domingo, 27 de setembro de 2020

As Vinhas da Ira, John Steinbeck



Há muito que queria ler "As Vinhas da Ira", do Steinbeck e, assim que disse que ia iniciar esta leitura, várias pessoas me disseram que era um favorito, que tinha sido um livro muito marcante e até difícil de ler, pela dureza do seu conteúdo, e que era um livro de brutal importância social. Tudo coisas que me agradaram, portanto.

Neste livro acompanhamos a viagem de uma família, que parte do estado do Oklahoma em direção à Califórnia. Isto dá-se nos anos 30, após o crash da Bolsa (1929), e numa altura em que todas as condições, seja climatéricas, financeiras ou sociais, levam a que esta família se veja obrigada a deixar a sua casa. Os terrenos deixaram de produzir, as máquinas começam a substituir o Homem e os bancos a destruir as casas dos que para eles se tornam em indesejados. Foi o caso desta família e de milhares de outras, que perante a fome e a pobreza se vêem obrigadas a deixar as suas casas onde permaneceram durante gerações, em busca de outras oportunidades e de algum sítio onde as deixassem viver e trabalhar.

Esse sítio era a Califórnia e é para aí que vão os Joad, a família que conhecemos aqui. Vendem tudo o que têm, de maneira a conseguirem as condições para a longa viagem. Vão atrás de um folheto onde anunciam precisarem de trabalhadores. Mas vão eles e muitos, muitos outros, com os quais nos vamos cruzar.

Confesso que levei algum tempo a envolver-me com esta leitura, mas a partir de certa altura passamos a importar-nos com as personagens e a querer vê-las bem. Vemos a luta diária por que passam, em busca de algo tão simples como um sítio para viver e trabalhar, onde sejam tratados de forma digna. E isto é precisamente o contrário daquilo que eles (e nós, através dos seus olhos) vão encontrando pelo caminho, onde são constantemente explorados por parasitas.

Este é realmente um livro com uma tremenda importância social e mantém-se atual nos dias de hoje. Felizmente algumas coisas mudaram, mas atualmente continuamos a viver num mundo em que temos baixas remunerações e em que o trabalhador ou aceita ou virá outro atrás de si a correr ocupar esse lugar. Estes livros ajudam-nos a perceber o caminho que tem sido percorrido, mas como ainda não podemos parar.

Foi duro viver estas páginas com estas pessoas. Steinbeck não nos poupa à dureza desta realidade que ele tão bem conheceu e brinda-nos com um final dos mais marcantes de sempre, e que vem confirmar a resiliência e o importante papel feminino nesta história, onde a personagem mais forte é uma mulher.