terça-feira, 5 de agosto de 2014

Resenha: Pulp, Charles Bukowski


"Desde Geoge Orwell que nenhum autor escrevia tão bem sobre quem vive à margem."
New York Times

As referências a Bukowski estão por todo lado, desde as séries televisivas, às conversas com amigos e aos canais literários. A curiosidade em relação à escrita deste autor foi crescendo tanto, que prometi a mim mesma que iria ler algo dele nas férias de Verão. Para isso, acabei por escolher Pulp, "a despedida do autor aos seus leitores e um romance de corajosa autocrítica" (contracapa).

Pulp conta a história de Nick Belane, um detective de Los Angeles, alguém com uma enorme tendência para se meter em problemas, até mesmo quando as intenções iniciais são as melhores. Apesar de se poder considerar um detective de segunda categoria, Nick deteve uma série de casos nas suas mãos, ao longo do livro.

Num dia de "calor infernal" e prestes a ficar sem casa, Nick recebe uma chamada de uma mulher, que se auto-intitula de "Senhora Morte", a qual pretende que este encontre um escritor francês, que, supostamente, estaria morto. Esta é a oportunidade perfeita para que Nick vagueie pelas ruas e bares da cidade e alimente a sua sede pelo álcool. Ao longo do livro, surge mais uma série de casos peculiares, que envolvem a procura de pássaros e, até mesmo, extraterrestres.

Posso dizer que passei um bom bocado com este livro. Vou, certamente, ler mais de Bukowski. A escrita dele agrada-me, porque é honesta e crua. Bukowski não se preocupou, definitivamente, em agradar as massas e, por isso mesmo, acho que este é um autor que ou se ama, ou odeia. Confesso que, inicialmente, talvez pelas grandes expectativas que criei em relação ao autor, o livro não me estava a cativar tanto quanto esperava, mas com decorrer da história não o consegui largar. Ri muito, senti-me triste pelo Nick, mas acabei por adorar o livro. Acho que é uma boa maneira de conhecer o autor e recomendo.

"Levantei-me e fui à casa de banho. Odiava olhar-me ao espelho mas foi o que fiz. E vi a depressão e a derrota. Papos descaídos e escuros por baixo dos olhos. Pequenos olhos cobardes, olhos de um roedor encurralado por um gato. A minha carne estava com aspecto de não se dar ao trabalho. Parecia odiar fazer parte de mim." (Pulp, Charles Bukowski, tradução de Vasco Gato, Objectiva, p. 103)

"De maneira que ali estava eu. Sentado, a ouvir a chuva. Se morresse naquele instante não haveria uma única lágrima vertida em parte nenhuma do mundo. Não que eu desejasse isso. Mas era estranho. A que solidão pode um otário chegar?" (Pulp, Charles Bukowski, tradução de Vasco Gato, Objectiva, p. 200)

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