quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O Alienista, Machado de Assis

Outubro, mês da saúde mental, pareceu-me o mês certo para conhecer a escrita de Machado de Assis, nomeadamente o conto "O Alienista", cujo tema principal é a discussão entre o que é e não é a loucura.

Sendo este um conto bastante curto, não irei escrever muito sobre ele. Trata-se da história da criação de um asilo para "loucos" e "mentecaptos", a primeira Casa de Orates. Esta foi a obra do respeitado médico Dr. Simão Bacamarte, que sentiu a necessidade de criar um espaço onde acolhesse estas pessoas, protegendo-as a elas e sobretudo ao resto da população, que de alguma maneira as considerava uma ameaça. 

Contudo, a certa altura tem quase toda a população internada e debate-se com a questão do que define a loucura. Afinal, o que é ser "louco"? O que é ter uma doença mental? Como é que distinguimos isso da normalidade?

Gostei muito da forma como o tema foi abordado e da discussão que levanta, ainda mais tendo sido publicado em 1882. Quanto à escrita em si, ainda não me cativou. Quero ler mais do autor para perceber se gosto ou não, porque neste conto não me impressionou, principalmente pela superficialidade (natural num conto, daí que também não me encante facilmente por este tipo de texto). 

domingo, 7 de novembro de 2021

A Borra do Café, Mario Benedetti

Só de estar a parar para escrever sobre este livro, já me está a dar vontade de o reler imediatamente. Foi o meu primeiro contacto com a escrita do escritor uruguaio Mario Benedetti. Entretanto já tenho na estante outro livro dele para ler, porque me apaixonei com este. Começo a conhecer-me melhor enquanto leitora e já percebi que há temas que são um ponto chave para mim, como é o caso da memória e da passagem do tempo.

Em "A Borra de Café" acompanhamos o Claudio, enquanto recorda episódios da sua infância e juventude, nomeadamente os lugares e as pessoas que os povoaram, atribuindo a cada um uma identidade muito característica e um papel importante na sua vida.


A forma como Benedetti o faz não se torna num amontoado de acontecimentos, sem qualquer ligação. A escrita bonita, com sentido de humor e alguma ironia, transmite uma ideia bastante realista da forma como as nossas memórias estão também pautadas por emoções e de como funciona quando olhamos para elas de um ponto de vista do nosso futuro.


A sensação ao ler este livro é de uma enorme proximidade com o protagonista, como se estivéssemos com ele a percorrer os caminhos da sua memória e a rever sítios, pessoas, relações e sentimentos, com o adicional pensamento crítico do futuro, que não deixa de fazer transparecer a ingenuidade e doçura de vários momentos nos quais entramos. E digo "entramos", precisamente porque me senti completamente imersa neste livro. Largava-o apenas porque tinha mesmo que ser, ou porque outras obrigações chamavam ou porque não o queria acabar, mas ia com ele na cabeça.


É um livro com capítulos curtos e uma quantidade absurda de passagens bonitas ou marcantes pela ironia ou sentido de humor, que nos deixam com um travo mordaz a pensamento crítico e ajudam a estabelecer a ligação entre autor e leitor, levando-nos àquele esgar de quem percebeu a mensagem subliminar àquelas palavras.


Já tenho comigo "A Trégua" e mal posso esperar por lhe pegar. Há algum tempo que não me acontecia gostar tanto de um livro desta forma.

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

The Great Alone, Kristin Hannah


Entrei para este livro com a expectativa de ser entretida. Já tinha visto várias pessoas falarem sobre ele como contando uma história dramática, com temas como a violência doméstica e o stress pós-traumático, tornando-o num livro que não se consegue parar de ler. Era isto que eu queria e foi isto que ele me deu, embora não possa dizer que adorei o livro. Ainda assim, recomendo-o e sei de várias pessoas que iriam adorar lê-lo.

