto que tem um gosto literário bastante específico e não pretende vender na sua loja livros que não lhe interessem, independentemente de isso significar que irá vender menos. É assim que conhece Amelia, uma dessas representantes de uma editora, que acaba por não ser tratada de uma maneira muito simpática por Fikry. 

Cansado da sua vida, Fikry planeia abandonar a livraria, reformar-se e vender o seu tesouro, um raro livro de Edgar Allan Poe, Tamerlane. No entanto, certo dia esse livro é misteriosamente roubado e, com esse desaparecimento, surgem grandes mudanças na vida deste livreiro. 

Um dia, ao regressar à livraria, vê que lhe foi deixado um bebé, com um bilhete escrito pela mãe, que afirmava não ter condições para cuidar da filha, Maya, e que considerava Fikry perfeito para tratar bem desta, até porque assim a sua filha cresceria rodeada de livros. Incapaz de abandonar de novo aquela criança, o livreiro acaba por ficar com ela, adoptando-a e tornando-se inseparáveis. É delicioso ver que, não só Fikry salvou Maya, mas que também esta o salvou da vida decadente que estava a viver. 

Gradualmente a relação com Amelia vai melhorando bastante, deixando de ser unicamente profissional. Além desta, é também nos dada a conhecer a história de Ismay, cunhada de Fikry, bem como a de algumas personagens, como o polícia Lambiase, que nos mostram a importância de Fikry e da sua livraria para a propagação da cultura em Alice Island.

É um livro com algumas plot twists que tornam a história interessante e cativante até ao fim. Diria que é especialmente dirigido para quem gosta de ler, porque nos relembra as razões de gostarmos tanto de livros, não só pelas personagens ou pela história, mas também pelas imensas referências. Não achei que fosse um livro excelente, mas é uma leitura bastante leve e enternecedora.


"Remember, Maya: the things we respond to at twenty are not necessarily the same things we will respond to at forty and vice versa. This is true in books and also in life."

"She knows that her mother is dead. And she knows that dead is when you go to sleep and you do not wake up. She feels very sorry for her mother because people who don't wake up can't go downstairs to the bookstore in the morning."

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Resenha: Não Matem a Cotovia, Harper Lee


A primeira coisa que tenho já a dizer é que adorei tanto este livro que se tornou num dos meus preferidos de sempre.
To Kill a Mockingbird é o livro da escritora Harper Lee, publicado em 1960 e vencedor do prémio Pulitzer e, ao lê-lo, percebo o porquê do prémio e de toda a fama deste livro.

Aviso, desde já, que não vou conseguir expressar aqui tudo o que este livro me passou, porque são abordados vários temas directa e indirectamente, além do principal que, diria eu, será o racismo.

A narrativa passa-se entre 1933 e 1935, em Alabama, no sul dos EUA. Um dos aspectos interessantes desta história é que ela é contada pelo ponto de vista de crianças, nomeadamente Jean-Louise, ou Scout, uma menina de seis anos, que vive com o irmão Jem, quatro anos mais velho, o seu pai Atticus, um advogado estimado por todos, e Calpurnia, uma mulher negra que sempre cuidou daquela família.

No início do livro, temos a descrição dos dias dos dois irmãos, Scout e Jem, com a companhia de Dill, um amigo que os visitava no Verão. Nesta parte do livro vamos conhecendo alguns personagens vizinhos desta família, desde senhoras simpáticas, que convidavam os três amigos a comer bolinhos em sua casa, a famílias misteriosas e alvo de um misto de medo e curiosidade por parte destas crianças, como os Radley.

Ao longo do livro e do passar do tempo, vamo-nos apercebendo do crescimento de Scout e do seu irmão, assim como da abertura das suas mentes. Onde esta família vivia, os negros continuavam a ser bastante discriminados e tratados inferiormente, servindo apenas para a realização de alguns trabalhos e, quanto mais longe estivessem, melhor. Sempre que um negro era acusado de algo, por norma, era imediatamente tido como culpado, sendo isso verdade ou não. Criada neste ambiente, é normal a primeira reacção de Scout, que entra em conflitos com alguns colegas da escola por estes dizerem que o seu pai é "amigo dos negros". 

