quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Davam Grandes Passeios aos Domingos enquanto Bebiam Gin-Tonic

Tinha pensado em não escrever a minha opinião sobre estes dois livros, mas decidi que era útil fazê-lo, principalmente por causa da minha memória de peixe, que agradece muito o trabalho que lhe facilito sempre que eu escrevo sobre os livros que leio.

C O N T O S   D O   G I N - T O N I C

Já andava há algum tempo à procura de uma edição dos Contos do Gin-Tonic, do Mário-Henrique Leiria, mas este livro já não é editado em separado. Atualmente temos uma edição com toda a ficção deste autor, incluindo os contos deste livro, mas para mim não compensava o investimento, já que apenas queria perceber se gostava desta obra específica. Até que encontrei uma única edição perdida nas estantes da biblioteca, por requisitar desde há dez anos. Trouxe-o logo comigo! Era desta que ia ler os Contos do Gin-Tonic! 

Sendo um livro de contos, fui lendo aos poucos, enquanto acompanhava com outras leituras. É um livro muito curtinho, com a maioria dos contos a ocupar apenas uma, duas ou três páginas, então lê-se bastante depressa, embora a certa altura desesperasse por chegar ao seu final. Não desisti da leitura, porque não é costume e porque, sendo um livro de contos, estava sempre à espera que o próximo fosse melhor. Não posso dizer que não gostei deste livro, apenas que ficou aquém das minhas expectativas. Não sei bem o que esperava dele, mas a maioria dos contos foi-me indiferente, embora tenha gostado bastante de alguns. São feitas muitas referências sociais e políticas, nomeadamente à guerra colonial, o que me deixou a pensar como é que este livro terá passado na censura. Dos contos de que gostei, alguns muito desenháveis, destaco o facto de serem surrealistas, de nos fazerem sentir que espreitamos para dentro de um sonho e o recurso ao humor, muitas vezes negro. Mesmo não tendo adorado, foi uma boa experiência.


D A V A M   G R A N D E S   P A S S E I O S   A O S   D O M I N G O S

Numa outra ida à biblioteca, com o propósito de explorar um bocadinho mais o mundo da poesia, acabei por trazer comigo um livro de prosa do português José Régio, de quem apenas conhecia alguns poemas. Trouxe o Davam Grandes Passeios aos Domingos, uma pequena novela com menos de 100 páginas, inicialmente com a ideia de o tentar ler em 24 horas e participar no projeto da Silvéria. A vida meteu-se no meio e demorei um bocadinho mais a lê-lo do que tinha planeado, mas foi uma leitura muito prazerosa
Sendo muito curto, não vou dar muitos detalhes, para não estragar a experiência de quem o queira ler. Trata-se da história de Rosa Maria, uma jovem que se muda para Portalegre para viver com uma tia rica, depois da morte da mãe. Ao longo destas curtas páginas vamos conhecendo esta protagonista insegura e vamos acompanhando a forma como se está a adaptar à sua nova vida. Atravessamos com ela os dias nostálgicos, em que vê pela janela a paisagem alentejana e relembra os dias passados com a mãe; mas também os dias em que tem que se embrenhar na cultura pseudo-aristocrática, movida pelas aparências e pelas mesquinhices. Aqui pelo meio conhecemos também uma paixão confinada apenas às paredes da existência de Rosa Maria e vemos a forma como esta lida com tais sentimentos. A minha veia trágica esperava um final diferente e embora não tenha sido um livro extremamente marcante, gostei da sua leitura.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Gilmore Girls Book TAG

Hoje decidi trazer algo diferente. Quando criei o blog, cheguei a responder a algumas tags e tinha guardado outras que me pareciam engraçadas e esta é uma delas. Adoro a série Gilmore Girls e desde que vi pessoas a responder a estas perguntas, que fiquei com vontade de o fazer também. Se ainda não viram esta série, não sei do que estão à espera! Recomendo muito, especialmente para quem gostar de livros, sentido de humor, sarcasmo, relações familiares, personagens determinadas e CAFÉ!
Então como é que isto funciona? Basicamente, alguém definiu uma frase relacionada a cada personagem, às quais devemos tentar corresponder um livro ou uma personagem de um livro.


