segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Wuthering Heights, Emily Brontë

Já tinha lido este livro, mas numa tradução portuguesa, há talvez 10 anos (uau!). Foi o meu primeiro clássico na altura e adorei-o. Relê-lo em inglês foi uma experiência ainda melhor e tornou-o num dos meus livros preferidos, tanto que, assim que o acabei, só me apetecia falar sobre ele e isso mantém-se ainda hoje.

Esta história passa-se no século XIX, em Inglaterra, e começa com a chegada de um novo inquilino a uma das duas propriedades situadas numa localidade do meio rural, muito ventosa e isolada. Depois de conhecer o seu vizinho e senhorio (Heathcliff), este novo inquilino sente-se intrigado pelo seu ar sombrio e questiona a sua criada acerca deste homem. É através desta criada, a Nelly, que conhecemos a história de Heathcliff e de todas as personagens que estiveram envolvidas na sua história ao longo dos vários anos que se antecederam a esta chegada.
Nelly leva-nos para o momento em que Heathcliff surge como uma criança orfã, que é resgatada da rua pelo dono de uma destas casas, quando ela própria era ainda uma criança. Tendo tido uma posição privilegiada enquanto observadora, a narração da Nelly permite-nos sentir que estamos com ela a revisitar memórias do passado. Este aspeto do narrador é interessante para mim, visto que nos dá uma perspetiva diferente da história, que não é necessariamente a mais fidedigna.
Não quero contar muito, porque eu própria gosto de ir descobrindo, sem antes saber muita informação acerca da história. Pegando nisso mesmo, aquilo que eu gostaria de saber, caso nunca tivesse lido este livro, é que se passa no século XIX, é narrado por alguém no "presente" e conta a história de vida de duas personagens principais (e de todo o seu legado), do seu início ao seu fim.
É um livro que retrata uma relação tóxica entre duas pessoas, sendo que nenhuma delas está idealizada, isto é, ambas são representadas como são, têm mau caráter e dificilmente as adoramos, embora seja possível empatizar com elas. Ao longo do livro sentimos emoções intensas, ficamos frustrados, irritados, sentimo-nos com pena, vemos injustiça, vingança, depressão, zanga... Senti que estive no olho do furacão com estes personagens, até chegar ao final, em que senti a calma depois da tempestade. Quando larguei o livro senti exatamente aquilo que se sente quando espreitamos na janela para ver como está o dia, depois de uma noite de tempestade
É sempre um risco reler um livro depois de tantos anos, porque podemos perceber que no momento presente já não nos identificamos tanto com aquilo que nos fez gostar dele. No entanto, neste caso, a releitura só veio melhorar a experiência e relembrar-me do porquê de ter gostado tanto desta história tão sombria. Recomendo muito!

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Filmes: Outubro, mês do horror

Assim como Dezembro é o mês do Natal, para mim Outubro é o mês do horror, por causa do Halloween. Então, este ano decidi esforçar-me por ver alguns filmes de terror, dado que tendo a gostar desse tipo de filmes e estava no mood perfeito para isso mesmo. Tenho uma longa lista de filmes de terror que tenciono ver, inclusive alguns que poderiam ser considerados clássicos, mas que fui sempre adiando. Vi alguns antes e depois de Outubro, mas estes são aqueles que vi durante esse mês.

The Cabin in The Woods, Drew Goddard (2012)

Este filme propõe-se a surpreender quem o vê. Contudo, inicialmente parece mais um típico filme de terror, em que um grupo de amigos vai passar o fim de semana na casa de campo de um deles e 1) um deles decide começar a matar toda a gente; ou 2) há um vizinho serial killer que os mata um a um. As personagens são o mais cliché que existe neste tipo de filmes e parece mesmo que já sabemos tudo o que vai acontecer. Mas na verdade, não é bem assim e somos de facto surpreendidos. Obviamente, não irei contar porquê, pois acredito que estragaria a experiência a quem o quiser ver.

Confesso que gostei mais do conceito, do que da forma como este foi executado, embora não consiga explicar porquê. A ideia por detrás do plot deste filme continua fresca na minha cabeça e a deixar-me a pensar até onde pode ir o comportamento humano e como é assustadora a perda de empatia e a falta de pensamento crítico.