Nesta história conhecemos a família da Cora, do Ernt e da filha Lenora. Cora vem de uma família de classe alta, que nunca aceitou bem a sua relação com Ernt, muito menos a gravidez na adolescência. Ernt acaba de regressar da Guerra do Vietnam e traz com ele o trauma de toda a experiência, bem como a desilusão, a raiva e uma série de lutos para fazer. Um desses lutos é o de um amigo militar, que faleceu durante a guerra e lhe deixou um terreno no Alaska. Ernt vê aqui a sua oportunidade de se afastar da sociedade com a qual está desiludido e muda-se para lá, juntamente com a família. A esperança de todos é a de que as coisas melhorem, a violência acabe e Ernt consiga ultrapassar a situação traumática por que passou e que tem despertado nele o seu lado mais negro e violento. A partir daí, assistimos ao desenrolar da história, à sua adaptação a um ambiente tão inóspito e conhecemos outras personagens. 

Há sempre alguma coisa a acontecer até ao final do livro, o que nos prende, e por isso recomendo-o a quem estiver com vontade de ler uma história intensa, com temas bastante pesados. Comigo o livro começou por funcionar muito bem, mas ao longo da história algumas coisas começaram a incomodar-me e fui perdendo o gosto, nomeadamente alguns comportamentos da Cora e da Lenora. Então aquele final... Ainda assim, acredito que seja um livro capaz de agradar a muita gente. E daria um excelente filme!

domingo, 1 de agosto de 2021

A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, Svetlana Alexievich

 

Não, não recomendo este livro a toda a gente, embora ache que mais pessoas o deveriam ler. Vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2015, a escrita da Svetlana Alexievich é daquelas que mexe com as nossas entranhas e que nos transforma. É uma escrita que claramente assume uma missão desde o início do livro e que a cumpre até ao final.

Em "A Guerra não tem rosto de mulher" somos apresentados a um lado da História que ficou escondido, mas nunca esquecido - o papel da mulher do Exército Vermelho na 2ª Guerra Mundial (ou a Grande Guerra Patriótica, como foi denominada na antiga URSS). A missão na qual esta escrita embarca é precisamente essa de nos contar a guerra do ponto de vista das muitas mulheres que nela participaram e que vai muito além da versão que conhecemos nos filmes de ação, cheios de condecorações, medalhas e heróis.

É um livro cheio de testemunhos de mulheres reais, que participaram de diversas formas nesta guerra em defesa da sua pátria. Falam-nos do que sentiram antes, durante e depois, do que pensavam e de como se viam enquanto mulheres numa guerra que não estava preparada para elas. Falam-nos da dor, do sangue, do sofrimento e do desespero. Falam-nos do que as motivava a ir para a frente, do que deixaram para trás e do que restou depois de tudo isso - em muitos dos casos não tinha restado nada.

É um livro muito duro e que me marcou profundamente. Sendo eu de uma geração que nunca viveu a guerra na primeira pessoa, é muito fácil cair no distanciamento emocional de algo que acontece lá longe no tempo e/ou no espaço. Este livro traz estas vozes e este sofrimento, completamente ainda em carne viva, para mais perto de nós e é enfrentar isso e aceitá-lo como real e possível que torna esta experiência de leitura em algo tão marcante. Ninguém deveria passar por algo tão horrendo.

sábado, 10 de julho de 2021

The Days of Abandonment, Elena Ferrante

Já tinha lido Elena Ferrante, mas contrariamente à maioria, a tetralogia da Amiga Genial não me prendeu. Li apenas os dois primeiros livros e até gostei, mas não foi ao encontro das minhas expectativas, que estavam bem lá em cima. Ainda assim, e apesar de já ter passado algum tempo, ainda gostava de ler os restantes livros. Um dia, quem sabe... 

A vontade para ler "The Days of Abandonment" surgiu também pela influência de outras pessoas que o foram lendo e que falavam dele como um livro que ilustrava de uma forma real e crua o sofrimento de uma mulher após a separação do marido. Quem me conhece, sabe que os livros que melhor me apanham são aqueles que abordam as emoções mais intensas, a dor e o sofrimento. E este apanhou-me.

O livro é contado na primeira pessoa pela Olga, que de forma completamente inesperada, é deixada pelo marido, Mario. Este decide deixá-la sem qualquer explicação, juntamente com os dois filhos e um cão. A partir daí, acompanhamos a Olga nos seus dias de abandono, entrando completamente na sua cabeça, recheada de dor, sofrimento, raiva e muitos pensamentos doentios. Quem não conhecer o sofrimento humano ou a ele não for suficientemente sensível, facilmente a julgará, especialmente por tudo o que vai acontecendo, a forma como vai perdendo o controlo e como tudo vai tendo impacto em si, nos filhos e em tudo ao seu redor. 

