sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago

Mais um Saramago. E que livro este! "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" destronou "Memorial do Convento" no lugar de favorito do autor, embora este continue a ter um cantinho especial. Não sabia bem o que esperar, além de uma escrita muito inteligente, cheia de simbolismo e sarcasmo, e das críticas e reflexões muitas vezes subjacentes às obras deste autor. E isto já era mais que suficiente, embora tivesse aqui um bichinho de curiosidade, deixado cá pela minha professora de Português do ensino secundário, que falou da polémica que envolveu este livro na altura do seu lançamento. Afinal de contas, é um livro sobre Jesus Cristo, escrito por alguém que é ateu.

E se o título não fosse sugestivo o suficiente, esta é a história de Jesus Cristo contada na sua perspetiva, onde ele é o protagonista e é um ser humano. Começa precisamente com os seus pais, no momento da sua conceção, que nos é apresentada a partir da descrição de uma pintura. A partir daí, acompanhamos o crescimento de Jesus, desde a sua infância com vários irmãos, à adolescência e aprendizagem do ofício de carpinteiro. Acompanhamos Jesus na morte do seu pai José, na busca pelo autoconhecimento e pelo entendimento da fé. Vamos com ele quando sai de casa, conhecemos o romance com Maria de Magdala e o pastor com quem passa uma temporada no deserto. Isto sempre acompanhado das suas dúvidas, angústias e toda a sua busca por compreender quem é, que legado lhe foi deixado por José e, por outro lado, os seus questionamentos em relação a Deus e o Diabo, ao bem e ao mal. É incrível...

Este livro tem vários momentos muito bons e que me vão ficar na memória durante momento tempo, principalmente as questões ligadas a Deus e o Diabo e como os dois se fundem. Aquela cena no mar... Ah! Que soberbo. O cérebro deste senhor devia ser um sítio incrível para explorar. Que saudades... Ele desejava que continuasse a haver tempo para escrever e eu desejo que o tempo continue para poder ler os que ele nos deixou.

sábado, 2 de janeiro de 2021

O Velho e o Mar, Ernest Hemingway

Decidi ter o meu primeiro contacto com a escrita de Ernest Hemingway através de "O Velho e o Mar", já que ouvia falar tão bem dele e, na verdade, vinha mesmo a calhar para iniciar o clube de leitura que tenho andado a desenvolver.

Acredito que as opiniões que fui vendo por aí me tenham também elevado muito as expectativas, mas a verdade é que não adorei este livro. Passei a gostar mais depois de terminar, deixar assentar um bocadinho e depois da discussão em grupo, mas até metade do livro senti que tinha que me forçar para o ler. Muitas outras pessoas têm uma opinião diferente, por isso creio que isto se deva ao facto de não adorar a escrita tão seca e objetiva do Hemingway. O que também pode agradar a outros, visto que é um livro que se lê muito facilmente e vai straight to the point.

Sendo um livro tão curto, não faz sentido revelar muito acerca da narrativa. Aqui conhecemos a história deste homem, já com uma idade bastante avançada (embora isso não seja especificado), cujo sustento é a sua profissão de pescador, mas que já não pesca há 85 dias. Percebemos que as condições em que vive são miseráveis, embora ele nunca se queixe e tente esconder tudo isto (sem sucesso) do rapaz que é seu amigo e com quem costumava pescar. Apesar de não conseguir tirar nenhum peixe há tanto tempo, o velho não desiste e continua a sair para o mar, onde enfrenta uma batalha que quase lhe tira a vida.

É uma história sobre resiliência e sobre uma luta incessante pelo que se quer, apesar de todas as dificuldades. Para mim foi também sobre a forma como nos prendemos a coisas que nos vão desgastando e nos vão fazendo perder oportunidades.

Gostei do livro e das reflexões que me trouxe, embora não tenha adorado a escrita do autor. Tenciono ler mais alguma coisa dele, para perceber se realmente não funciona comigo ou se foi só desta vez.