quarta-feira, 29 de abril de 2015

Filme: Anna Karénina (2012)


Bem, finalmente tirei algum tempo para ver este filme. Queria mesmo saber como tinha ficado a adaptação cinematográfica deste livro do Tolstoi, cuja opinião já escrevi por aqui no blog. Além disso, adoro a Keira Knightley e, apesar de não a ter imaginado a ela como Anna Karenina, o facto de ela aparecer no filme, deu-me ainda mais vontade de o ver. Para não falar da banda sonora, que já tinha ouvido, durante a leitura do livro, e que tinha adorado.

O filme acaba por se focar principalmente na história da Anna Karenina, deixando um pouco de lado os outros personagens, que para mim, foram absolutamente essenciais no livro. No entanto, Anna Karenina é a protagonista desta história, por isso faz sentido que o filme se tenha centrado na sua história. 

No geral, gostei do filme. Não se tornou num dos meus filmes preferidos, mas foi uma boa experiência, apesar de se ter perdido um pouco da profundidade do livro. Gostei bastante da ideia de fazer parecer que toda a história se passa num palco. Há uma continuidade entre cada cena e por vezes vêm-se mesmo os cenários mudar atrás dos personagens, o que dá ainda mais essa imagem de um teatro. Assim como a própria forma como os personagens se movimentam, por vezes, semelhante a uma dança.

Mais especificamente, uma das minhas cenas preferidas do livro é, tal como já mencionei na resenha, a primeira vez que vemos a Anna Karenina e, ao mesmo tempo, a primeira vez que ela e Vronski se cruzam. Adorei essa parte, mas no filme perdeu toda a sua "magia" e a Anna Karenina não apareceu como eu a tinha imaginado.

Ainda assim, gostei bastante do filme, no geral. Uma das cenas que, para mim, merece ser destacada, é a cena do baile, onde Anna e Vronski dançam juntos. Foi absolutamente linda e não consegui mesmo tirar os olhos do ecrã, de tão bem construída que foi. A própria evolução da cena, que se vai tornando cada vez mais densa e frenética... ksdhfkj! Muito amor para esta cena! Vou deixar aqui, para quem tiver curiosidade. (Eu, pessoa que odeia spoilers, digo-vos que ver esta cena não vos vai arruinar a experiência de ler o livro ou de ver o filme. É seguro!)


Concluindo, acho que foi um bom filme, com um conceito geral interessante, com umas fatiotas giras e com uma excelente banda sonora (como já disse 19075657 vezes). Contudo, para quem quer conhecer a história, mas está com preguiça de ler o livro, acho que vai perder muito se se ficar apenas pelo filme. Uma das razões para isso mesmo é porque o filme se foca quase totalmente na história da Anna Karenina e mesmo esta é bem mais aprofundada no livro. O ideal, para mim, continua a ser ler primeiro o livro e, depois, ver o filme.


"You can't ask why about love."

terça-feira, 14 de abril de 2015

Resenha: Anna Karénina, Lev Tolstoi


"Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira."

Finalmente tenho este livro lido e já posso falar um bocadinho sobre ele!
Há muito tempo que queria ler autores russos e optei por começar pelo Tolstoi. Um dos seus livros mais conhecidos é o Anna Karénina, publicado em 1877 e foi por esse mesmo que comecei.

Neste livro, o autor não se limitou a contar-nos a história de Anna Karénina, explorando também uma série de outras personagens que acabam por estar todas interligadas. Talvez se possa dizer que, ao longo do livro, vamos seguindo três linhas narrativas, a de Lévin e Kitti, a de Anna e Vronski e a de Oblonski e Dolli.

Esta história passa-se num meio aristocrático, na Rússia, durante o czarismo. Naquela altura a Rússia estava a passar por várias mudanças e os temas dessas mesmas acabam por ser constantemente discutidos por alguns personagens durante os seus encontros sociais, como a criação do zemstvo, o desenvolvimento da agricultura russa, o estatuto da mulher e ainda há tempo para debater questões bélicas.

Como mencionei antes, seguimos três linhas narrativas, cuja existência é absolutamente essencial para que Tolstoi conseguisse levar o leitor a inevitavelmente comparar estas três e ainda para que este conseguisse aproveitar para fazer as críticas sociais que fez.

Focando-me agora só na história da personagem que dá nome ao livro, Anna Karénina é uma mulher que nos é descrita como sendo absolutamente linda, elegante e cativante. O momento em que ela aparece pela primeira vez é descrito de tal forma que nós percebemos imediatamente que é ela. Adorei especialmente essa cena, no comboio, principalmente pela forma como Tolstoi a escreveu:

"Pediu desculpa e ia entrar na carruagem, mas sentiu a necessidade de olhá-la uma vez mais - não por ela ser muito bonita, não pela elegância e pela graça discreta que emanava de toda a sua figura, mas porque havia qualquer coisa de especialmente gentil e terno na expressão do seu rosto quando passou ao lado dele. Quando ele olhou para trás, ela também voltou a cabeça. Os seus olhos cinzentos e brilhantes, escurecidos pelas densas pestanas, detiveram-se amigáveis e atentos no rosto dele, como se o reconhecesse, e de imediato se desviaram para a multidão que se aproximava, como que há procura de alguém. Nesse breve olhar, Vronski conseguiu notar uma vivacidade contida, que brincou no rosto dela e esvoaçou entre os olhos brilhantes e um sorriso quase impercetível que lhe arqueou os lábios vermelhos."

Resumidamente, Anna era casada com um homem bastante importante na sociedade, de quem tinha um filho, mas eventualmente apaixona-se por outro homem, Vronski. Contrariamente ao que acontecia com outras mulheres que cometiam adultério, Anna decide aceitar os seus sentimentos e, mesmo sabendo que, ao fazê-lo, teria que abandonar o filho, opta por não se esconder. Assim, a sociedade fica a saber do seu caso extra-conjugal com Vronski, o que faz com que ela passe a ser olhada de lado, como sendo uma mulher má e desprezível, pela maior parte das pessoas.

Não vou contar mais, porque se o fizesse ia estar aqui a escrever para sempre, tendo em conta o enorme conteúdo deste grande livro e visto que existem nele imensos temas que poderiam ser discutidos. Não o vou fazer aqui, como é óbvio. Digo só que é um livro excelente e que devia ser lido por todos, visto que acaba por abordar vários temas, que podem interessar a várias pessoas. A escrita do Tolstoi é clara e deliciosa. Este é um livro que se lê bem, não estando cheio de "palavras difíceis". Além disso, como segue várias personagens, que (já agora) são exploradas de forma profunda e bem desenvolvidas ao longo do livro, há sempre algo a acontecer, o que faz com que o queiramos estar sempre a ler. Posso também dizer que, embora adore a Anna Karénina e ter ficado muito triste com o desfecho dela (apesar de já o saber mais ou menos), acho que o meu personagem preferido é o Lévin. Curiosamente, segundo o posfácio da minha edição, escrito pelo Vladimir Nabokov, este homem (Lévin) é o personagem mais próximo do próprio autor, o que eu achei interessante.

Provavelmente havia mais coisas que eu queria mencionar, mas que já me esqueci. Vou só dizer que adoro a edição que comprei (a da imagem), mas que quem não conhecer nada da história e não quiser ficar a saber demais, como era o meu caso, não leia o que está na contra-capa. Além disso, uma boa ajuda para entrar no mood para ler este livro é estar a ouvir a banda sonora do filme, o qual eu tenciono ver entretanto e talvez até venha aqui dizer aquilo que achei dele.

Tornou-se num dos meus livros preferidos, por isso é óbvio que o recomendo!