É um livro que nos deixa desconfortáveis enquanto o lemos, inclusive pela forma como está escrito, colocando-nos nos olhos de Gregor Samsa - que, como podem imaginar, não está a passar por um bom momento. Vemos com ele a forma como a família lida com esta sua súbita e inexplicável mudança e sentimo-nos impotentes ao vê-lo conformar-se com o seu novo estado. Gregor acorda doente no corpo de um inseto, embrenhado num ambiente cinzento e oprimido pela insaciável sociedade movida pelo trabalho, que facilmente o espezinharia.
Assistir à gradual perda de identidade de Gregor e à evolução da reação da família - que passa a ver aquele que antes seria o seu pilar, agora como um empecilho - é algo que vai mexer com as nossas entrenhas. Vamos sentir a tristeza e impotência do Gregor ao ver a situação da família agravar-se cada vez mais, assim como o seu sofrimento ao sentir que não os conseguirá ajudar, muito pelo contrário, sentindo-se cada vez mais um peso.
Tendo lido "Carta ao pai" deste autor, foi impossível não ver aqui resquícios dessa figura paterna tão opressora. A relação com a irmã é a ferida que mais dói nesta história. Este é um livro de digestão difícil, que pode ser lido de diferentes perspetivas e que traz com ele angústias que não perderam a validade e continuam bem atuais.
Sem comentários:
Enviar um comentário