sábado, 25 de maio de 2019

Nossa Senhora de Paris, Victor Hugo

Bem, chegou a altura de tentar escrever alguma coisa com sentido acerca deste grande livro. Decidi lê-lo como forma de me introduzir à escrita do Victor Hugo, de quem tanto quero ler "Os Miseráveis". Sei que terá servido de base para o filme da Disney, "O Corcunda de Notre Dame", mas honestamente se cheguei a ver esse filme, não me lembrava de rigorosamente nada (o que até foi o melhor, porque entretanto já o vi e é bastante diferente da história original).

Ora, como começar? Trata-se de um livro publicado em 1831, mas com a ação a decorrer na cidade de Paris, em meados do século XV. Ou seja, penso que podemos considerá-lo como um livro de ficção histórica e, acima de tudo, como uma homenagem e um reavivar da memória quanto à Paris da Idade Média. Até porque penso que a intenção do Victor Hugo era mesmo essa. Ao ver as diversas mudanças que foram ocorrendo na cidade ao longo dos anos, com a demolição de vários edifícios, as novas correntes artísticas e todos os ataques que foram sendo feitos à Catedral de Notre Dame (que, na altura em que isto foi escrito, estava em risco de demolição), o autor sentiu a necessidade de relembrar como era a capital francesa antes de tudo isto.

Não quero contar muito sobre o enredo, até porque eu própria prefiro entrar nos livros e ir descobrindo a história por mim. Para quem conhece o filme, esqueçam o que viram. A história tem semelhanças, embora a versão da Disney seja muito mais leve, feliz e linear. 

Este é um livro onde é difícil escolher um protagonista, até porque não creio que exista. Temos por um lado a própria Catedral de Notre Dame, que tem um capítulo inteiro a si dedicado (e que eu adorei!) e que assume enorme importância nesta história, dado o papel que tem na vida dos personagens. É lá que vive Quasímodo, que tem com ela uma relação fusional, com os seus sinos e as suas gárgulas. Quasímodo, como sabem, é um homem bastante deformado fisicamente e surdo, tendo sido abandonado quando era ainda um bebé. Contrariamente ao filme, em que o arcediago Cláudio Frollo surge como um vilão horrível desde o início, no livro vemos este homem a querer ajudar e adotar Quasímodo (que, tristemente, fica com este nome por ser quase pessoa). Sensibilizado com o facto de ele próprio e do irmão terem ficado órfãos, salva o bebé Quasímodo do abandono e cuida dele. Daí que, mais tarde, seja tão difícil para Quasímodo lidar com os comportamentos maldosos do arcediago, que ele conheceu como uma pessoa bondosa e generosa.

Além destes, temos também personagens como o Febo, que é um excelente exemplar de péssimo carácter, embora no filme surja completamente diferente; e a Esmeralda, uma cigana que passa os dias a dançar na rua e que tem uma história fascinante no livro e que, provavelmente pelo seu lado mais negro e triste, não foi transmitida no filme. 
O livro começa com as pessoas a preparem-se para assistir a uma peça de teatro, que acaba por nunca ser apresentada, já que lá fora estão a eleger o rei dos bobos (evento que vemos no filme). No meio da algazarra toda, vão surgindo os vários personagens que iremos acompanhar ao longo da história e vamos assistindo à forma como cada um nos é apresentado. Vamos vendo logo por aqui alguma crítica social que o Victor Hugo aproveita para fazer e que vai continuando ao longo do livro e das situações moralmente desafiadoras em que vai colocando as personagens.

O final é completamente arrebatador! No filme vemos algo completamente diferente e quem apenas se baseou nele para conhecer esta história, não imagina como acabam realmente estes personagens... Ah... Ainda sinto a dor daquelas últimas páginas! 

Enfim, adorei este livro! Superou muito as minhas expectativas, embora só tivesse ouvido boas opiniões em relação a ele. Confesso que quando iniciei a leitura, tive algumas dificuldades com a escrita e em perceber o que se estava a passar, visto que entramos assim no meio de uma cena, numa época muito distante, cujos costumes e língua se diferenciam daquilo que melhor conhecemos. Mas essas estranheza inicial rapidamente desaparece, pelo que aconselho a que continuem a insistir, caso sintam o mesmo. Até porque vale muito a pena! Foi uma triste coincidência estar a lê-lo na altura em que a Catedral de Notre Dame teve um incêndio, mas acho que o trabalho que Victor Hugo começou com este livro (que salvou a catedral da demolição!), vai ter sempre a sua continuidade e a catedral vai arranjar sempre maneira de permanecer connosco. Tal como ele próprio diz:


"No rosto desta idosa rainha das nossas catedrais, ao lado duma ruga depara-se-nos sempre uma cicatriz. (...) Cada face, cada pedra do venerável monumento, é uma página, não só da história do país, como também da história da ciência e da arte."

