terça-feira, 26 de agosto de 2014

Resenha: Se Eu Ficar, Gayle Forman

Bem, já que o filme vai estrear no final deste mês e eu estava com alguma vontade de uma leitura mais leve, decidi ler este livro da escritora Gayle Forman

Em Se Eu Ficar, a história é contada na primeira pessoa pelo personagem principal, Mia, uma jovem que sofre um acidente de viação com os seus pais e o seu irmão mais novo.
O aspecto interessante da história é que Mia tem toda uma experiência fora do seu corpo, assistindo e descrevendo todo o acidente, bem como o caos causado por este. Mia depara-se no local do acidente com o seu corpo inanimado no chão, bem como os  dos seus pais, claramente mortos, mas sem sinal do seu irmão.

Já no hospital e em coma, Mia vai-se apercebendo de tudo, ainda que ninguém a consiga ver. Toda a família vai chegando e Mia inquieta-se em relação ao seu namorado Adam, que ainda não saberia o que tinha acontecido. (E este foi um aspecto que me irritou bastante. Tento colocar-me no lugar de Mia e percebo que ela quisesse ver o seu namorado, mas os pais acabaram de morrer e ela nem sabe onde, nem como está o irmão... Não gosto muito do facto de a história estar tão centrada na relação dela com o seu namorado, especialmente, tendo em conta tudo o que se estava a passar à sua volta.)

Ao longo do livro, Mia vai relembrando alguns episódios da sua vida, da sua relação com os pais e com a música, o nascimento do irmão e o seu relacionamento com o seu namorado e a sua melhor amiga Kim.
No hospital, uma enfermeira acaba por fazer com que Mia se aperceba que tudo depende dela e que terá que decidir se quer ficar e viver com aquilo que lhe resta, ou se quer desistir e morrer. 

Este livro é, portanto, a história de uma adolescente que se vê perante a dificílima decisão de escolher entre viver uma nova vida, completamente diferente da antiga, na qual terá que lidar com grandes perdas, ou morrer e deixar o namorado, os amigos e o resto da sua família.

"Mas ele não vai voltar. Sei que é inútil. Desisto e arrasto-me de volta para a UCI. Quero quebrar as portas automáticas. Esmurrar o balcão das enfermeiras. Quero que tudo se acabe. Quero o meu fim. Não quero ficar aqui. Não quero este hospital. Não quero ficar neste estado suspenso em que posso ver as coisas a acontecer e tenho consciência do que estou a sentir, sem, de facto, sentir. Não posso gritar até sentir a minha garganta doer, nem partir a janela com o meu punho até ver a minha mão sangrar, nem puxar os meus cabelos até que a dor ultrapasse aquela que sinto no meu coração."

Considero que este é um livro razoável, que se lê rapidamente, com uma história interessante, mas com muito pouco desenvolvimento. Já vi várias pessoas dizerem o quanto adoraram o livro, por isso esta minha opinião surge por causa do meu gosto e não quer, necessariamente, dizer que não seja um bom livro. Sei que existe um segundo livro, com a continuação da história, mas, sinceramente, para já, não sinto a necessidade de o ler.
Agora vamos lá ver como vai ficar o filme.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Resenha: O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald


"Era eu rapaz e, ainda impressionável, quando o meu pai me deu um conselho que, desde então, ficou às voltas na minha cabeça. Disse ele:
- Quando te sentires com vontade de criticar alguém, lembra-te disto: nem todos tiveram neste mundo as vantagens que tu tiveste."

É assim que começa o mais aclamado livro de F. Scott Fitzgerald. A história decorre no Verão de 1922, num cenário americano pós-guerra e é narrada por Nick Carraway, um aristocrata falido, acabado de mudar para Long Island.

Nick descobre que é vizinho do anfitrião das maiores e mais concorridas festas de Nova Iorque, Jay Gatsby. Este é o protagonista da história e é-nos apresentado como alguém bastante popular pelas suas festas espalhafatosas, mas que acaba por não ser verdadeiramente conhecido por ninguém. As pessoas simplesmente aparecem nas festas, sem o conhecerem e sem alguma vez o terem visto. Assim, Jay e o seu misterioso passado acabam por ser tema de conversas e a sua grande fortuna, cuja origem é desconhecida, é alvo de grandes especulações.

