quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Stoner, John Williams


Stoner é um daqueles livros em que mais do que a história, importam as personagens. Ao entrarem nele, nem vale a pena esperarem pelo grande clímax, porque não acontece. Não é um livro de ação, nem me parece que tenha sido escrito com o propósito de enaltecer os feitos de alguém. Neste, conhecemos William Stoner, um homem normal, que vive uma vida normal (embora, para mim, muito interessante).

Estamos no início do século XX e William Stoner é incentivado a ir para a universidade, no sentido de estudar Agricultura e poder contribuir para o trabalho dos pais no campo. Segue para a Universidade de Missouri, onde a vida lhe dá umas voltas e se apaixona pela Literatura, acabando por trocar de curso e mudar os seus objetivos de vida. 
Passamos muito tempo da narrativa em ambiente académico, o que me agradou muito desde o início, que já tenho saudades desses tempos.

Acompanhamos os seus dias e a forma como vai percebendo o mundo que o rodeia. Seguimos a sua vida como professor universitário, colega, amigo, marido e pai. Passamos com ele por duas grandes guerras, por decisões que vão sendo tomadas por si e pelos outros e qual o impacto das mesmas.

A sensação com que fui ficando sempre ao longo do livro é muito estranha e é-me difícil explicar. Não acontece nada de especial, mas adorei acompanhar a vida deste protagonista. A forma como o livro foi escrito também é bastante cativante, ainda mais para quem adora ler! Há passagens deliciosas em que inevitavelmente nos revemos, como esta:

"Sometimes, immersed in his books, there would come to him the awareness of all that he had not know, of all that he had not read; and the serenity for which he labored was shattered as he realized the little time he had in life to read so much, to learn what he had to know."

No dia em que terminei a leitura, disse que o aftertaste deste livro tinha sabor a melancolia e continuo a sentir o mesmo, embora não considere que a história de vida de William Stoner tenha sido particularmente triste. Era uma pessoa mais introvertida e solitária - e é curioso como penso nele como uma pessoa real, o que só revela o quão bem construída foi esta personagem. Sinto que esta melancolia talvez venha de ter sentido que a vida dele ficou por vezes aquém do que ele desejava e que, apesar de tudo, sempre imperou muito a solidão.

Foi sem dúvida um dos livros que mais me marcou este ano e do qual me vou lembrar muitas vezes, de certeza. Se tivesse que comparar a alguma coisa o sentimento com que fiquei depois de o ler, seria à forma como me senti no final do filme "La La Land", embora não tenham rigorosamente nada a ver um com o outro. Mas refiro-me àquela sensação "pois... é isto, não é?".