Estas acusações dão-se pelo facto de Atticus ter sido chamado a defender um negro, acusado de violar uma rapariga, cargo que este não recusa por achar que todos merecem alguém que os defenda, independentemente da cor de pele, e por considerar que este homem pode estar a ser vítima de uma injustiça. O próprio modelo que Atticus é como pessoa, bem como os seus ideais e as suas conversas com Scout acabam por ser absolutamente deliciosas e as grandes responsáveis pelo crescimento, não só de Scout, mas também de Jem. É estranho, mas chego mesmo a sentir um grande orgulho por este homem e todos os valores que ele sempre prezou e procurou transmitir aos seus filhos.

Obviamente que não vou dizer como correu o julgamento, mas foi intenso... (Ah, pessoas de mente fechada... Que maravilha!)

Vou repetir-me, mas não importa, porque este livro é mesmo muito bom e devia ser lido por todos. É um livro que nos diz muito acerca das pessoas e da importância e impacto das crenças em estereótipos numa sociedade, o que, na minha opinião, ainda é e vai continuar a ser muito actual. As personagens são bastante cativantes, nomeadamente o grande Atticus Finch. Até mesmo a maneira como a história foi escrita, as descrições brilhantes das paisagens, o uso excelente dos recursos estilísticos...
É um livro que tem bastante conteúdo nas entrelinhas, o que é bastante intencional, ao ser uma história contada pelo inocente ponto de vista de uma criança. Enfim, leiam!


"- És ainda muito nova para compreender - disse ela -, mas por vezes a Bíblia, na mão de um homem, é pior do que uma garrafa de uísque na mão de... oh, do teu pai."

"Queria que tu visses uma coisa a respeito dela: queria que visses o que é a verdadeira coragem, para não julgares que a coragem é um homem de arma na mão. Coragem é, quando sabemos que estamos vencidos antes de começar, começarmos, apesar de tudo, e irmos até ao fim, aconteça o que acontecer."

"Todos conhecem a verdade, e a verdade é esta: alguns negros mentem, alguns negros são imorais, alguns homens negros são perigosos e indignos de confiança junto de mulheres - brancas ou negras. Mas esta é uma verdade que se aplica a todo o género humano, e não especialmente a qualquer raça de homens."


terça-feira, 2 de setembro de 2014

TAG: A sua vida em livros

Esta semana decidi aparecer aqui a responder a uma TAG, para variar um bocadinho e não estar sempre a publicar resenhas. Ninguém me disse para responder a isto, como é o suposto, mas eu estou a responder na mesma. Ah e tirei esta TAG do blog Livros e Vagalumes



  • 1. Escolha um livro para cada uma de suas iniciais

    1. Bem, as iniciais são CFC e os livros escolhidos são esses. Sobre o primeiro, "Compaixão" já pouco me lembro. Li-o há bastante tempo e ACHO que o tema é a infidelidade, mas posso estar completamente errada. Dele só me lembro mesmo de que não gostei muito. Quanto aos "Filhos da Droga", só digo que é dos meus livros preferidos de sempre e pronto... Leiam-no! Por fim, o "Cem Anos de Solidão" corresponde a uma compra recente e ainda não o li.

                 2. Conte sua idade pelos livros de sua estante: qual é o livro?


      Calhou o quarto e último livro da saga Twilight. Foi esta série que me deu o impulso para ler mais e continuo a gostar dela. Não é assim tão má como muita gente que, sem alguma vez a ter lido, proclama. Não acho que seja uma obra-prima, mas é um bom entretenimento, o que é sempre bom para se ganhar o gosto pela leitura.
                  3. Encontre um livro ambientado em sua cidade/estado/ país


        O mais perto que encontrei foi no Claraboia, de José Saramago, que se passa em Lisboa. Li este livro no início do ano e, basicamente, conta a vida de várias pessoas que moram no mesmo prédio, em Lisboa, nos anos 50. Tem algumas caricaturas sociais, se é que isso se pode dizer, como, diria eu, é normal nas obras deste autor. É um bom livro.



      1. 4. Escolha um livro que se passe num lugar que gostaria de conhecer


      2. A resposta a esta era bem óbvia. Claro adoraria conhecer Hogwarts e todo o mundo destes feiticeiros, mas também me contento com uma ida a Inglaterra e um passeio pela Escócia.



      3. 5. Escolha uma capa de livro com sua cor preferida


      4. Não tenho bem uma cor preferida. Tenho cores de que não gosto. Contudo, como tinha que escolher alguma coisa, optei por estes tons de azul e verde. E adoro os dois livros, especialmente o da Jane Austen. Talvez um dia fale sobre eles.



      5. 6. Que livro te traz boas lembranças?


