quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Shirley, Charlotte Brontë

Demorou, mas foi lido! Hoje venho aqui deixar algumas ideias com que fiquei após a leitura de Shirley, da Charlotte Brontë. Da autora apenas tinha lido há uns anos o livro Jane Eyre, do qual gostei bastante. Na altura ainda não tinha este blog, então nunca cheguei a escrever a minha opinião acerca dele, mas foi um livro que me marcou por ter podido acompanhar a história de vida da Jane, protagonista. Nesse livro seguimos a vida dela desde a infância e vemo-la crescer e tornar-se numa mulher forte e com uma forma de ver o mundo, que é representativa das ideias feministas e inovadoras da Charlotte.

Em "Shirley", a história é diferente. Temos duas protagonistas, a Caroline (que conhecemos primeiro) e a Shirley e também aqui as ideias da Charlotte encontraram forma de respirar através das suas personagens. Nesta obra não acompanhamos vários anos na vida das protagonistas, ficando a narrativa circunscrita a um período mais curto. Nos primeiros capítulos apercebemo-nos do contexto social e político da época, caracterizado pelos primórdios da revolução industrial em Inglaterra e respetivas consequências, bem como pela desigualdade social. Durante algum tempo vamos acompanhando a resistência dos trabalhadores ao avançar da indústria e consequente perda de postos de trabalho, até começarmos a passar mais tempo com as personagens e a conhecê-las melhor.

Apesar do romance se intitular "Shirley", quem acompanhamos durante a parte inicial do livro é Caroline Helstone, uma jovem orfã que vive com o seu tio e vai revelando uma forma de pensar bastante irreverente e avançada para a sua época. Algumas dessas ideias relacionam-se com o papel da mulher na sociedade, nomeadamente no mundo do trabalho (a falar disto no século XIX!!!) e no casamento. Alguns dos seus diálogos são absolutamente deliciosos, assim como os que tem com Shirley, assim que esta surge na história e começamos a acompanhar a amizade entre as duas.

Em termos da narrativa, não entrem para este livro à espera de muita ação e de muitas coisas a acontecer o tempo todo. Senti este livro mais como um retrato de uma época e não tanto com o foco em contar a história de uma personagem como foi com Jane Eyre. Curiosamente, tanto em Jane Eyre como em Shirley, o meu ritmo de leitura foi semelhante, sendo que em ambos os casos comecei com uma leitura fluída e a meio senti um bloqueio e uma diminuição do interesse. Mas também nas duas vezes, depois de ultrapassada essa fase, a última metade do livro foi completamente devorada. É também nesta parte que senti que o livro adotou uma intensidade emocional maior, expressa nomeadamente através da zanga de Shirley e das revelações que foram feitas por diversos personagens.

Fiquei a questionar-me acerca do impacto que a vida pessoal da Charlotte teve durante a escrita deste livro, dado que nesse período e em menos de um ano perdeu três irmãos (Branwell, Emily e Anne). A certa altura apercebemo-nos que uma das personagens atravessa um período mais depressivo, pelo qual também Charlotte talvez tenha passado e que traz também ao livro uma representação de como era vista a doença mental na época vitoriana.

Adorava que a Charlotte tivesse sido um pouco mais arrojada com o final da história, mas é compreensível e acabou por ser satisfatório, especialmente considerando a época em que foi escrito. Até metade do livro, para mim estava a ser uma leitura mediana, mas depois da última metade tornou-se numa experiência muito boa! Não recomendo este livro a toda a gente, mas sim a quem se interessar pelo feminismo e por livros da época vitoriana. E no futuro... Pretendo ler as restantes obras da Charlotte Brontë, nomeadamente Villette, e eventualmente ressuscitá-la para sermos amigas na vida real. E pronto, é isso.