terça-feira, 9 de setembro de 2014

Resenha: Não Matem a Cotovia, Harper Lee


A primeira coisa que tenho já a dizer é que adorei tanto este livro que se tornou num dos meus preferidos de sempre.
To Kill a Mockingbird é o livro da escritora Harper Lee, publicado em 1960 e vencedor do prémio Pulitzer e, ao lê-lo, percebo o porquê do prémio e de toda a fama deste livro.

Aviso, desde já, que não vou conseguir expressar aqui tudo o que este livro me passou, porque são abordados vários temas directa e indirectamente, além do principal que, diria eu, será o racismo.

A narrativa passa-se entre 1933 e 1935, em Alabama, no sul dos EUA. Um dos aspectos interessantes desta história é que ela é contada pelo ponto de vista de crianças, nomeadamente Jean-Louise, ou Scout, uma menina de seis anos, que vive com o irmão Jem, quatro anos mais velho, o seu pai Atticus, um advogado estimado por todos, e Calpurnia, uma mulher negra que sempre cuidou daquela família.

No início do livro, temos a descrição dos dias dos dois irmãos, Scout e Jem, com a companhia de Dill, um amigo que os visitava no Verão. Nesta parte do livro vamos conhecendo alguns personagens vizinhos desta família, desde senhoras simpáticas, que convidavam os três amigos a comer bolinhos em sua casa, a famílias misteriosas e alvo de um misto de medo e curiosidade por parte destas crianças, como os Radley.

Ao longo do livro e do passar do tempo, vamo-nos apercebendo do crescimento de Scout e do seu irmão, assim como da abertura das suas mentes. Onde esta família vivia, os negros continuavam a ser bastante discriminados e tratados inferiormente, servindo apenas para a realização de alguns trabalhos e, quanto mais longe estivessem, melhor. Sempre que um negro era acusado de algo, por norma, era imediatamente tido como culpado, sendo isso verdade ou não. Criada neste ambiente, é normal a primeira reacção de Scout, que entra em conflitos com alguns colegas da escola por estes dizerem que o seu pai é "amigo dos negros". 

Estas acusações dão-se pelo facto de Atticus ter sido chamado a defender um negro, acusado de violar uma rapariga, cargo que este não recusa por achar que todos merecem alguém que os defenda, independentemente da cor de pele, e por considerar que este homem pode estar a ser vítima de uma injustiça. O próprio modelo que Atticus é como pessoa, bem como os seus ideais e as suas conversas com Scout acabam por ser absolutamente deliciosas e as grandes responsáveis pelo crescimento, não só de Scout, mas também de Jem. É estranho, mas chego mesmo a sentir um grande orgulho por este homem e todos os valores que ele sempre prezou e procurou transmitir aos seus filhos.

Obviamente que não vou dizer como correu o julgamento, mas foi intenso... (Ah, pessoas de mente fechada... Que maravilha!)

Vou repetir-me, mas não importa, porque este livro é mesmo muito bom e devia ser lido por todos. É um livro que nos diz muito acerca das pessoas e da importância e impacto das crenças em estereótipos numa sociedade, o que, na minha opinião, ainda é e vai continuar a ser muito actual. As personagens são bastante cativantes, nomeadamente o grande Atticus Finch. Até mesmo a maneira como a história foi escrita, as descrições brilhantes das paisagens, o uso excelente dos recursos estilísticos...
É um livro que tem bastante conteúdo nas entrelinhas, o que é bastante intencional, ao ser uma história contada pelo inocente ponto de vista de uma criança. Enfim, leiam!


"- És ainda muito nova para compreender - disse ela -, mas por vezes a Bíblia, na mão de um homem, é pior do que uma garrafa de uísque na mão de... oh, do teu pai."

"Queria que tu visses uma coisa a respeito dela: queria que visses o que é a verdadeira coragem, para não julgares que a coragem é um homem de arma na mão. Coragem é, quando sabemos que estamos vencidos antes de começar, começarmos, apesar de tudo, e irmos até ao fim, aconteça o que acontecer."

"Todos conhecem a verdade, e a verdade é esta: alguns negros mentem, alguns negros são imorais, alguns homens negros são perigosos e indignos de confiança junto de mulheres - brancas ou negras. Mas esta é uma verdade que se aplica a todo o género humano, e não especialmente a qualquer raça de homens."


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