Penso que demorei imenso tempo a lê-lo, por causa da minha relação com a escrita da Natália Correia. É uma escrita nada linear, com muitos ornamentos, figuras de estilo e algum fluxo de consciência, o que tornou a narrativa pouco clara para mim, especialmente durante a primeira metade do livro. Um lado positivo é que tem passagens muito bem conseguidas, que criam imagens bonitas na cabeça do leitor, como esta: "Uma onda de longínquos sinos, empurrada por um vento leve, quebrava-se nos rochedos num cantante estilhaçar de vidros."
Ainda assim, na primeira parte do livro, tive imensa dificuldade em perceber o que estava a acontecer e em que espaço e tempo é que o narrador nos estava a colocar, talvez por causa do uso excessivo da analepse e prolepse. Provavelmente terá a ver com uma questão de gosto pessoal e com a forma como o próprio escritor constrói a história recorrendo a estas ferramentas, mas sinto que nem sempre foi bem conseguido. Porque, embora na segunda metade do livro, algumas pontas soltas se comecem a atar e alguns aspetos fiquem mais claros, sinto que perdi muito do que li na primeira parte.
Por isso, este é provavelmente um livro que deveria reler, para poder voltar lá atrás e apanhar aquilo que me escapou. Ainda assim, não tenho muita vontade de voltar a passar por aquela teia toda emaranhada tão cedo. Mas hei-de voltar! (Um dia...)
Um aspeto que me foi muito útil a certa altura, foi ter pesquisado uma síntese deste livro. Ajudou-me a criar uma base para perceber mais ou menos a linha narrativa que estaria por debaixo deste floreado. Por isso, acho útil dizer algumas coisas sobre a história, para quem quiser levar daqui um mapa antes de ler este livro.
A personagem principal desta história é a Branca, uma jovem natural de Briandos, que sai de Portugal após a polémica morte do pai. Daí parte para o mundo, passando por várias capitais europeias e colhendo em cada uma delas alguma da irreverência e liberdade, nada típicas de Portugal dos anos 60. Um dos temas deste livro parece ser esse contraste entre o panorama rural português, particularmente dotado de machismo, e a efervescência e crescimento de cidades como Paris. A personagem está constantemente dividida entre estes dois cenários, o que é notável ao longo da escrita, pois vai saltitando entre os dois.
E dividida está também a minha opinião, dado que cheguei a pensar em desistir desta leitura. No entanto, sinto que fiz bem em insistir até ao fim, visto que acabei por gostar (o que é visível pela quantidade de anotações). Os pontos fortes deste livro, além da escrita poética da Natália Correia (que por vezes pode tornar-se um pouco hermética e deixar de ser um ponto assim tão positivo), é a crítica social e a forma como explora o papel da mulher na sociedade e na relação consigo mesma. Destaco o momento de "lucidez" da mãe de Branca, após tomar conhecimento do adultério do marido; e os momentos de apreciação e reflexão acerca do próprio corpo por parte de Branca, que é vivido com grande ambivalência. O próprio rumo que a vida de Branca levou é algo bastante irreverente, não só com a saída de Portugal, mas também a forma como viveu as relações que teve, recusando-se a ser a mulher submissa, que serve apenas para obedecer ao marido, cozinhar, casar e ter filhos.
Este é um livro que trabalha temas relacionados com o papel da mulher, que são ainda hoje muito importantes e necessários, especialmente em Portugal. Tendo sido publicado em 1968, é de um valor ainda mais acrescido, dado o contraste entre a forma como a mulher é nele retratada e como esta se comportava na realidade de um país conservador e sob uma ditadura. Tenho a certeza que um dia o irei reler e recomendo, embora reconheça que não será um livro que vai agradar a todas as pessoas.
Quanto à série "3 Mulheres", disponível no site RTP Play, embora ainda não tenha terminado de assistir a todos os episódios, esta é uma janela para essa mesma irreverência e para o papel importantíssimo de três mulheres, que contribuíram bastante para a cultura no nosso país. Mostraram que uma mulher também pode ser jornalista, pode escrever e publicar poesia erótica e satírica, pode fundar uma editora e pode ser o que ela quiser.
E dividida está também a minha opinião, dado que cheguei a pensar em desistir desta leitura. No entanto, sinto que fiz bem em insistir até ao fim, visto que acabei por gostar (o que é visível pela quantidade de anotações). Os pontos fortes deste livro, além da escrita poética da Natália Correia (que por vezes pode tornar-se um pouco hermética e deixar de ser um ponto assim tão positivo), é a crítica social e a forma como explora o papel da mulher na sociedade e na relação consigo mesma. Destaco o momento de "lucidez" da mãe de Branca, após tomar conhecimento do adultério do marido; e os momentos de apreciação e reflexão acerca do próprio corpo por parte de Branca, que é vivido com grande ambivalência. O próprio rumo que a vida de Branca levou é algo bastante irreverente, não só com a saída de Portugal, mas também a forma como viveu as relações que teve, recusando-se a ser a mulher submissa, que serve apenas para obedecer ao marido, cozinhar, casar e ter filhos.
Este é um livro que trabalha temas relacionados com o papel da mulher, que são ainda hoje muito importantes e necessários, especialmente em Portugal. Tendo sido publicado em 1968, é de um valor ainda mais acrescido, dado o contraste entre a forma como a mulher é nele retratada e como esta se comportava na realidade de um país conservador e sob uma ditadura. Tenho a certeza que um dia o irei reler e recomendo, embora reconheça que não será um livro que vai agradar a todas as pessoas.
Quanto à série "3 Mulheres", disponível no site RTP Play, embora ainda não tenha terminado de assistir a todos os episódios, esta é uma janela para essa mesma irreverência e para o papel importantíssimo de três mulheres, que contribuíram bastante para a cultura no nosso país. Mostraram que uma mulher também pode ser jornalista, pode escrever e publicar poesia erótica e satírica, pode fundar uma editora e pode ser o que ela quiser.