sábado, 10 de julho de 2021

The Days of Abandonment, Elena Ferrante

Já tinha lido Elena Ferrante, mas contrariamente à maioria, a tetralogia da Amiga Genial não me prendeu. Li apenas os dois primeiros livros e até gostei, mas não foi ao encontro das minhas expectativas, que estavam bem lá em cima. Ainda assim, e apesar de já ter passado algum tempo, ainda gostava de ler os restantes livros. Um dia, quem sabe... 

A vontade para ler "The Days of Abandonment" surgiu também pela influência de outras pessoas que o foram lendo e que falavam dele como um livro que ilustrava de uma forma real e crua o sofrimento de uma mulher após a separação do marido. Quem me conhece, sabe que os livros que melhor me apanham são aqueles que abordam as emoções mais intensas, a dor e o sofrimento. E este apanhou-me.

O livro é contado na primeira pessoa pela Olga, que de forma completamente inesperada, é deixada pelo marido, Mario. Este decide deixá-la sem qualquer explicação, juntamente com os dois filhos e um cão. A partir daí, acompanhamos a Olga nos seus dias de abandono, entrando completamente na sua cabeça, recheada de dor, sofrimento, raiva e muitos pensamentos doentios. Quem não conhecer o sofrimento humano ou a ele não for suficientemente sensível, facilmente a julgará, especialmente por tudo o que vai acontecendo, a forma como vai perdendo o controlo e como tudo vai tendo impacto em si, nos filhos e em tudo ao seu redor. 

Para mim, a sensação ao ler este livro foi de asfixia, dor e desespero. Enquanto tenta fugir da imagem interna da "poverella", a mulher da sua vizinha que enlouqueceu após o abandono do marido durante a sua infância, Olga atravessa um período extremamente difícil em que tenta fugir de si mesma, ao ponto de quase não ter retorno. Desde a negação e da necessidade de respostas, à procura de culpados, à raiva e à procura de quem é além daquela relação. Tudo isto com duas crianças pequenas, um cão e uma casa para cuidar.

A forma como Elena Ferrante escreveu esta mulher deu-lhe vida no meu imaginário. É impressionante a maneira como a sua escrita entra de forma profunda nos meandros da mente desta mulher e nos marca. Foi difícil conhecer um sítio tão sombrio e espreitar o abismo. Mas ler livros para mim também é isso, espreitar o abismo das experiência humanas e conhecer melhor o que é isto de ser pessoa.