Só de estar a parar para escrever sobre este livro, já me está a dar vontade de o reler imediatamente. Foi o meu primeiro contacto com a escrita do escritor uruguaio Mario Benedetti. Entretanto já tenho na estante outro livro dele para ler, porque me apaixonei com este. Começo a conhecer-me melhor enquanto leitora e já percebi que há temas que são um ponto chave para mim, como é o caso da memória e da passagem do tempo.
Em "A Borra de Café" acompanhamos o Claudio, enquanto recorda episódios da sua infância e juventude, nomeadamente os lugares e as pessoas que os povoaram, atribuindo a cada um uma identidade muito característica e um papel importante na sua vida.
A forma como Benedetti o faz não se torna num amontoado de acontecimentos, sem qualquer ligação. A escrita bonita, com sentido de humor e alguma ironia, transmite uma ideia bastante realista da forma como as nossas memórias estão também pautadas por emoções e de como funciona quando olhamos para elas de um ponto de vista do nosso futuro.
A sensação ao ler este livro é de uma enorme proximidade com o protagonista, como se estivéssemos com ele a percorrer os caminhos da sua memória e a rever sítios, pessoas, relações e sentimentos, com o adicional pensamento crítico do futuro, que não deixa de fazer transparecer a ingenuidade e doçura de vários momentos nos quais entramos. E digo "entramos", precisamente porque me senti completamente imersa neste livro. Largava-o apenas porque tinha mesmo que ser, ou porque outras obrigações chamavam ou porque não o queria acabar, mas ia com ele na cabeça.
É um livro com capítulos curtos e uma quantidade absurda de passagens bonitas ou marcantes pela ironia ou sentido de humor, que nos deixam com um travo mordaz a pensamento crítico e ajudam a estabelecer a ligação entre autor e leitor, levando-nos àquele esgar de quem percebeu a mensagem subliminar àquelas palavras.
Já tenho comigo "A Trégua" e mal posso esperar por lhe pegar. Há algum tempo que não me acontecia gostar tanto de um livro desta forma.
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