Nick Carraway, o nosso narrador, é primo de Daisy Buchanan, que é casada com o infiel Tom Buchanan e amiga de Jordan Baker. É através de Jordan que Nick fica a saber que a sua prima e Gatsby já se conheciam e que o seu vizinho pretendia que este a convidasse a ir a sua casa tomar chá, de modo a ser surpreendida por Gatsby. Depois de Nick aceitar e enviar o convite à sua prima, Gatsby dá início a uma série de trabalhos de modo a preparar e embelezar tudo, com o claro objectivo de surpreender e maravilhar Daisy. 

Afinal Gatsby teria tido um passado com Daisy antes de ser enviado para a guerra. Ao voltar e ver o amor da sua vida perdido para Tom Buchanan, um homem bastante rico, Gatsby faz do objectivo da sua vida enriquecer, de modo a atrair, de novo, Daisy, mostrando-lhe como a sua vida melhorou e aquilo que agora lhe poderá dar. (Esforço nada merecido por Daisy, na minha opinião.)

Este livro acaba por retratar o cenário americano dos loucos anos vinte, realçando as festas, o materialismo, os excessos e a forte importância dada ao dinheiro. É um curto clássico com uma boa história, um protagonista bastante interessante e uma mensagem e crítica social intemporais.

"O oficial olhava para a Daisy, enquanto ela falava, da maneira que todas as raparigas gostam de ser olhadas algum dia, e o incidente ficou-me gravado porque me pareceu muito romântico." 

"Gatsby acreditara na luz verde, no orgíaco futuro que, ano após ano, foge e recua diante de nós. Se hoje nos iludiu, pouco importa; amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... Até que uma bela manhã...
Assim vamos teimando, proas contra a corrente, incessantemente cortando as águas, a caminho do passado que não volta."


terça-feira, 12 de agosto de 2014

The Perks of Being a Wallflower, o livro e o filme


"I walk around the school hallways and I look at the people. I look at the teachers and wonder why they're here. Not in a mean way. In a cusious way. It's like looking at all the students and wondering who's had their heart broken that day... Or wondering who did the heart breaking and wondering why."

Quem está perto de mim o suficiente, sabe o quão me identifico com o que está ali escrito. Esse é um dos pontos mais positivos desta obra, o facto de quem a lê se poder identificar com ela, o que a poderia levar a cair em mais um clichê, mas, na minha opinião, tal não aconteceu. É mais uma história de adolescentes, mas com as suas particularidades.

Neste livro de Stephen Chbosky, a história é contada através de cartas escritas pelo jovem Charlie, aluno do primeiro ano do ensino secundário, a um amigo anónimo. É uma história que acompanha a transição académica feita pelo personagem, assim como o seu crescimento. Charlie é, de facto, um wallflower, alguém que passa completamente despercebido.

Ao iniciar o novo ano escolar, Charlie sente-se sozinho, especialmente devido ao suicídio do seu único verdadeiro amigo, Michael Dobson. Além dele, Charlie apenas teria estabelecido uma forte relação com a sua tia Helen, que também já tinha morrido.

Entretanto, entram em cena dois personagens, Sam e Patrick, dois alunos mais velhos, com quem Charlie faz amizade, acabando por, inocentemente, se apaixonar por Sam. Com estes dois amigos, surgem mais alguns, que se acabam por tornar no grupo de amigos de Charlie. Com o decorrer do livro, são relatados certos acontecimentos, como as idas a festas, o consumo de drogas, a participação no Rocky Horror Picture Show e a primeira namorada, assim como a forte relação que Charlie estabelece com o seu professor de Inglês, que é quem acaba por lhe ir emprestando vários livros, aos quais este se refere (e ainda bem) nas suas cartas.

"It's like he would take a photograph of Sam, and the photograph would be beautiful. And he would think that the reason the photograph was beautiful was because of how he took it . If I took it, I would know that the only reason it's beautiful is because of Sam."