Para mim, a sensação ao ler este livro foi de asfixia, dor e desespero. Enquanto tenta fugir da imagem interna da "poverella", a mulher da sua vizinha que enlouqueceu após o abandono do marido durante a sua infância, Olga atravessa um período extremamente difícil em que tenta fugir de si mesma, ao ponto de quase não ter retorno. Desde a negação e da necessidade de respostas, à procura de culpados, à raiva e à procura de quem é além daquela relação. Tudo isto com duas crianças pequenas, um cão e uma casa para cuidar.

A forma como Elena Ferrante escreveu esta mulher deu-lhe vida no meu imaginário. É impressionante a maneira como a sua escrita entra de forma profunda nos meandros da mente desta mulher e nos marca. Foi difícil conhecer um sítio tão sombrio e espreitar o abismo. Mas ler livros para mim também é isso, espreitar o abismo das experiência humanas e conhecer melhor o que é isto de ser pessoa.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Felicidade, João Tordo

O meu primeiro contacto com a escrita de João Tordo foi com "Felicidade", um dos últimos livros publicados pelo autor. É dos autores que mais tem escrito e daqueles que sempre me despertou curiosidade. Gostei da experiência de leitura deste livro, embora esteja ainda mais curiosa com outros títulos.

Neste livro, dividido em três partes, acompanhamos um adolescente que se apaixona por uma de três gémeas. Estas três irmãs fizeram-me muito lembrar as de "Virgin Suicides", precisamente pelo ar misterioso que nos atrai para elas e pela forma como as conhecemos, meio que à distância. Neste caso, o protagonista apaixona-se pela Felicidade e, sabendo que este é o nome dela e que dá título ao livro, percebemos logo que ela terá um papel predominante nesta história. Eu diria até que é a personagem principal, embora a conheçamos muito pouco e apenas através dos olhos dele.

A narrativa inicia-se em 1973, em Lisboa, numa época de mudanças, das quais pouco nos apercebemos pelo estado meio alienado em que o protagonista se encontra. A sua própria vida dá uma volta brutal ao conhecer Felicidade, que tudo aquilo que se passa à sua volta não tem qualquer importância. Depois de um acontecimento trágico, que nos vai sendo anunciado desde o início do livro, os anos vão passando e a vida também.

Este livro é um prato cheio de referências à cultura daquela época, certamente reconhecíveis para quem a viveu, e que para mim também indicam um excelente trabalho de pesquisa para dar contexto e criar o ambiente envolvente desta história. É um livro sobre como algo muito bom pode ficar para sempre manchado na memória e no momento presente, onde ela se intromete constantemente.

Gostei muito da forma como o livro é escrito, tendo sempre em conta o leitor e em algumas vezes falando diretamente para ele. Foi um livro que me manteve interessada e com vontade de saber como é que esta tragédia ia acabar. Fiquei com vontade de pesquisar sobre mitologia grega, dadas algumas das referências e as ideias exploradas pelo autor. Com certeza que lerei mais obras dele.

segunda-feira, 29 de março de 2021

The Bluest Eye, Toni Morrison


Levei algum tempo a assentar as ideias acerca do "The Bluest Eye", da Toni Morrison. A verdade é que quanto mais penso nele, mais me incomoda. Neste livro temos uma criança como narradora da história, a Claudia, uma menina negra que vive com os pais e a irmã mais velha em Ohio. Mas não é ela a protagonista. Conhecemos a história dela, mas sobretudo a de Pecola, outra criança negra da mesma escola, mas proveniente de uma família bem diferente da sua. Creio que se pudesse argumentar que se tocam em alguns pontos, especialmente no que diz respeito à forma como em ambos os casos tiveram que adotar estratégias de maneira a se adaptarem ao racismo e à exclusão, seja através do silêncio e do assumir de papéis, seja através da revolta e da exteriorização.