The Witch, Robert Eggers (2015)

Quando pesquisei sobre este filme, li algumas coisas despertaram a minha curiosidade: "1630s New England", "devout Christian life" e "on the edge of an impassable wilderness". Adoro histórias narradas noutras épocas, então isto pareceu-me o ideal.
Neste filme conhecemos uma família, que é expulsa do local onde vive, por suposta heresia. Acompanhamos o recomeçar das suas vidas e o nascimento de um novo filho, que desaparece misteriosamente. Este estava com a filha mais velha do casal (Thomasin), que estava também presente quando, mais tarde, outro irmão desaparece no meio da floresta. Este reaparece com um ar bastante doente e Thomasin é acusada de bruxaria pelos irmãos mais novos. Com o desenrolar da história, vão surgindo mais informações sobre o que acontece na floresta e na própria casa desta família.
The Witch tem alguns momentos muito bons e a história conseguiu cativar-me. Ainda assim, quando terminou, fiquei com a sensação de que tinham tentado "meter o Rossio na rua da Betesga". Sinto que teria gostado mais de ler este filme, do que de o ver, porque fiquei com a sensação de que não conseguiram aprofundar muito bem cada acontecimento e cada personagem. Penso que teria resultado melhor como livro, mas ainda assim foi um bom filme.


A Nightmare on Elm Street, Wes Craven (1984)

Não, este filme não está aqui porque o decidi rever. Na verdade, nunca o tinha visto antes, embora já soubesse mais ou menos a história e já tivesse visto alguns excertos. Na verdade, é um clássico e não há como lhe fugir. Quando o decidi ver foi com essa ideia em mente: "talvez vá achar cliché e os efeitos sejam maus, mas é um clássico, preciso de ver". Assim que acabou, percebi o porquê de ser tão adorado.
Todos sabemos o nome dele. Aqui conhecemos o Freddy Krueger, a mítica personagem que nos mata enquanto dormimos. Acho brilhante brincarem com o maravilhoso mundo do sono e sonho, onde perdemos totalmente o controlo. Penso que se torna assustador por isso mesmo. Quantas vezes não acordamos com pesadelos e tememos voltar a adormecer e regressar ao mesmo sonho?
Adorei o ambiente criado neste filme e a forma como a história do próprio Freddy foi contada.
É um filme claro, que tem uma história para contar e o faz muito bem, sem tentar ser pretensioso. Destes três que vi em Outubro, foi sem dúvida o meu preferido e o único que tenciono rever. (Curiosamente, fiz uma pequena sesta a meio deste filme, mas correu tudo bem! Ainda aqui estou!)

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Oliver Twist, Charles Dickens


Precisamos de falar sobre este livro e começo já por avisar que me apaixonei pela narrativa do Charles Dickens e que, neste momento, quero ler tudo o que ele escreveu. Há uns anos comecei a ler o Great Expectations, mas na altura estavam a acontecer muitas coisas ao mesmo tempo e acabei por não terminar. Decidi que precisava de me dedicar a ele com mais tempo e envolver-me na história do início ao fim. Uns tempos depois, encontrei uma edição linda do Oliver Twist, em capa dura, daquelas que nos fazem sentir uma Elizabeth Bennet. Pois, comprei-a e não durou muito tempo na estante sem lhe pegar. O livro não é muito grande e devorei-o em menos de nada. A história flui muito bem e o narrador transformou-se num avô que me foi contando uma história, como se estivéssemos em frente a uma lareira, numa noite de inverno.

Tentando não estragar esta experiência de leitura a ninguém, neste livro é-nos contada a história de um menino órfão, o Oliver. Começamos mesmo no início, com o seu nascimento, onde sabemos logo que as coisas não vão ser fáceis para esta personagem. Passando-se na Inglaterra do século XIX, esta história dá-nos a conhecer as condições precárias em que as pessoas viviam, passando por ruas onde a pobreza e o crime andam de mãos dadas.
O sentido de humor brilhante do Charles Dickens entrelaça-se com a história difícil que nos conta, onde rapidamente empatizamos com este personagem, torcendo constantemente para que (desta vez) as coisas lhe corram da melhor maneira. 
Esta é a história de uma infância roubada e entregue às mãos cruéis de uma sociedade movida por interesses pessoais, manipulação e dinheiro. Ao longo da narrativa, acompanhamos cada tropeço e cada levantar do Oliver e vamos conhecendo as diferentes pessoas com que se cruza e o impacto que estas têm na sua vida. 
O único aspeto que me fez uma ligeira comichão foi, por vezes, sentir o Oliver como uma personagem pouco realista, que mantém uma doçura impenetrável, independentemente de toda a maldade ao seu redor. Ainda assim, este foi um livro do qual gostei bastante e que me abriu o apetite para o resto da obra deste autor. O Dickens foi uma excelente companhia e quero voltar a encontrar-me com ele. Sinto que este se vai tornar num daqueles autores que se tornam casa e para cujo conforto sabe sempre bem voltar.