Lorelai Gilmore: A character with a witty or sarcastic sense of humor

Eu adoro pessoas com sentido de humor e eu própria recorro tantas vezes ao sarcasmo, que por vezes quem me rodeia fica sem perceber bem se eu estava a falar a sério ou não. Ainda assim, foi-me muito difícil pensar num livro com personagens sarcásticas. Até que me lembrei de Orgulho e Preconceito, da Jane Austen e do pai da Elizabeth Bennet, que tem muito pouca paciência para os dramas da sua esposa, o que, através das mãos da Jane Austen, o coloca em diálogos bastante engraçados para o leitor, que lê neles o seu sarcasmo. (Tenho saudades deste livro...)


Rory Gilmore: Your favorite classic

Sou uma pessoa muito indecisa, então custa-me muito escolher qualquer coisa, ainda pior quando me pedem para escolher favoritos. Adoro ler livros clássicos, como falei recentemente neste post, então é difícil escolher só um. Adoro o Não Matem a Cotovia, da Harper Lee, o Jane Eyre, da Charlotte Brontë, entre outros, mas desta vez acho que tenho mesmo que escolher o Wuthering Heights, Emily Brontë. Adorei reler este livro e tenho a certeza que eu, pessoa que não costuma reler livros, irei reler este mais um milhão de vezes.




Luke: A book you secretly love, but are afraid to admit

Não consegui pensar em nenhum livro para esta categoria. Na verdade não tenho vergonha de qualquer livro que li. Tenho vergonha é daqueles que ainda não li!






Lane: A musical character

Demorei muito tempo a lembrar-me de alguém para esta categoria. Estava prestes a desistir, até que me lembrei de Senhor dos Anéis! Na Terra Média é típico criarem-se canções para imortalizar feitos históricos, então ao longo dos livros vão surgindo vários poemas que eram por eles cantados, especialmente durante as suas longas caminhadas. 





Dean: Your first book love

Esta foi fácil! Antes deste, houve um livro que foi o primeiro a prender-me à leitura, mas se estivermos a falar de crushes literárias (que na verdade não costumo ter), tenho que obviamente mencionar Crepúsculo, da Stephenie Meyer. Na altura em que li esta série, devorei-a. Foi ela que cimentou em mim o hábito da leitura e era com o Edward Cullen que sonhava explorar as florestas de Forks. E não, nunca me deixei seduzir pelos abdominais do Jacob!



Sookie: A book you’ve devoured

Para esta lembrei-me imediatamente de um livro que comprei e no próprio dia me sentei a folhear as primeiras páginas. Pensei que ia ler só o primeiro parágrafo, para matar a curiosidade que um livro acabado de comprar traz sempre consigo. Quando dei por ela, já não conseguia parar. Embora já me tenha esquecido de muita coisa desta história, lembro-me de ter gostado muito do primeiro contacto com a escrita do Albert Camus. Um dia preciso de o reler!




Jess: A book you love, that gets the most hate

Esta também é difícil, porque embora algumas pessoas não gostem deste livro, acredito que se deva ao contexto em que têm contacto com ele. Podia estar a falar d'Os Maias, do Eça de Queiroz, mas decidi escolher o Memorial do Convento, do José Saramago. Qualquer livro de leitura obrigatória levanta alguns ódios ou expressões de enfado, porque a maioria das pessoas não gosta de fazer coisas por obrigação. Já eu, adorei este livro e a oportunidade de o ter estudado em aula. Já com Os Maias, reconciliei-me anos mais tarde.




Miss Patty: A book that was ruined by the hype

Estive quase a não responder a esta, porque não sinto que tenha gostado menos de algum livro por causa da sua fama. A única pseudo resposta que poderia dar seria um livro que terminei esta semana, o Contos do Gin-Tonic, do Mário-Henrique Leiria. Tinha as expectativas muito elevadas em relação a este livro e, embora tenha sentido que a minha experiência com ele ficou aquém do esperado, não sinto que tenha sido pela sua fama.