O livro está divido em quatro estações e aborda questões tão violentas, mas de uma forma tão leviana e inocente, própria do olhar na terceira pessoa com que vemos a história desenrolar-se. Apesar de a considerar a protagonista, nunca conhecemos bem Pecola de perto. Temos apenas vislumbres daquilo que a narradora conhece, o que durante a leitura me fez sentir que estava a assistir a tudo completamente de fora. Não foi para mim uma leitura imersiva e esta distância que fui mantendo, agora incomoda-me porque me escudou de sentir a revolta que deveria ter sentido em vários momentos nesta leitura. Mas foi um livro desconfortável e tive que desviar o olhar algumas vezes. Custou muito ler algumas das cenas pelas quais Pecola passou e várias passagens onde sentimos uma compaixão tremenda pelo sofrimento daqueles que se sentem feios e completamente postos à parte pela cor de pele que têm. 

A questão da beleza e dos padrões sociais está muito bem trabalhada neste livro e fui-me sentindo triste com a forma como se aceita e integra uma data de preconceitos e com o impacto que isto tem na identidade e autoestima. Quanto mais penso nele, mais zangada me deixa e com mais vontade fico de ler outras coisas da autora. Que mestria na escrita! Entretanto, vi uma entrevista dela acerca deste livro, que deixarei aqui também. Recomendo, porque acho um livro importantíssimo de ser lido e uma história que precisa de ser ouvida, mas é muito duro e poderá ter algumas passagens mais triggering ligadas à violência e o abuso sexual.


sábado, 27 de fevereiro de 2021

Brief Answers to the Big Questions, Stephen Hawking


Se há uns anos me tivessem perguntado se teria interesse em ler este livro, provavelmente teria dito que não. Mas os livros de não-ficção têm vindo gradualmente a ganhar espaço na minha estante, especialmente neste último ano. O espaço sempre me fascinou, mas confesso que foi depois de ver (e adorar) o filme "Interstellar" que surgiu uma curiosidade maior em relação a compreender estes temas. Adoro pensar sobre coisas e aprender sem pressas, então não resisti a este livro quando me cruzei com ele e vejo as questões que traz na contracapa e às quais Stephen Hawking responde dentro do livro.

Deus existe? Quais as origens do universo? Será que podemos prever o futuro ou viajar no tempo? Existe vida inteligente no universo e devemos colonizar o espaço?  Será que sobrevivemos neste planeta? Que papel terá a inteligência artificial? Temos aqui a resposta possível a todas estas questões, ficando com outras tantas para nós - tal como deve ser. Tenho o livro todo sublinhado e com várias notas, qual verdadeiro diálogo entre leitor e autor. Faltam-me vários conceitos básicos, já que esta não é a minha praia, mas aprendi muito e refleti outro tanto.

Apesar de algumas coisas me terem passado um bocadinho ao lado, as ideias estão bem explicadas e entende-se muito bem. Recomendo a quem tiver interesse em passar por uma experiência semelhante e a quem quiser pensar sobre o mundo à nossa volta e aquele que aí vem. 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A Metamorfose, Franz Kafka

É difícil falar de um livro tão conhecido como "A Metamorfose", de Franz Kafka. A sua premissa do homem que acorda transformado num inseto já é do conhecimento de muitas pessoas. Também já era do meu quando o li pela primeira vez há vários anos. Ainda assim, e agora mais com a releitura, não deixou de me cativar e de me impressionar como uma obra com tão poucas páginas pode ser tão intensa.

É um livro que nos deixa desconfortáveis enquanto o lemos, inclusive pela forma como está escrito, colocando-nos nos olhos de Gregor Samsa - que, como podem imaginar, não está a passar por um bom momento. Vemos com ele a forma como a família lida com esta sua súbita e inexplicável mudança e sentimo-nos impotentes ao vê-lo conformar-se com o seu novo estado. Gregor acorda doente no corpo de um inseto, embrenhado num ambiente cinzento e oprimido pela insaciável sociedade movida pelo trabalho, que facilmente o espezinharia. 

Assistir à gradual perda de identidade de Gregor e à evolução da reação da família - que passa a ver aquele que antes seria o seu pilar, agora como um empecilho - é algo que vai mexer com as nossas entrenhas. Vamos sentir a tristeza e impotência do Gregor ao ver a situação da família agravar-se cada vez mais, assim como o seu sofrimento ao sentir que não os conseguirá ajudar, muito pelo contrário, sentindo-se cada vez mais um peso.

