sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Madona, Natália Correia

Para um livro com menos de 200 páginas, acho que demorei bastante tempo a terminar esta leitura. Não conheço ninguém que o tenha lido, mas gostava, para poder trocar opiniões... Escolhi lê-lo, depois de ter ouvido falar da nova série da RTP (3 Mulheres), onde uma das personagens é a Natália Correia, interpretada pela Soraia Chaves. Só conhecia esta senhora pelo nome, então pesquisei sobre ela e aquilo que li despertou-me muito interesse, nomeadamente a intervenção dela no panorama cultural português. Por isso, decidi conhecer a obra dela e comecei por este livro, do qual não sabia rigorosamente nada.

Penso que demorei imenso tempo a lê-lo, por causa da minha relação com a escrita da Natália Correia. É uma escrita nada linear, com muitos ornamentos, figuras de estilo e algum fluxo de consciência, o que tornou a narrativa pouco clara para mim, especialmente durante a primeira metade do livro. Um lado positivo é que tem passagens muito bem conseguidas, que criam imagens bonitas na cabeça do leitor, como esta: "Uma onda de longínquos sinos, empurrada por um vento leve, quebrava-se nos rochedos num cantante estilhaçar de vidros."

Ainda assim, na primeira parte do livro, tive imensa dificuldade em perceber o que estava a acontecer e em que espaço e tempo é que o narrador nos estava a colocar, talvez por causa do uso excessivo da analepse e prolepse. Provavelmente terá a ver com uma questão de gosto pessoal e com a forma como o próprio escritor constrói a história recorrendo a estas ferramentas, mas sinto que nem sempre foi bem conseguido. Porque, embora na segunda metade do livro, algumas pontas soltas se comecem a atar e alguns aspetos fiquem mais claros, sinto que perdi muito do que li na primeira parte.
Por isso, este é provavelmente um livro que deveria reler, para poder voltar lá atrás e apanhar aquilo que me escapou. Ainda assim, não tenho muita vontade de voltar a passar por aquela teia toda emaranhada tão cedo. Mas hei-de voltar! (Um dia...)

Um aspeto que me foi muito útil a certa altura, foi ter pesquisado uma síntese deste livro. Ajudou-me a criar uma base para perceber mais ou menos a linha narrativa que estaria por debaixo deste floreado. Por isso, acho útil dizer algumas coisas sobre a história, para quem quiser levar daqui um mapa antes de ler este livro.

A personagem principal desta história é a Branca, uma jovem natural de Briandos, que sai de Portugal após a polémica morte do pai. Daí parte para o mundo, passando por várias capitais europeias e colhendo em cada uma delas alguma da irreverência e liberdade, nada típicas de Portugal dos anos 60. Um dos temas deste livro parece ser esse contraste entre o panorama rural português, particularmente dotado de machismo, e a efervescência e crescimento de cidades como Paris. A personagem está constantemente dividida entre estes dois cenários, o que é notável ao longo da escrita, pois vai saltitando entre os dois.

E dividida está também a minha opinião, dado que cheguei a pensar em desistir desta leitura. No entanto, sinto que fiz bem em insistir até ao fim, visto que acabei por gostar (o que é visível pela quantidade de anotações). Os pontos fortes deste livro, além da escrita poética da Natália Correia (que por vezes pode tornar-se um pouco hermética e deixar de ser um ponto assim tão positivo), é a crítica social e a forma como explora o papel da mulher na sociedade e na relação consigo mesma. Destaco o momento de "lucidez" da mãe de Branca, após tomar conhecimento do adultério do marido; e os momentos de apreciação e reflexão acerca do próprio corpo por parte de Branca, que é vivido com grande ambivalência. O próprio rumo que a vida de Branca levou é algo bastante irreverente, não só com a saída de Portugal, mas também a forma como viveu as relações que teve, recusando-se a ser a mulher submissa, que serve apenas para obedecer ao marido, cozinhar, casar e ter filhos.