Emily Gilmore: An expensive book

Não considero nenhum dos meus livros caros, porque não dou muito dinheiro por nada (eheh, pobre ou capricorniana - or both!). A maioria dos livros que tenho são em segunda mão ou comprados em saldos, então não tenho nenhum livro muito caro. Talvez os mais caros sejam livros técnicos, mas não vou incluir esses aqui. Escolhi esta edição do Anna Karenina, que comprei a metade do preço, mas fora os livros técnicos, deve ser o mais caro que tenho.





Paris: An uptight character

Foi difícil escolher alguém para aqui. Pensei na Hermione Granger, por ser uma pessoa empenhada, determinada, estudiosa e um bocadinho neurótica como a Paris. Ainda assim, decidi escolher a personagem mais control freak que conheci: o Ebenezer Scrooge, do A Christmas Carol (Charles Dickens).





Richard Gilmore: A character death you will never get over

Não, não vou escolher nenhuma personagem de Harry Potter (até porque ainda só li até ao quarto livro e até aí ainda não morreu ninguém com quem eu me importasse muito). Vou mesmo referir o meu querido Afonso da Maia! Meu deus... Reli Os Maias há mais ou menos um ano e já não me lembrava de quase nada, tirando a parte dos manos in love. Quando chego à parte em que o Afonso da Maia morre... Fiquei de coração partido! Era uma das minhas personagens preferidas... 




Logan: A character who has gone through the most development

Pensei imediatamente no Scrooge assim que li isto, porque é uma personagem que muda bastante ao longo da história. Ainda assim, decidi escolher outro livro, até porque adoro histórias em que acompanhamos personagens ao longo do tempo e as vemos desenvolverem-se. Com isto, lembrei-me da Jane Eyre! É um livro que quero muito reler e desta vez em inglês, porque adorei a primeira leitura. Conhecemos a Jane desde criança e acompanhamos enquanto se desenvolve numa mulher decidida e muito forte. Uma brilhante história feminista escrita na época vitoriana pela Charlotte Brontë! Quando tiver relido, venho aqui escrever sobre ele.


sábado, 9 de fevereiro de 2019

Northern Lights, Philip Pullman


Hoje venho contar como foi a minha experiência com Northern Lights (A Bússola Dourada), o primeiro livro da trilogia His Dark Materials, de Philip Pullman. Publicado em 1995, este livro "infantil" terá gerado alguma controvérsia, dada a presença da religião nesta história e as subsequentes acusações de promoção do ateísmo. Tendo lido apenas o primeiro livro, não concordo nada com isto e já vos explico o porquê.

Comecemos por um breve resumo, para saberem com o que contar, caso queiram conhecer esta história. Tal como disse, este é um livro "infantil". Uso as aspas por achar que de facto este livro pode ser lido e apreciado por crianças/pré-adolescentes, mas é tão complexo, que tenho a certeza que muito do seu conteúdo vai passar completamente despercebido. Eu própria senti necessidade de ir pesquisar sobre alguns aspetos deste mundo, que não tinham ficado (e ainda não estão) muito claros para mim. 

S I N O P S E

Esta narrativa passa-se num mundo bastante semelhante ao nosso, apenas com algumas diferenças, nomeadamente o facto de cada ser humano se fazer acompanhar para toda a vida de um daemon. Este é uma representação física da alma humana e apresenta-se na forma de um animal, sendo que até à puberdade, este pode adotar diversas formas, acabando por depois se fixar apenas numa. Estes daemons não se podem afastar muito dos seus humanos e são um dos aspetos mais giros desta história. Também gostava de ter um e seria na forma de um gatinho, de certeza!

A protagonista da história é a Lyra, uma menina de 10/11 anos, que terá ficado orfã, acabando por crescer num colégio em Oxford. É aqui que a encontramos no início da história, enquanto vagueia pelos corredores deste Jordan College e explora salas interditas, sempre na companhia do seu daemon, o Pantalaimon. É numa destas salas que acaba por se esconder e ouvir uma conversa intrigante entre Lord Asriel, o seu tio e investigador, e outros académicos. É aqui que, pela primeira vez, ouve falar de uma poeira misteriosa, que está a ser alvo de estudos no Norte, nomeadamente dada a sua relação com as northern lights (aurora boreal).

