domingo, 1 de agosto de 2021

A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, Svetlana Alexievich

 

Não, não recomendo este livro a toda a gente, embora ache que mais pessoas o deveriam ler. Vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2015, a escrita da Svetlana Alexievich é daquelas que mexe com as nossas entranhas e que nos transforma. É uma escrita que claramente assume uma missão desde o início do livro e que a cumpre até ao final.

Em "A Guerra não tem rosto de mulher" somos apresentados a um lado da História que ficou escondido, mas nunca esquecido - o papel da mulher do Exército Vermelho na 2ª Guerra Mundial (ou a Grande Guerra Patriótica, como foi denominada na antiga URSS). A missão na qual esta escrita embarca é precisamente essa de nos contar a guerra do ponto de vista das muitas mulheres que nela participaram e que vai muito além da versão que conhecemos nos filmes de ação, cheios de condecorações, medalhas e heróis.

É um livro cheio de testemunhos de mulheres reais, que participaram de diversas formas nesta guerra em defesa da sua pátria. Falam-nos do que sentiram antes, durante e depois, do que pensavam e de como se viam enquanto mulheres numa guerra que não estava preparada para elas. Falam-nos da dor, do sangue, do sofrimento e do desespero. Falam-nos do que as motivava a ir para a frente, do que deixaram para trás e do que restou depois de tudo isso - em muitos dos casos não tinha restado nada.

É um livro muito duro e que me marcou profundamente. Sendo eu de uma geração que nunca viveu a guerra na primeira pessoa, é muito fácil cair no distanciamento emocional de algo que acontece lá longe no tempo e/ou no espaço. Este livro traz estas vozes e este sofrimento, completamente ainda em carne viva, para mais perto de nós e é enfrentar isso e aceitá-lo como real e possível que torna esta experiência de leitura em algo tão marcante. Ninguém deveria passar por algo tão horrendo.