Este é um livro que trabalha temas relacionados com o papel da mulher, que são ainda hoje muito importantes e necessários, especialmente em Portugal. Tendo sido publicado em 1968, é de um valor ainda mais acrescido, dado o contraste entre a forma como a mulher é nele retratada e como esta se comportava na realidade de um país conservador e sob uma ditadura. Tenho a certeza que um dia o irei reler e recomendo, embora reconheça que não será um livro que vai agradar a todas as pessoas.

Quanto à série "3 Mulheres", disponível no site RTP Play, embora ainda não tenha terminado de assistir a todos os episódios, esta é uma janela para essa mesma irreverência e para o papel importantíssimo de três mulheres, que contribuíram bastante para a cultura no nosso país. Mostraram que uma mulher também pode ser jornalista, pode escrever e publicar poesia erótica e satírica, pode fundar uma editora e pode ser o que ela quiser.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A Christmas Carol, Charles Dickens


Finalmente, li este livro! E na semana antes do Natal! Já toda a gente deve conhecer esta história, mas para os que ainda não sabem, nestas quase 100 páginas conhecemos Ebenezer Scrooge, um homem que desde o início sentimos como alguém frio, distante, antipático e avarento. Depois da morte do seu colega de trabalho (Jacob Marley), continua a gerir a empresa dos dois sozinho. Sozinho... Mais ou menos. Scrooge tem consigo um escriturário, o Bob Cratchit, a quem paga uma miséria, mas dada a pobreza e as dificuldades para arranjar emprego naquela altura, teve que se conformar a aturar este velho rezingão (que, curiosamente, serviu de inspiração para a criação do Tio Patinhas!).

Devo avisar (à única pessoa que vive debaixo de uma pedra e ainda não conhece este livro) que, além de estarmos perante uma história de Natal, isto é sobretudo uma história de fantasmas e tem momentos um bocadinho... Tensos. Lá está, o Charles Dickens é um excelente contador de histórias e o narrador aqui tem mais uma vez um papel importante na forma como é criado o ambiente que nos envolve, enquanto lemos este livro. Há um momento logo no início que me vai ser impossível esquecer, pois nunca me senti tão próxima de um narrador! Quem leu, saberá que me refiro a que me refiro no momento da aparição do primeiro dos três fantasmas.

Bem, comecei por dizer que o amigo do Scrooge está bem morto. Ora, estamos na véspera de Natal e, depois de vermos o Scrooge a recusar o convite do sobrinho para se juntar a si naquela noite, acompanhamos o nosso protagonista no regresso a casa, onde é surpreendido pelo fantasma de Jacob Marley. Este surge como um típico fantasma da época vitoriana, preso por correntes, e avisa-o de que está condenado a percorrer a terra assim, por ter sido uma pessoa má, egoísta e avarenta em vida. É claro que a carapuça não lhe serviu no início. Ainda assim, deu para deixar o Scrooge a pensar, até porque este fantasma o avisou que seria visitado por outros três fantasmas e isso não é coisa que diga a ninguém que esteja prestes a adormecer!
O primeiro é o Fantasma do Natal Passado e leva o Scrooge numa viagem a vários momentos do seu passado, desde a infância solitária aos amores perdidos. Este é o fantasma que relembra ao Scrooge quem ele é e como chegou até ali. De seguida, surge o Fantasma do Natal Presente, que mostra ao nosso protagonista como outras pessoas estão a passar aquela noite, nomeadamente a pobre (mas rica) família do Bob Cratchit e a do seu sobrinho (com quem ele recusou ficar). Por fim, temos o Fantasma do Natal Futuro, que apresenta a Scrooge o impacto da sua vida no futuro dos outros e como será tratada a sua própria morte.

É uma história de redenção, mas mais do que isso é também algo que me fez pensar em como é perigoso desligarmo-nos. Dos outros e de nós próprios. Mais uma vez, entra o tema da desigualdade social e da possibilidade de alterarmos o nosso "destino", algo típico do Dickens (e algo que ele próprio provavelmente sempre quis). E pronto, não é à toa que o filme The Man Who Invented Christmas é sobre o Charles Dickens. Foi ele que trouxe de volta o espírito natalício à Londres vitoriana. É muito mais que dinheiro e consumismo. O Natal está aqui dentro, amigos!

