terça-feira, 21 de julho de 2015

Resenha: Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez


"Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo."


Quase um ano depois de ter comprado este livro, decidi pegar nele. Nunca tinha lido nada do colombiano Gabriel García Márquez, mas a vontade era muita e acho que comecei bem. Cem Anos de Solidão é uma das suas obras mais conhecidas, tendo sido esta destacada com a atribuição do Prémio Nobel ao seu autor em 1982.

Acho que é um bocadinho difícil resumir esta história, porque ela decorre ao longo de cem anos, durante os quais acompanhamos a vida da família Buendía, fundadora de uma pequena aldeia chamada Macondo. São muitos personagens e com nomes repetidos, tornando-se, muitas vezes, complicado lembrar quem é quem. Contudo, essa repetição de nomes tem o seu propósito. Nesta família, os nomes de cada membro determinam a sua personalidade e o seu destino. De uma pessoa com o nome X já era esperado que agisse de certa maneira. Isto é importante ao ponto de a certa altura do livro ser afirmado que os nomes de dois irmão devem ter sido trocados, porque os nomes que lhes foram atribuídos não correspondem à sua personalidade.

Esta família começa com o casamento incestuoso de dois primos, José Arcadio e Úrsula, sendo tal fenómeno repetido imensas vezes nas seguintes gerações. Aqui encontramos logo um dos muitos elementos de realismo fantástico apresentados ao longo do livro, sendo que nos é dito que deste tipo de relações incestuosas sairiam filhos com rabo de porco. Eu gosto desses mesmos elementos, os quais, na minha opinião, tornam a história bem mais interessante.

Gabriel García Márquez aproveita também para fazer um retrato de uma guerra civil entre liberais e conservadores, na qual um membro da família Buendía participará, ainda que, anos mais tarde, devido à manipulação exercida pelo Governo, tal ser encarado pelas pessoas como um mito ou uma lenda, como terá também acontecido noutros momentos, como no episódio do encerramento da companhia bananeira.

Tal como mencionei acima, nesta história conhecemos uma panóplia de personagens, cada um com a sua particularidade, talvez sendo até mais fácil relembrá-los através dessas particularidades do que através dos seus nomes. É de destacar a forte presença das mulheres nesta história, que se impunham, tinham poder e uma palavra a dizer.

Há quem diga que estes "Cem Anos de Solidão" remetem para à solidão associada ao que é/era ser latino-americano, alguém que foi invadido, explorado, colonizado e, posteriormente, abandonado à sua sorte, o que faz sentido.

Adorei este livro e quero muito ler mais do autor. Este é um daqueles livros que merece e deve ser relido imensas vezes, pois acredito que em cada releitura se vá encontrar mais uma coisa que terá escapado na leitura anterior.

"Era uma tortura inútil porque, já nessa época, ele tinha terror de tudo o que o rodeava, e estava preparado para se assustar com tudo o que encontrasse na vida: as mulheres da rua, que estragavam o sangue; as mulheres da casa, que pariam filhos com rabos de porco; os galos de luta, que provocavam a morte de homens e remorsos de consciência para o resto da vida; as armas de fogo, que só por serem tocadas condenavam a vinte anos de guerra; as empresas incertas, que só conduziam ao desencanto e à loucura, e tudo, enfim, tudo quanto Deus tinha criado na sua infinita bondade e que o Diabo pervertera."


terça-feira, 14 de julho de 2015

Resenha: The Night Circus, Erin Morgenstern


"The circus arrives without warning. No announcements precede it... It is simply there, when yesterday it was not."

Finalmente consegui ter tempo para terminar esta leitura. Parti para este livro sem saber nada sobre ele, a não ser aquilo que está mencionado na citação acima. Decidi lê-lo porque, além de me ter sido recomendado por pessoas em cujo gosto literário eu confio, pareceu-me algo diferente de tudo o que já tinha lido e, além disso, andava com vontade de ir para outra realidade diferente. 

The Night Circus é o primeiro e único livro da autora Erin Morgenstern. No início da história conhecemos Hector Bowen, um ilusionista bastante famoso e reconhecido pelos seus talentos, os quais ninguém sabe que dizem respeito a magia verdadeira. Certo dia, depois de um espectáculo, chega ao seu camarim uma jovem, Celia Bowen, sua filha, depois da sua mãe ter cometido suicídio. Hector fica com a filha e, com o passar do tempo, vai-se apercebendo que também esta tem alguns poderes mágicos, os quais ele vai explorar a partir daí. 

A questão principal deste livro está no facto de Hector Bowen ter uma espécie de jogo ou competição com outro homem, "o homem do fato cinzento". Essa competição envolve magia e uma medição de forças mágicas entre dois oponentes, que são alunos destes dois homens e que são, por isso, escolhidos por eles para competir obrigatoriamente, durante um tempo indefinido, até que um perca.

E é uma dessas competições que vai dar origem a este circo, cheio de magia, onde qualquer acto de um dos oponentes vai ter as suas repercussões tanto no próprio circo, como nas pessoas que o constituem. 

Foi uma leitura um pouco lenta e, inicialmente, demorei um pouco a perceber o que se estava a passar. Contudo, não me fui preocupando muito com isso, porque aos poucos as peças foram encaixando e a história foi começando a fazer sentido. Até lá fui aproveitando para mergulhar neste circo fantástico, com várias tendas diferentes e vários personagens interessantes, cada um com a sua história. Daí também não me ter incomodado o facto da leitura ter sido um pouco lenta, porque tal ajudou a conhecer bem os personagens e a própria construção e evolução do circo.

Sinceramente, a minha parte preferida foi ver o que havia em cada uma das muitas tendas existentes. O detalhe é muito bom. Em cada uma, havia a preocupação com o que o visitante iria sentir ao entrar lá, literalmente. Até havia a preocupação com os cheiros! Várias tendas nem tinham uma atracção específica no meio, dando espaço ao visitante para as explorar. 

Esse aspecto da exploração do circo também foi interessante de ver através das aventuras de um rapaz, Bailey Clarke, que adorava o circo e o visitava sempre que ele aparecia na sua cidade, especialmente quando ele conheceu e fez amizade com dois irmãos que nele trabalhavam. 

Como já disse, há também toda a história da competição que está a decorrer e cujo enredo se vai desenvolvendo aos poucos. Além disso, vemos também um romance entre dois personagens, mas tal acaba por não ser o principal foco do livro, o que para mim foi um ponto muito positivo.

Enfim, gostei do livro. Não foi a melhor história que já li em toda a minha vida, mas foi bom e satisfez bem as minhas necessidades de mergulhar num mundo diferente. Tem partes do livro em que a autora se dirige literalmente ao leitor, como se ele estivesse a entrar e a explorar o próprio circo. Na minha opinião, isso foi interessante e que deu algo novo e diferente ao livro. Acho mesmo que vou ter saudades de visitar algumas das tendas...

"People see what they wish too see. And in most cases, what they are told that they see."