domingo, 5 de julho de 2020

To The Lighthouse, Virginia Woolf

Desde que reli "Mrs. Dalloway", que pretendo conhecer toda a obra de Virginia Woolf. Ficou claro na altura que a escrita desta mulher é inigualável e tão especial. A leitura de "To the Lighthouse" veio confirmar isso mesmo.

Desta vez li em inglês e confesso que, embora me sinta bastante à vontade a ler nesta língua, tinha algum receio de vir a ter dificuldades em compreender inteiramente a escrita da Virginia. Isto confirmou-se de facto, tanto que senti necessidade de reler o primeiro capítulo numa versão traduzida, de maneira a ter a certeza que tinha compreendido bem o que estava a acontecer. Eventualmente ao longo do livro, experimentei ler algumas partes ao mesmo tempo que ouvia a narração em audiobook, o que também foi uma experiência muito boa. No fundo, não é um livro que se leia enquanto se divide a atenção com outra coisa qualquer. E esta tem sido a minha experiência com a escrita da Virginia. Os livros dela são imersivos e exigem quem entremos neles e prestemos atenção ao que nos está a mostrar.

Como já é habitual no que conheço dos livros desta autora, o mais importante não é necessariamente o enredo, no sentido em que o foco não está numa narrativa cheia de ação e reviravoltas estonteantes. Aqui acompanhamos as férias de uma família inglesa, os Ramsay, que todos os anos vão passar uns tempos numa casa situada numa ilha escocesa.

É um livro curto (cerca de 154 páginas) e que, em termos de estrutura, está dividido em três partes: The Window, Time Passes e The Lighthouse. Na primeira parte é-nos feita uma pintura do quotidiano desta família, em interação uns com os outros e com as pessoas que habitam aquela ilha e com quem já desenvolveram alguns laços. Vamos tomando consciência do que pensam uns dos outros e da forma como olham para as mesmas coisas, tendo cada um o seu ponto de vista. Nas restantes partes, como o título indica, o tempo passou e vamos ver o que isso trouxe para estas pessoas.

"(...) how life, from being made up of little separate incidents which one lived one by one, became curled and whole like a wave which bore one up with it and threw one down with it, there, with a dash on the beach."

É-me sempre muito difícil organizar todos os pensamentos em relação a um livro da Virginia Woolf, porque sinto que quanto mais tempo passa e quanto mais penso, mais ideias surgem e mais encantada fico com o impacto da escrita dela. Este é um livro sobre a passagem do tempo, sobre a marca que deixamos na vida uns dos outros e sobre memórias. É sobre como algumas coisas nos deixam e outras nunca mudam, dando-nos um porto seguro onde podemos voltar. Faz-nos pensar sobre como nunca há só uma forma de olhar as coisas e sobre como muitas vezes assumimos juízos de valor em relação a alguém com base apenas num ponto de vista, que será sempre incompleto.

Gostei muito deste livro, que dizem ser o mais autobiográfico dos seus romances. Quero muito relê-lo e continuar a deixar-me levar pela escrita tão bonita desta autora tão especial.