segunda-feira, 29 de março de 2021

The Bluest Eye, Toni Morrison


Levei algum tempo a assentar as ideias acerca do "The Bluest Eye", da Toni Morrison. A verdade é que quanto mais penso nele, mais me incomoda. Neste livro temos uma criança como narradora da história, a Claudia, uma menina negra que vive com os pais e a irmã mais velha em Ohio. Mas não é ela a protagonista. Conhecemos a história dela, mas sobretudo a de Pecola, outra criança negra da mesma escola, mas proveniente de uma família bem diferente da sua. Creio que se pudesse argumentar que se tocam em alguns pontos, especialmente no que diz respeito à forma como em ambos os casos tiveram que adotar estratégias de maneira a se adaptarem ao racismo e à exclusão, seja através do silêncio e do assumir de papéis, seja através da revolta e da exteriorização.

O livro está divido em quatro estações e aborda questões tão violentas, mas de uma forma tão leviana e inocente, própria do olhar na terceira pessoa com que vemos a história desenrolar-se. Apesar de a considerar a protagonista, nunca conhecemos bem Pecola de perto. Temos apenas vislumbres daquilo que a narradora conhece, o que durante a leitura me fez sentir que estava a assistir a tudo completamente de fora. Não foi para mim uma leitura imersiva e esta distância que fui mantendo, agora incomoda-me porque me escudou de sentir a revolta que deveria ter sentido em vários momentos nesta leitura. Mas foi um livro desconfortável e tive que desviar o olhar algumas vezes. Custou muito ler algumas das cenas pelas quais Pecola passou e várias passagens onde sentimos uma compaixão tremenda pelo sofrimento daqueles que se sentem feios e completamente postos à parte pela cor de pele que têm. 

A questão da beleza e dos padrões sociais está muito bem trabalhada neste livro e fui-me sentindo triste com a forma como se aceita e integra uma data de preconceitos e com o impacto que isto tem na identidade e autoestima. Quanto mais penso nele, mais zangada me deixa e com mais vontade fico de ler outras coisas da autora. Que mestria na escrita! Entretanto, vi uma entrevista dela acerca deste livro, que deixarei aqui também. Recomendo, porque acho um livro importantíssimo de ser lido e uma história que precisa de ser ouvida, mas é muito duro e poderá ter algumas passagens mais triggering ligadas à violência e o abuso sexual.