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Filmes: Abril


Casablanca (1942)

Este é um clássico que estava na minha lista por ver há imensos anos. A ação decorre durante o período das invasões alemãs, aquando da 2ª Guerra Mundial. Conhecemos a história de um homem americano, o Rick Blaine (Humphrey Bogart), que se refugia em Casablanca (Marrocos), onde abre um bar, por onde passam várias pessoas que procuram a sua ajuda para voarem para Lisboa e daí fugirem para os Estados Unidos. A certa altura, surge neste bar uma mulher do seu passado, a Ilsa Lund (Ingrid Bergman), que vem acompanhada do marido e procura ajuda para ambos fugirem à Alemanha nazi.
Gostei muito do filme e do grande desempenho destes atores, mas a certa altura achei-o um bocadinho lento. Ainda assim, a história é interessante e tem cenas icónicas, algumas delas com diálogos que ficaram para sempre marcados na História do Cinema (ex: "We will always have Paris" ou "Here's looking at you, kid"). Valeu muito a pena, embora não se tenha tornado num dos meus filmes preferidos.




Still Alice (2015)

Já ando para ver este filme desde que saiu, mas fui adiando, talvez por ter uma temática que me é tão sensível. 
Nele conhecemos a Alice Howland (Julianne Moore), professora universitária, com uma vida familiar e profissional confortáveis. No início do filme acompanhamos o seu dia-a-dia, desde as aulas que dá na faculdade, até às suas corridas habituais e jantares com amigos. Até que começamos a perceber com ela, que algo não está bem. A memória começa a pregar-lhe partidas, como se num momento estivesse tudo bem presente, e de repente as palavras, lugares, memórias, se escondessem. Após a realização de alguns exames, aos 50 anos, é diagnosticada com a doença de Alzheimer de início precoce. Daí seguimos a forma como a doença vai evoluindo, qual o seu impacto na vida da Alice, do marido e dos filhos. 
Achei este filme arrebatador e a interpretação por parte da Julianne Moore é irrepreensível. O tema é trabalhado de uma forma respeitadora e delicada. Acho que é um filme difícil de ver, mas ao mesmo tempo é tão importante que seja visto. Hei-de rever, tenho a certeza!



About Time (2013)

Já tinha visto o poster deste filme pela internet e nunca me chamou a atenção, mas recentemente vi uma imagem que juntava no mesmo local em Paris personagens do Midnight in Paris, do Before Sunrise e deste filme. Ora... Tendo em consideração que adoro os outros dois filmes, pareceu-me bem ir ver porque é que este estava junto com eles naquela referência.
Fiz tão bem! Adorei o filme e ainda mais o seu final. Não querendo dizer muito acerca da história, temos como protagonista o Tim Lake (Domhnall Gleeson) que no dia em que faz 21 anos, descobre que os homens da sua família têm a capacidade de viajar no tempo. Eu sei... Soa muito nhé... Mas juro que vale a pena! Esta capacidade é limitada a voltar a momentos já vividos pelo próprio, ou seja, não era possível voltar atrás e matar o Hitler, por exemplo. Neste sentido, Tim vai utilizando este poder conforme lhe faz sentido,  geralmente para modificar pequenos erros ou frases que não devia ter dito. Eventualmente, num blind date, conhece a Mary (Rachel McAdams), por quem se apaixona. A partir daqui, surgem algumas viagens no tempo e as suas consequências, que levam no final a uma conclusão fantástica, que me deixou a pensar e que ficou comigo bem depois do filme ter terminado. Gostei muito e recomendo!



Pára-me de repente o pensamento (2014)

No final do mês, andei com vontade de ver documentários e acabei por escolher este filme português. Já tinha ouvido falar nele há uns tempos, mas nunca mais me tinha lembrado, então quando comecei a ver sabia muito pouco do que se tratava, apenas que tinha a ver com saúde mental. 
Neste documentário realizado pelo português Jorge Pelicano, acompanhamos o dia-a-dia de alguns utentes internados no Centro Hospitalar Conde de Ferreira, uma unidade dedicada à saúde mental, no Porto. Conhecemos algumas pessoas, como passam os seus dias, as relações que estabelecem e as conversas que têm, quase como se estivéssemos ali com eles. A certa altura surge o ator Miguel Borges, que procura inteirar-se da realidade da esquizofrenia para a interpretação de um papel no teatro. A forma como este processo vai decorrendo é fascinante de assistir, principalmente quando surgem as referências a Ângelo de Lima, poeta e pintor, que também ele teve esquizofrenia e cuja obra abre portas a uma melhor compreensão da mente esquizofrénica. Achei um bom documentário, sobre as pessoas que estão lá além da doença. Recomendo especialmente para quem se interessar pelo tema.