      6. Comprei este livro nas férias de Verão de 2013, as melhores férias e as mais inesquecíveis. Estava num passeio por Vila Nova de Milfontes, com a melhor companhia, e, por acaso, estava a decorrer a feira do livro local. (Sinais do destino, oh! Os livros perseguem-me.) Queria ler o livro e comprei-o. Ainda me deram um marcador como recordação, o qual nunca sai deste livro. Nhé... Saudades.

        7. Qual livro você teve mais dificuldade em terminar?


        As dificuldades em terminar este livro foram tantas, que nem o terminei. Não porque não estivesse a gostar, simplesmente não o comecei a ler com antecedência suficiente. Estudámos este livro no décimo primeiro ano, penso eu. Quando chegou a altura de falarmos dele nas aulas, eu ainda ia a meio e decidi parar, porque já sabia o fim e tudo mais. Um dia, pego nele de vez.



      7. 8. Que livro ainda não lido lhe trará a maior sensação de "missão cumprida"?


      8. Nem tenho este livro. Esta é uma montagem manhosa que fiz, mas a ideia está lá. É um livro gigante e, pelo que já ouvi dizer, excelente. Um dia destes compro-o e leio-o. Depois tiro umas férias.


        terça-feira, 26 de agosto de 2014

        Resenha: Se Eu Ficar, Gayle Forman

        Bem, já que o filme vai estrear no final deste mês e eu estava com alguma vontade de uma leitura mais leve, decidi ler este livro da escritora Gayle Forman

        Em Se Eu Ficar, a história é contada na primeira pessoa pelo personagem principal, Mia, uma jovem que sofre um acidente de viação com os seus pais e o seu irmão mais novo.
        O aspecto interessante da história é que Mia tem toda uma experiência fora do seu corpo, assistindo e descrevendo todo o acidente, bem como o caos causado por este. Mia depara-se no local do acidente com o seu corpo inanimado no chão, bem como os  dos seus pais, claramente mortos, mas sem sinal do seu irmão.

        Já no hospital e em coma, Mia vai-se apercebendo de tudo, ainda que ninguém a consiga ver. Toda a família vai chegando e Mia inquieta-se em relação ao seu namorado Adam, que ainda não saberia o que tinha acontecido. (E este foi um aspecto que me irritou bastante. Tento colocar-me no lugar de Mia e percebo que ela quisesse ver o seu namorado, mas os pais acabaram de morrer e ela nem sabe onde, nem como está o irmão... Não gosto muito do facto de a história estar tão centrada na relação dela com o seu namorado, especialmente, tendo em conta tudo o que se estava a passar à sua volta.)

        Ao longo do livro, Mia vai relembrando alguns episódios da sua vida, da sua relação com os pais e com a música, o nascimento do irmão e o seu relacionamento com o seu namorado e a sua melhor amiga Kim.
        No hospital, uma enfermeira acaba por fazer com que Mia se aperceba que tudo depende dela e que terá que decidir se quer ficar e viver com aquilo que lhe resta, ou se quer desistir e morrer. 

        Este livro é, portanto, a história de uma adolescente que se vê perante a dificílima decisão de escolher entre viver uma nova vida, completamente diferente da antiga, na qual terá que lidar com grandes perdas, ou morrer e deixar o namorado, os amigos e o resto da sua família.

        "Mas ele não vai voltar. Sei que é inútil. Desisto e arrasto-me de volta para a UCI. Quero quebrar as portas automáticas. Esmurrar o balcão das enfermeiras. Quero que tudo se acabe. Quero o meu fim. Não quero ficar aqui. Não quero este hospital. Não quero ficar neste estado suspenso em que posso ver as coisas a acontecer e tenho consciência do que estou a sentir, sem, de facto, sentir. Não posso gritar até sentir a minha garganta doer, nem partir a janela com o meu punho até ver a minha mão sangrar, nem puxar os meus cabelos até que a dor ultrapasse aquela que sinto no meu coração."

        Considero que este é um livro razoável, que se lê rapidamente, com uma história interessante, mas com muito pouco desenvolvimento. Já vi várias pessoas dizerem o quanto adoraram o livro, por isso esta minha opinião surge por causa do meu gosto e não quer, necessariamente, dizer que não seja um bom livro. Sei que existe um segundo livro, com a continuação da história, mas, sinceramente, para já, não sinto a necessidade de o ler.
        Agora vamos lá ver como vai ficar o filme.

        terça-feira, 19 de agosto de 2014

        Resenha: O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald


        "Era eu rapaz e, ainda impressionável, quando o meu pai me deu um conselho que, desde então, ficou às voltas na minha cabeça. Disse ele:
        - Quando te sentires com vontade de criticar alguém, lembra-te disto: nem todos tiveram neste mundo as vantagens que tu tiveste."