Quanto às adaptações cinematográficas, estive indecisa entre várias, mas optei por começar pela versão em animação de 2009, onde o inigualável Jim Carey interpreta o nosso protagonista. É um filme fantástico e que irei certamente rever. Recomendo mesmo muito! Está bastante fiel ao livro, dando vida àquilo que imaginámos durante a leitura, através de animações semelhantes ao The Polar Express. Além disso, tem Londres da época vitoriana cheia de neve e espírito natalício. O que é que querem mais?


Podem encontrar o livro aqui.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Filmes: Aquele em que o JC faz anos

Sempre gostei muito da época natalícia. Não sei porquê, mas talvez por Nostalgia ser o meu nome do meio e eu associar esta época à infância e a toda a magia com que eram vividos estes dias. Era o tempo em que conseguia deitar-me debaixo da árvore a ver as luzinhas piscar, dos meus planos estratégicos para vasculhar os armários todos, até abrir um cantinho de uma prenda e perceber que era o CD dos Morangos com Açúcar. Eram dias bonitos, pelo menos na minha cabeça, e é a isso que associo o Natal.
Por isso, decidi fazer uma maratona de filmes natalícios desde o início do mês, para conseguir juntar aqui algumas recomendações. Além destes, temos sempre os nossos filmes preferidos, para nos darem algum conforto.


Elf, John Favreau (2003) - 97min

Por muito surpreendente que possa parecer, nunca tinha visto este filme. É um clássico neste mundo dos filmes de Natal do qual gostei muito. Conta a história de um bebé humano que, por acidente, vai parar ao Pólo Norte, onde cresce no meio de todos os seres mágicos que ajudam o Pai Natal. Eventualmente, começa a trabalhar como elfo, embora não tenha assim grandes competências de motricidade fina, comparando com os seus pequenos colegas. Isto leva a que acabe por descobrir que não é um elfo, mas sim um humano e que tem um pai a viver em Nova Iorque. Assim, toma a decisão de ir procurar o pai a Nova Iorque e lá vai ele, um adulto, vestido de elfo e com zero competências sociais.
É um filme descontraído e com vários momentos engraçados, dada a situação em que está o protagonista, que é tão bem representado pelo Will Ferrell. Eu gostei e acho que é um filme indicado para quem, mesmo crescido, ainda sente aquela magia do Natal, transcendente a todo o consumismo, e que está tão presente quando se é criança.



It's a Wonderful Life, Frank Capra (1946) - 130min

Este foi, sem dúvida, o melhor filme que vi nesta minha maratona de filmes natalícios. Não é à toa que é um clássico bastante conhecido e com uma pontuação bem elevada. Tem como protagonista o George Bailey, interpretado pelo senhor-olhos-bonitos (James Stewart), e a Mary Hatch, pela lindíssima Donna Reed.
Antes de começar a ver tive algum medo que fosse um filme cheio de aspetos que o passar do tempo tivesse transformado em clichés e que me fosse aborrecer. Estava bem enganada. Este filme prendeu-me desde o início, contou-me uma boa história, com princípio, meio e fim, boas interpretações e uma excelente mensagem. Valeu cada segundo e irei certamente revê-lo.
Aqui conhecemos a história do George Bailey desde criança até à idade adulta, em que acaba a gerir uma empresa de crédito, bastante odiada pelo banco. A certa altura, algum dinheiro desaparece e George vê o seu negócio em risco, assim como a possibilidade de vir a ser preso. Nessa altura deseja nunca ter existido e é aí que aparece alguém que o vai fazer pensar.
Gostei mesmo muito deste filme e acho que devia ser visto por todos. Vá, vão lá ver!



