domingo, 29 de novembro de 2020

Great Expectations, Charles Dickens

Mais um livro de Charles Dickens lido e, desta vez, consegui enquadrá-lo na maratona literária #victober. Tinha o "Great Expectations" na estante à minha espera há muitos anos e as expectativas eram elevadas, dado que é conhecido como uma das suas principais obras-primas. Quem me conhece, sabe que adoro livros escritos na época vitoriana e que o ambiente neles criados é sempre uma zona de conforto para mim. Portanto, entrei nesta leitura como quem entra em casa, embora não possa deixar de dizer que tive algumas dificuldades em ambientar-me à escrita, visto que li este livro no original. Talvez por isso não tenha sentido tanta aquela dinâmica do contador de histórias, que tanto associo aos narradores criados pelo Charles Dickens. Ainda assim, adorei esta leitura.

Este é considerado um romance de formação, sendo que conhecemos o protagonista quando é ainda uma criança e o acompanhamos ao longo do seu desenvolvimento até à idade adulta e seguimos a sua formação enquanto pessoa. Este protagonista é tratado por Pip e surge-nos numa primeira cena em que está no cemitério a visitar a campa dos pais. E quando lerem este livro, fixem bem este momento, porque além de nos dar muito a conhecer sobre o Pip e a sua condição social - órfão e de famílias pobres - vai ser um momento importante a revisitar ao longo da sua vida. Nesta primeira cena, Pip é surpreendido por um fugitivo, que o assalta e lhe diz que no dia seguinte lhe terá que levar comida e uma lima, de maneira a alimentar-se e poder fugir.

Depois disto, Pip segue a sua vida e torna-se aprendiz de ferreiro com o marido da irmã, com quem tem uma relação de grande amizade. É com eles que vive e sempre a sentir-se mal, como se ali vivesse por favor, como lhe faz questão de deixar bem vincado pela irmã, que o maltrata. 

As questões da classe social são bem marcadas nesta obra, especialmente quando Pip é convidado a passar algum tempo na mansão de Miss Havisham, que traz um excelente elemento gótico para esta história. Para mim, esta personagem é uma personificação do passado, dos assuntos inacabados e dos lutos por fazer. A sua figura assemelha-se claramente a um fantasma, não só pela descrição que nos é feita, mas também pela sua casa, onde os relógios pararam e onde temos uma sala com um banquete da sua festa de casamento, com toda a comida apodrecida.

Com Miss Havisham vive a sua filha adotiva, Estella, com quem Pip fica maravilhado pela sua beleza e "estatuto", embora seja uma personagem pretensiosa, fria e calculista, que o faz sentir-se rejeitado e inferior. Contudo, é com ela que ele ambiciona ficar, vivendo a sua vida nesta expectativa.

A certa altura, Pip recebe a notícia que alguém lhe terá deixado uma herança e que deve seguir para Londres, de maneira a ser educado como um verdadeiro cavalheiro. Embora lhe tenha sido dito que o nome do seu benfeitor permanecerá secreto e que não deve especular sobre isso, Pip convence-se que se trata de Miss Havisham, alimentando assim a sua esperança de ter sido escolhido por ela como potencial marido de Estella.

Ao longo do livro, vamos acompanhando o desenvolver dos acontecimentos e vamos percebendo a forma como tudo isto vai levando à revelação do caráter de Pip, que cada vez mais se vai distanciando das suas origens, rejeitando associar-se à humildade da sua família. E a forma como Dickens dá um desfecho a esta história e trata esta personagem é brilhante, levando-nos a refletir sobre o dilema entre o ter e o ser, sobre o que é mais importante e o que é que realmente vale a pena.