        É assim que começa o mais aclamado livro de F. Scott Fitzgerald. A história decorre no Verão de 1922, num cenário americano pós-guerra e é narrada por Nick Carraway, um aristocrata falido, acabado de mudar para Long Island.

        Nick descobre que é vizinho do anfitrião das maiores e mais concorridas festas de Nova Iorque, Jay Gatsby. Este é o protagonista da história e é-nos apresentado como alguém bastante popular pelas suas festas espalhafatosas, mas que acaba por não ser verdadeiramente conhecido por ninguém. As pessoas simplesmente aparecem nas festas, sem o conhecerem e sem alguma vez o terem visto. Assim, Jay e o seu misterioso passado acabam por ser tema de conversas e a sua grande fortuna, cuja origem é desconhecida, é alvo de grandes especulações.

        Nick Carraway, o nosso narrador, é primo de Daisy Buchanan, que é casada com o infiel Tom Buchanan e amiga de Jordan Baker. É através de Jordan que Nick fica a saber que a sua prima e Gatsby já se conheciam e que o seu vizinho pretendia que este a convidasse a ir a sua casa tomar chá, de modo a ser surpreendida por Gatsby. Depois de Nick aceitar e enviar o convite à sua prima, Gatsby dá início a uma série de trabalhos de modo a preparar e embelezar tudo, com o claro objectivo de surpreender e maravilhar Daisy. 

        Afinal Gatsby teria tido um passado com Daisy antes de ser enviado para a guerra. Ao voltar e ver o amor da sua vida perdido para Tom Buchanan, um homem bastante rico, Gatsby faz do objectivo da sua vida enriquecer, de modo a atrair, de novo, Daisy, mostrando-lhe como a sua vida melhorou e aquilo que agora lhe poderá dar. (Esforço nada merecido por Daisy, na minha opinião.)

        Este livro acaba por retratar o cenário americano dos loucos anos vinte, realçando as festas, o materialismo, os excessos e a forte importância dada ao dinheiro. É um curto clássico com uma boa história, um protagonista bastante interessante e uma mensagem e crítica social intemporais.

        "O oficial olhava para a Daisy, enquanto ela falava, da maneira que todas as raparigas gostam de ser olhadas algum dia, e o incidente ficou-me gravado porque me pareceu muito romântico." 

        "Gatsby acreditara na luz verde, no orgíaco futuro que, ano após ano, foge e recua diante de nós. Se hoje nos iludiu, pouco importa; amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... Até que uma bela manhã...
        Assim vamos teimando, proas contra a corrente, incessantemente cortando as águas, a caminho do passado que não volta."


        terça-feira, 12 de agosto de 2014

        The Perks of Being a Wallflower, o livro e o filme


        "I walk around the school hallways and I look at the people. I look at the teachers and wonder why they're here. Not in a mean way. In a cusious way. It's like looking at all the students and wondering who's had their heart broken that day... Or wondering who did the heart breaking and wondering why."

        Quem está perto de mim o suficiente, sabe o quão me identifico com o que está ali escrito. Esse é um dos pontos mais positivos desta obra, o facto de quem a lê se poder identificar com ela, o que a poderia levar a cair em mais um clichê, mas, na minha opinião, tal não aconteceu. É mais uma história de adolescentes, mas com as suas particularidades.

        Neste livro de Stephen Chbosky, a história é contada através de cartas escritas pelo jovem Charlie, aluno do primeiro ano do ensino secundário, a um amigo anónimo. É uma história que acompanha a transição académica feita pelo personagem, assim como o seu crescimento. Charlie é, de facto, um wallflower, alguém que passa completamente despercebido.

        Ao iniciar o novo ano escolar, Charlie sente-se sozinho, especialmente devido ao suicídio do seu único verdadeiro amigo, Michael Dobson. Além dele, Charlie apenas teria estabelecido uma forte relação com a sua tia Helen, que também já tinha morrido.

        Entretanto, entram em cena dois personagens, Sam e Patrick, dois alunos mais velhos, com quem Charlie faz amizade, acabando por, inocentemente, se apaixonar por Sam. Com estes dois amigos, surgem mais alguns, que se acabam por tornar no grupo de amigos de Charlie. Com o decorrer do livro, são relatados certos acontecimentos, como as idas a festas, o consumo de drogas, a participação no Rocky Horror Picture Show e a primeira namorada, assim como a forte relação que Charlie estabelece com o seu professor de Inglês, que é quem acaba por lhe ir emprestando vários livros, aos quais este se refere (e ainda bem) nas suas cartas.