The Christmas Chronicles, Clay Kaytis (2018) - 104min

Este filme começa com uma viagem no tempo aos dias de Natal do passado de uma determinada família, chegando ao momento atual, em que as coisas se encontram bem diferentes. Os protagonistas são dois irmãos, uma irmã mais nova ainda acredita no Pai Natal e um irmão mais velho, que é convencido por ela a envolver-se num plano para apanhar o velho Nicolau em flagrante. Isto acontece de facto (é logo não início, não é spoiler!) e estes dois entram numa aventura cobiçada por muitas crianças, ao se infiltrarem no trenó do Pai Natal e acabarem por o acompanhar na sua missão de distribuir presentes por todas as casas do mundo. A certa altura, acontece um imprevisto e  teme-se que não haja tempo suficiente para entregar todos os presentes, colocando assim o espírito natalício em risco. É aqui que entram no filme os elfos, conhecidos como os eternos ajudantes do Pai Natal ou, neste caso, como pequenas criaturas adoráveis e bastante desejadas por mim. Com esta ajuda e a dos dois irmãos, ficamos deste lado a torcer para que consigam resolver toda a embrulhada em que o senhor Nicolau se meteu.
É um filme perfeito para ver assim num domingo à tarde, com uma história que vai entreter pessoas de várias gerações e momentos muito engraçados, dadas as peculiaridades deste Pai Natal, cujos talentos vão além da distribuição de presentes a uma velocidade supersónica.

Além destes filmes, recomendo também o Polar Express, que vos vai deixar a desejar que aquele mágico comboio faça uma paragem à porta da vossa casa; o Love, Actually, para quem, como eu, gostar de apreciar os reencontros nos aeroportos e quiser ver uma boa comédia romântica, com um bom elenco. Além disso, Harry Potter sabe sempre bem, em especial os primeiros filmes, onde além da nostalgia, temos também uma maior presença do Natal. Por fim, para quem gosta de Tim Burton, temos o óbvio  The Nightmare Before Christmas, que é visto em Outubro e revisto em Dezembro (e noutras alturas também, na verdade) e para quem tiver vontade de ver algo natalício, mas mais curto, têm o A Charlie Brown Christmas e outros relacionados.




domingo, 9 de dezembro de 2018

Quem Escreve #4: Charles Dickens


“I have been bent and broken, but - I hope - into a better shape.”


Autor: Charles John Huffam Dickens
Data de nascimento: 07 de Fevereiro de 1812
Data de morte: 09 de Junho de 1870
Nacionalidade: Inglesa

Charles Dickens nasce no ano de 1812, em Landport, no sul da Inglaterra, sendo o segundo filho de uma fratria de oito, dos quais apenas seis chegaram à idade adulta. Aos dois anos, muda-se com a família para Chatham e aos 10 para Camden Town, na altura uma zona muito pobre de Londres.
O pai, John Dickens, trabalhava enquanto escrivão no ramo naval e ambicionava ser rico, acabando por gastar demasiado dinheiro, além das suas possibilidades. Isto levou ao seu endividamento e prisão em 1824, levando a que Charles tivesse que abandonar a escola e começar a trabalhar numa fábrica de tintas, aspeto retratado na sua obra mais autobiográfica, David Copperfield. Já a mãe, Elizabeth Barrow, sonhava ser professora e diretora de uma escola, embora tal nunca se tenha realizado. Posteriormente, Charles Dickens insere nos seus livros estes temas e afirma ter-se sentido abandonado, desprotegido e traído pela família, quando em criança é obrigado a inverter os papéis, tendo que trabalhar para sustentar a família e cuidar dos adultos, perdendo aí a inocência da sua infância.
Aos 15 anos (1827), depois do pai já ter sido libertado e depois de regressar à escola, volta a abandonar os estudos e começa a trabalhar num escritório, para ajudar a situação financeira da família. Este foi um trabalho importante, que contribuiu para o início da sua carreira enquanto escritor. Isto, porque poucos anos depois de iniciar este emprego, começa a escrever em jornais e a enviar textos sob o pseudónimo de Boz, culminando na publicação de um livro (Sketches by Boz) com todos estes textos em 1836, o qual teve bastante sucesso.
Também em 1836, Charles Dickens casa com Catherine Hogarth, com quem teve 10 filhos, dos quais seis morrem prematuramente. Um ano depois, publica um dos seus livros mais aclamados, Cadernos de Pickwick, livro em relação ao qual o nosso Fernando Pessoa dizia ter pena de já o ter lido por não poder voltar a lê-lo pela primeira vez. Depois deste livro, continua a publicar outras histórias sob o formato de folhetim, o que as tornava acessíveis a classes sociais mais baixas. Poucos anos mais tarde, publica o conto A Christmas Carol, que faz enorme sucesso e que é ainda hoje considerado um enorme clássico de Natal e que terá reavivado o espírito natalício na altura.