Ao mesmo tempo que isto acontece, temos também uma epidemia de desaparecimentos de crianças, que são levadas pelos gobblers e ignoradas pela polícia. Uma dessas crianças que desaparece é o Roger, melhor amigo da Lyra, o que faz com que a nossa protagonista decida ir em busca de respostas, de maneira a tentar perceber o que é que acontece com estas crianças, quem as leva, para onde e porquê. É neste sentido que se junta a uma comunidade cigana, da qual têm desaparecido o maior número de crianças, e parte com eles para Norte, onde se suspeita que estejam a ser realizadas experiências científicas com estas crianças.

O P I N I Ã O

Um dos aspetos mais interessantes e, certamente, o mais misterioso desta história é a tal poeira. Ficou muito pouco claro para mim, assim como para a Lyra, o que era isto e porquê tanto estudo à volta destas partículas invisíveis. Nos últimos capítulos é-nos dada mais informação sobre isto, embora seja feito de uma forma demasiado apressada e, na minha opinião, no momento errado.

Ao pesquisar sobre isto, percebi que não estava sozinha e que de facto é um dos aspetos que levanta mais reflexões e interpretações, especialmente dado que esta poeira é tão temida pela Igreja, que neste livro constitui uma instituição com bastante poder político. Pelo que vamos percebendo, temos cientistas a trabalhar no sentido de eliminar a influência desta poeira nos seres humanos, embora não cheguemos bem a perceber por que razão o fazem e de maneira tão cruel. Isto acaba por levantar a questão de se esta poeira é realmente má ou se apenas não dá jeito a algumas pessoas (*cofcof* à Igreja). Pelo que percebi, esta é uma das questões levantadas na polémica ao redor destes livros, já que a Igreja é vista como os bad guys, que permitem que pessoas cometam atrocidades com base nos seus dogmas. Embora ainda só tenha lido o primeiro livro, entendi apenas que o autor tenta levantar o véu do pensamento crítico, levando a própria protagonista a questionar-se quanto àquilo que as pessoas à sua volta lhe têm transmitido.

Quanto terminei o livro, senti que tinha gostado, mas que não tinha chegado às expectativas que tinha para ele. Esperava conseguir entrar num novo mundo de fantasia e sentir-me imediatamente confortável, mas não foi bem isso que aconteceu. Tive algumas dificuldades em envolver-me na história, dada a sua complexidade e a falta de informação que temos inicialmente. Outro aspeto tem a ver com a forma como sinto que as personagens foram pouco desenvolvidas, assim como as relações entre elas, o que me fez ter algumas dificuldades em empatizar com elas. Conhecemos muito pouco a personalidade de cada interveniente nesta história, onde penso ter sido dado maior ênfase para o que ia acontecendo (que é muita coisa!). Ainda assim, olhando agora para o livro como um todo, posso dizer que gostei e que me deixou curiosa para saber o que virá a seguir e para onde irei com a Lyra depois daquele final!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Filmes: Os Primeiros do Ano

O (interminável) mês de Janeiro chegou ao fim e, apesar de ter estado mais dedicada a livros e séries, consegui ver alguns filmes. Normalmente escolho falar só de alguns aqui no blog, mas quem quiser saber todos os que vou vendo, basta acederem à minha conta no Letterboxd.

Comecei o ano cinematográfico da melhor maneira com o Schindler's List (Steven Spielberg, 1993). Sempre tive vontade de ver este filme, mas a sua longa duração sempre me deixou hesitante. São mais de três horas de filme, o que acaba por ser um grande investimento do nosso tempo, mas vale muito a pena. 
Este conta a história de Oskar Schindler, um empresário alemão, que acaba por salvar a vida de centenas de judeus, durante a 2ª Guerra Mundial. Fá-lo, definindo cada pessoa essencial para o funcionamento da sua fábrica, impedindo que sejam levados para campos de concentração, como Auschwitz. Gostei muito de conhecer esta história, que me fez descobrir da existência de outras semelhantes (ex: o nosso Aristides de Sousa Mendes), e que nos faz refletir sobre como aquilo que julgamos serem pequenas ações, podem de facto ter um grande impacto na vida dos outros. Este é um filme que ficou muito presente em mim, em especial um diálogo entre Oskar Schindler e outra personagem, onde ele diz o seguinte: 

"They fear us because we have the power to kill arbitrarily. A man commits a crime, he should know better. We have him killed and we feel pretty good about it. Or we kill him ourselves and we feel even better. That's not power, though, that's justice. That's different than power. Power is when we have every justification to kill - and we don't."