        "It's like he would take a photograph of Sam, and the photograph would be beautiful. And he would think that the reason the photograph was beautiful was because of how he took it . If I took it, I would know that the only reason it's beautiful is because of Sam."

        "I don't know if you've ever felt like that. That you wanted to sleep for a thousand years. Or just not exist. Or just not be aware that you do exist."


        Não vou dizer que este livro é uma obra-prima ao nível dos grandes clássicos. Nada disso. É um bom livro, que aborda temas interessantes, com uma boa história e personagens cativantes. Não podendo deixar de mencionar a enorme quantidade de referências a fantásticas músicas e livros, feitas pelo Charlie, nas suas cartas. Gastei muitos marcadores post-it para não me esquecer delas!


         Assim que acabei o livro, fui imediatamente ver o filme e não me desiludi. Isto, apesar de considerar que o livro é um pouco melhor, especialmente na maneira como são construídas as relações entre as personagens, nomeadamente entre o Charlie e Bill, o professor de Inglês.
        Contudo, no geral, achei um bom filme, com uma excelente banda sonora (ex: David Bowie, The Smiths, Sonic Youth, New Order) e boas imagens, referindo-me, especialmente, à cena em que o Charlie, a Sam e o Patrick passam pelo túnel, coisa que gostavam de fazer juntos para se sentirem "infinitos".

        Enfim, não é um filme digno de um Óscar, mas foi feito um bom trabalho.


        terça-feira, 5 de agosto de 2014

        Resenha: Pulp, Charles Bukowski


        "Desde Geoge Orwell que nenhum autor escrevia tão bem sobre quem vive à margem."
        New York Times

        As referências a Bukowski estão por todo lado, desde as séries televisivas, às conversas com amigos e aos canais literários. A curiosidade em relação à escrita deste autor foi crescendo tanto, que prometi a mim mesma que iria ler algo dele nas férias de Verão. Para isso, acabei por escolher Pulp, "a despedida do autor aos seus leitores e um romance de corajosa autocrítica" (contracapa).

        Pulp conta a história de Nick Belane, um detective de Los Angeles, alguém com uma enorme tendência para se meter em problemas, até mesmo quando as intenções iniciais são as melhores. Apesar de se poder considerar um detective de segunda categoria, Nick deteve uma série de casos nas suas mãos, ao longo do livro.

        Num dia de "calor infernal" e prestes a ficar sem casa, Nick recebe uma chamada de uma mulher, que se auto-intitula de "Senhora Morte", a qual pretende que este encontre um escritor francês, que, supostamente, estaria morto. Esta é a oportunidade perfeita para que Nick vagueie pelas ruas e bares da cidade e alimente a sua sede pelo álcool. Ao longo do livro, surge mais uma série de casos peculiares, que envolvem a procura de pássaros e, até mesmo, extraterrestres.

        Posso dizer que passei um bom bocado com este livro. Vou, certamente, ler mais de Bukowski. A escrita dele agrada-me, porque é honesta e crua. Bukowski não se preocupou, definitivamente, em agradar as massas e, por isso mesmo, acho que este é um autor que ou se ama, ou odeia. Confesso que, inicialmente, talvez pelas grandes expectativas que criei em relação ao autor, o livro não me estava a cativar tanto quanto esperava, mas com decorrer da história não o consegui largar. Ri muito, senti-me triste pelo Nick, mas acabei por adorar o livro. Acho que é uma boa maneira de conhecer o autor e recomendo.

        "Levantei-me e fui à casa de banho. Odiava olhar-me ao espelho mas foi o que fiz. E vi a depressão e a derrota. Papos descaídos e escuros por baixo dos olhos. Pequenos olhos cobardes, olhos de um roedor encurralado por um gato. A minha carne estava com aspecto de não se dar ao trabalho. Parecia odiar fazer parte de mim." (Pulp, Charles Bukowski, tradução de Vasco Gato, Objectiva, p. 103)

        "De maneira que ali estava eu. Sentado, a ouvir a chuva. Se morresse naquele instante não haveria uma única lágrima vertida em parte nenhuma do mundo. Não que eu desejasse isso. Mas era estranho. A que solidão pode um otário chegar?" (Pulp, Charles Bukowski, tradução de Vasco Gato, Objectiva, p. 200)