De todos os autores hoje em dia considerados clássicos, Charles Dickens foi dos poucos que obteve reconhecimento pela sua obra ainda em vida. Tornou-se numa celebridade não só em Inglaterra, mas também nos Estados Unidos, onde fez uma primeira tour no ano de 1842, com bilhetes completamente esgotados e onde se manifestou contra a escravidão e a cultura materialista americana. Isto foi publicado num livro, que não terá agradado muito ao público norte-americano, culminando numa segunda tour (1867), em que Charles Dickens promete editar o livro, de maneira a elogiar os Estados Unidos.
Até à sua morte, em 1870, Charles Dickens continuou a publicar livros quase anualmente, recorrendo ao humor e à ironia na construção das suas personagens e histórias. Nestas trabalha essencialmente o tema da crítica às condições económicas e sociais da época vitoriana, onde reinava a pobreza, endividamento, exploração infantil e o abuso por parte das classes mais elevadas. Criou a sua companhia de teatro com a qual percorreu o país, sendo frequentemente solicitado como orador.
Nos últimos anos de vida, sofreu alguns desgostos, como a morte do pai, o declínio do seu casamento com Catherine, com o divórcio em 1858, e a morte de alguns filhos e da própria mãe. Tudo isto tingiu os seus últimos livros de um tom mais negro e pessimista.
Em 1858 assume o relacionamento com a atriz, Ellen Ternan, com quem vive até aos seus últimos dias na mansão que comprara 2 anos antes e com que sempre sonhara. É nesta casa que morre durante o verão de 1870, com 58 anos de idade, depois de um acidente vascular cerebral.


Influências: Tobias Smollet, Henry Fielding, Daniel Defoe, Wilkie Collins.


Alguns dos livros publicados:

  • Cadernos de Pickwick (The Pickwick Papers) - 1836
  • Oliver Twist - 1837
  • Nicholas Nickleby - 1839
  • A Loja de Antiguidades (The Old Curiosity Shop) - 1841
  • Barnaby Rudge - 1841
  • Um Conto de Natal (A Christmas Carol) - 1843
  • David Copperfield - 1850
  • A Casa Sombria (Bleak House) - 1853
  • Tempos Difíceis (Hard Times) - 1854
  • História de Duas Cidades (A Tale of Two Cities) - 1859
  • Grandes Esperanças (Great Expectations) - 1861
  • O Amigo Comum (Our Mutual Friend) - 1865


“It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of light, it was the season of darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair.” 

(Em Tempos Difíceis, ou enquanto o Charles Dickens tentava acabar a minha tese de metrado)

sábado, 1 de dezembro de 2018

Filmes: Pottervember

Bem, desde que decidi fazer um esforço consciente para ver mais filmes, que tenho visto imensos, então acho que faz sentido ir falando aqui deles. Eu gosto de saber o que as pessoas andam a ver e adoro recomendações, então estejam à vontade! Se tiverem curiosidade em saber o que ando a ver, vou atualizando regularmente a minha Letterboxd. Aqui vou só falar de alguns que se destacaram mais para mim.