Tendo lido "Carta ao pai" deste autor, foi impossível não ver aqui resquícios dessa figura paterna tão opressora. A relação com a irmã é a ferida que mais dói nesta história. Este é um livro de digestão difícil, que pode ser lido de diferentes perspetivas e que traz com ele angústias que não perderam a validade e continuam bem atuais. 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago

Mais um Saramago. E que livro este! "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" destronou "Memorial do Convento" no lugar de favorito do autor, embora este continue a ter um cantinho especial. Não sabia bem o que esperar, além de uma escrita muito inteligente, cheia de simbolismo e sarcasmo, e das críticas e reflexões muitas vezes subjacentes às obras deste autor. E isto já era mais que suficiente, embora tivesse aqui um bichinho de curiosidade, deixado cá pela minha professora de Português do ensino secundário, que falou da polémica que envolveu este livro na altura do seu lançamento. Afinal de contas, é um livro sobre Jesus Cristo, escrito por alguém que é ateu.

E se o título não fosse sugestivo o suficiente, esta é a história de Jesus Cristo contada na sua perspetiva, onde ele é o protagonista e é um ser humano. Começa precisamente com os seus pais, no momento da sua conceção, que nos é apresentada a partir da descrição de uma pintura. A partir daí, acompanhamos o crescimento de Jesus, desde a sua infância com vários irmãos, à adolescência e aprendizagem do ofício de carpinteiro. Acompanhamos Jesus na morte do seu pai José, na busca pelo autoconhecimento e pelo entendimento da fé. Vamos com ele quando sai de casa, conhecemos o romance com Maria de Magdala e o pastor com quem passa uma temporada no deserto. Isto sempre acompanhado das suas dúvidas, angústias e toda a sua busca por compreender quem é, que legado lhe foi deixado por José e, por outro lado, os seus questionamentos em relação a Deus e o Diabo, ao bem e ao mal. É incrível...

Este livro tem vários momentos muito bons e que me vão ficar na memória durante momento tempo, principalmente as questões ligadas a Deus e o Diabo e como os dois se fundem. Aquela cena no mar... Ah! Que soberbo. O cérebro deste senhor devia ser um sítio incrível para explorar. Que saudades... Ele desejava que continuasse a haver tempo para escrever e eu desejo que o tempo continue para poder ler os que ele nos deixou.

sábado, 2 de janeiro de 2021

O Velho e o Mar, Ernest Hemingway

Decidi ter o meu primeiro contacto com a escrita de Ernest Hemingway através de "O Velho e o Mar", já que ouvia falar tão bem dele e, na verdade, vinha mesmo a calhar para iniciar o clube de leitura que tenho andado a desenvolver.

Acredito que as opiniões que fui vendo por aí me tenham também elevado muito as expectativas, mas a verdade é que não adorei este livro. Passei a gostar mais depois de terminar, deixar assentar um bocadinho e depois da discussão em grupo, mas até metade do livro senti que tinha que me forçar para o ler. Muitas outras pessoas têm uma opinião diferente, por isso creio que isto se deva ao facto de não adorar a escrita tão seca e objetiva do Hemingway. O que também pode agradar a outros, visto que é um livro que se lê muito facilmente e vai straight to the point.

Sendo um livro tão curto, não faz sentido revelar muito acerca da narrativa. Aqui conhecemos a história deste homem, já com uma idade bastante avançada (embora isso não seja especificado), cujo sustento é a sua profissão de pescador, mas que já não pesca há 85 dias. Percebemos que as condições em que vive são miseráveis, embora ele nunca se queixe e tente esconder tudo isto (sem sucesso) do rapaz que é seu amigo e com quem costumava pescar. Apesar de não conseguir tirar nenhum peixe há tanto tempo, o velho não desiste e continua a sair para o mar, onde enfrenta uma batalha que quase lhe tira a vida.

É uma história sobre resiliência e sobre uma luta incessante pelo que se quer, apesar de todas as dificuldades. Para mim foi também sobre a forma como nos prendemos a coisas que nos vão desgastando e nos vão fazendo perder oportunidades.

Gostei do livro e das reflexões que me trouxe, embora não tenha adorado a escrita do autor. Tenciono ler mais alguma coisa dele, para perceber se realmente não funciona comigo ou se foi só desta vez.