"I don't know if you've ever felt like that. That you wanted to sleep for a thousand years. Or just not exist. Or just not be aware that you do exist."


Não vou dizer que este livro é uma obra-prima ao nível dos grandes clássicos. Nada disso. É um bom livro, que aborda temas interessantes, com uma boa história e personagens cativantes. Não podendo deixar de mencionar a enorme quantidade de referências a fantásticas músicas e livros, feitas pelo Charlie, nas suas cartas. Gastei muitos marcadores post-it para não me esquecer delas!


 Assim que acabei o livro, fui imediatamente ver o filme e não me desiludi. Isto, apesar de considerar que o livro é um pouco melhor, especialmente na maneira como são construídas as relações entre as personagens, nomeadamente entre o Charlie e Bill, o professor de Inglês.
Contudo, no geral, achei um bom filme, com uma excelente banda sonora (ex: David Bowie, The Smiths, Sonic Youth, New Order) e boas imagens, referindo-me, especialmente, à cena em que o Charlie, a Sam e o Patrick passam pelo túnel, coisa que gostavam de fazer juntos para se sentirem "infinitos".

Enfim, não é um filme digno de um Óscar, mas foi feito um bom trabalho.


terça-feira, 5 de agosto de 2014

Resenha: Pulp, Charles Bukowski


"Desde Geoge Orwell que nenhum autor escrevia tão bem sobre quem vive à margem."
New York Times

As referências a Bukowski estão por todo lado, desde as séries televisivas, às conversas com amigos e aos canais literários. A curiosidade em relação à escrita deste autor foi crescendo tanto, que prometi a mim mesma que iria ler algo dele nas férias de Verão. Para isso, acabei por escolher Pulp, "a despedida do autor aos seus leitores e um romance de corajosa autocrítica" (contracapa).

Pulp conta a história de Nick Belane, um detective de Los Angeles, alguém com uma enorme tendência para se meter em problemas, até mesmo quando as intenções iniciais são as melhores. Apesar de se poder considerar um detective de segunda categoria, Nick deteve uma série de casos nas suas mãos, ao longo do livro.

Num dia de "calor infernal" e prestes a ficar sem casa, Nick recebe uma chamada de uma mulher, que se auto-intitula de "Senhora Morte", a qual pretende que este encontre um escritor francês, que, supostamente, estaria morto. Esta é a oportunidade perfeita para que Nick vagueie pelas ruas e bares da cidade e alimente a sua sede pelo álcool. Ao longo do livro, surge mais uma série de casos peculiares, que envolvem a procura de pássaros e, até mesmo, extraterrestres.

Posso dizer que passei um bom bocado com este livro. Vou, certamente, ler mais de Bukowski. A escrita dele agrada-me, porque é honesta e crua. Bukowski não se preocupou, definitivamente, em agradar as massas e, por isso mesmo, acho que este é um autor que ou se ama, ou odeia. Confesso que, inicialmente, talvez pelas grandes expectativas que criei em relação ao autor, o livro não me estava a cativar tanto quanto esperava, mas com decorrer da história não o consegui largar. Ri muito, senti-me triste pelo Nick, mas acabei por adorar o livro. Acho que é uma boa maneira de conhecer o autor e recomendo.

"Levantei-me e fui à casa de banho. Odiava olhar-me ao espelho mas foi o que fiz. E vi a depressão e a derrota. Papos descaídos e escuros por baixo dos olhos. Pequenos olhos cobardes, olhos de um roedor encurralado por um gato. A minha carne estava com aspecto de não se dar ao trabalho. Parecia odiar fazer parte de mim." (Pulp, Charles Bukowski, tradução de Vasco Gato, Objectiva, p. 103)

"De maneira que ali estava eu. Sentado, a ouvir a chuva. Se morresse naquele instante não haveria uma única lágrima vertida em parte nenhuma do mundo. Não que eu desejasse isso. Mas era estranho. A que solidão pode um otário chegar?" (Pulp, Charles Bukowski, tradução de Vasco Gato, Objectiva, p. 200)