Os filmes que revejo mais vezes são, sem dúvida alguma, os do Harry Potter e, por alguma razão, este mês revi três deles. Com o frio lá fora, parece que ainda sabe melhor voltar a Hogwarts... 

A propósito disso, este mês estreou o novo filme com este universo, o Monstros Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald. Gostei muito do primeiro e estava muito entusiasmada para ver este.
Acho que, à semelhança de Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro filme desta série dos Monstros Fantásticos foi apenas uma introdução. Conhecemos algumas personagens, percebemos que a quantidade de criaturas adoráveis faz jus ao nome do filme e ficamos com água na boca para perceber o que se passa na bigger picture, ou seja, o que é que anda a acontecer no mundo lá fora, com os obscurus, o Grindelwald, aquelas crianças estranhas... Enfim.
Quanto a este segundo filme, embora tenha sentido que se trata de um filme de transição e que o seu final nos deixa surpreendidos por  já estarem a aparecer os créditos, sinto que gostei ainda mais que do primeiro. Neste começamos a desvendar um pouco mais daquilo que se passa no mundo à volta de Newt e a conhecer melhor a relação entre as personagens. É um filme que traz mais referências ao mundo que conhecemos do Harry Potter e começamos a ver ligações (Nagini, és mesmo tu?!). É daqueles filmes que sais da sala com perguntas e a inventar uma série de possíveis teorias que possam explicar tudo o que acabaste de ver, especialmente aquela grande revelação no final. 



Outro filme que vi, assim mais no final do mês, foi o Goodbye Christopher Robin. Às vezes apetece-me alimentar a minha nostalgia, então este mês decidi ver este filme, que já me tinha despertado curiosidade, por se propor a contar a história do criador das histórias do Winnie the Pooh (A. A. Milne) e da relação deste com o seu filho, o "verdadeiro" Christopher Robin.
É um filme especialmente interessante para quem gostava do Winnie the Pooh, mas também para quem gosta de conhecer as pessoas por detrás das suas obras. A. A. Milne, após o trauma da 1ª Guerra Mundial, decide escrever um livro sobre este tema. Encontra paz numa pequena casa no campo, para onde se muda com a esposa e o filho, Christopher. É através das brincadeiras com o filho e das suas aventuras na floresta ao lado de casa, que se inspira para criar as adoráveis personagens que ainda hoje conhecemos. É nestes livros que o Christopher Robin real dá nome à personagem fictícia, o que o obriga assim a ter que lidar com o facto daquilo que o unia ao seu pai, ter passado a ser de todos os que lessem os seus livros.
É uma história que não conhecia, o que tornou o filme ainda mais interessante para mim. Além de conhecermos o backstage desta grande obra infantil, ficamos inevitavelmente a pensar sobre o impacto das nossas ações nos outros. Recomendo muito!



E o último filme que vi este mês, embora não tenha sido um dos meus preferidos, foi o The Hunt, do qual gostei e me apetece dizer algumas coisas. Confesso que, inicialmente, o que me despertou curiosidade foi o ator principal, o Mads Mikkelsen, por ter gostado tanto de o ver na série Hannibal. Entretanto, ao pesquisar sobre ele, percebi que tinha a ver com um suposto abuso sexual de crianças, o que me despertou ainda mais curiosidade.
Não quero dar spoilers, então não vou contar muito. Trata-se de um professor (Mads Mikkelsen) que trabalha num jardim infantil e que a certa altura é alvo de acusações de caráter sexual por parte de uma criança, filha do seu melhor amigo. A partir daqui, acompanhamos este homem enquanto tenta provar que é inocente (e nós sabemos, ou julgamos saber que ele está a dizer a verdade). Percebemos o impacto que uma acusação deste género tem na vida do acusado e de todas as consequências que perduram durante bastante tempo.
Gostei das questões que este filme levantou, do que me fez (e continua a fazer) pensar, dado o tema que trabalha. Ainda assim, penso que algumas partes foram demasiado lentas e frias, com pouca ressonância emocional, dado o que estava a acontecer. Recomendo a quem tiver curiosidade.