De seguida, decidi saltar o livro de David Sheff e ver primeiro a sua adaptação cinematográfica. Beautiful Boy (Felix van Groening, 2018) é um filme que dá imagem às palavras escritas por um pai (David Sheff, interpretado por Steve Carell), acerca do percurso do seu filho (Nic, interpretado por Timothée Chalamet) no mundo das drogas. É uma história baseada em pessoas que realmente existem, o que torna a sua visualização um pouco mais dura. É mais uma história de um adolescente que entra neste mundo, de maneira a escapar do real e a testar os seus limites, não sabendo depois como sair. Vemos tudo isto através da perspetiva do pai e apercebemo-nos do impacto de toda a problemática na relação de ambos e na vida familiar. São tomadas decisões difíceis, o que nos faz empatizar bastante com os protagonistas. Chegamos ao fim (ou pelo menos, eu cheguei) com vontade de ir lá tentar ajudar estas pessoas, não só as que partilharam a sua história através deste filme, mas também todas as outras que sabemos que existem. São grandes os números e só espero que a banalidade destes casos não nos torne insensíveis a eles.


Um dos últimos filmes que vi este mês foi To All The Boys I've Loved Before (Susan Johnson, 2018). Nunca li o livro, mas já tinha ouvido falar desta história e já me tinham recomendado o filme como algo leve para se ver quando estamos a precisar de descontrair. E foi isso mesmo. Tinha passado o dia a ler, então apetecia-me terminá-lo de uma forma descontraída, sem ter que me esforçar muito. Estava com sono, então previa que fosse adormecer a meio do filme, mas surpreendeu-me bem. Fiquei agarrada a ele do início ao fim. É claramente um daqueles filmes adolescentes, que explora a forma como as relações amorosas são vividas (ou sonhadas) nessa fase da vida. A sua premissa é engraçada, visto que temos então uma jovem adolescente (Lara Jean, interpretada pela Lana Condor) que desde criança tinha o hábito de escrever cartas onde declarava o seu amor pelos rapazes por quem se sentia apaixonada. Fazia-o como forma de ter provas para se lembrar a si própria de como era possível sentir algo tão forte por alguém, guardando-as a todas. Até que pronto, alguém as encontra e decide enviá-las aos seus destinatários, desde o menino por quem ela se sentiu atraída quando tinha oito anos, até ao rapaz de quem ela gosta atualmente. Pronto, já conseguem imaginar a trapalhada que ela teve que resolver, não é? Gostei deste filme, porque teve momentos engraçados e achei algo perfeito para se ver num domingo à tarde, com a chuva lá fora e umas mantinhas no colo.


Por fim, o último filme que vi este ano, e do qual acho que vale a pena falar, foi o documentário Stories We Tell (Sarah Polley, 2012). Sabia muito pouco sobre ele e aconselho que façam o mesmo, de maneira a se deixarem surpreender. Este documentário consiste numa série de entrevistas feitas pela realizadora (Sarah Polley) a familiares e amigos da família, de maneira a reconstruir a sua história. Tendo sido fruto de uma gravidez não planeada, Sarah é a filha mais nova dentro de uma família onde já existem filhos bem mais velhos e outros de um primeiro casamento. Ainda muito nova, perde a mãe devido ao cancro, o que a aproxima muito mais do pai. Não vou desvendar mais, até porque a parte engraçada deste filme é ir descobrindo a história através da memória daqueles que são entrevistados. Esta foi uma forma da realizadora explorar a importância das narrativas de vida e da forma como a nossa identidade está muito ligada à maneira como contamos a nossa história; o que acabou por aproveitar para que ela própria reconstruísse a sua história, nomeadamente em relação à sua mãe, que ela tão pouco conheceu.

"I'm interested in the way we tell stories about our lives, about the fact that the truth about the past is often ephemeral and difficult to pin down, and many of our stories, when we don't take proper time to do research about our pasts, which is almost always the case, end up with shifts and fictions in them, mostly unintended."