quarta-feira, 3 de abril de 2019

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, Marçal Aquino

Bem, vamos lá então falar sobre Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino, que além de mim e mais meia dúzia de pessoas, ninguém parece conhecer em Portugal. Uma youtuber, com cujo gosto me identifico bastante, falou há uns tempos deste livro e falou tão bem, que assim que o vi à venda por cá, tive que o trazer para casa (até porque não é nada fácil de encontrar!). Geralmente isto não me acontece, mas ela comparou-o aos livros do Bukowski e eu fiquei com a pulga atrás da orelha.

Resumindo, a história passa-se na zona do Pará (Brasil), é-nos contada através da perspetiva do protagonista masculino e é logo desde o primeiro capítulo que sabemos que não podemos esperar dela um final feliz.
Apesar de termos uma linha narrativa principal, com a história do nosso protagonista, pela forma como o livro foi escrito, vamos conhecendo também outras histórias, sempre com um constante balançar entre tempos e espaços. Este recurso a analepses e prolepses às vezes pode dificultar o entendimento da história, por se tornar muito confuso (como eu senti que aconteceu neste livro), mas neste caso foi muito bem feito. Cada cena vai surgindo de forma muito fluída e vamos acompanhando os personagens quase como se estivéssemos a assistir a um filme (que existe e quero muito ver!).
A história é contada na perspetiva do Cauby, um homem fotógrafo que no momento presente se encontra hospedado num motel, onde passa bastante tempo a ouvir as histórias de um velho homem careca, principalmente a história do amor da sua vida, Marinês, por quem mudou completamente de vida. Esta é uma das narrativas paralelas que vamos acompanhando e eram momentos aos quais gostava sempre de voltar ao longo do livro. Ao mesmo tempo em que isto vai acontecendo, vai-nos sendo contada a própria história do Cauby, que se vai lembrando de como tudo aconteceu até ele ir ali parar.
Percebemos que, durante uma visita à loja de fotografia local, Cauby conhece Lavínia, uma jovem bem mais nova que ele e que é a modelo de uma fotografia ali exposta. Apaixonam-se imediatamente um pelo outro, o que é o único aspeto deste livro de que eu menos gostei, porque tendo a ter dificuldades em acreditar nestas paixões imediatas. Contudo, isto surge logo no início do livro e, com o passar das páginas, a relação é muito bem desenvolvida, assim como cada personagem.
Esta é uma história de amor que, na minha opinião (especialmente pela forma tão bonita como foi escrita), não cai no "vulgar". É uma história intensa, não fosse também a Lavínia a mulher explosiva que é. Acho que, agora que a conheço bem, posso dizer que é uma verdadeira personificação da instabilidade emocional! Apesar de ser bem mais nova que o Cauby, esta mulher tem um passado incrivelmente pesado e que vamos conhecendo com o avançar do livro. Com um historial de prostituição, é retirada das ruas por um homem, pastor da igreja local, por quem se apaixona e com quem casa. É neste contexto que conhece Cauby e, como podem já adivinhar, é esta uma questão importante no desfecho desta história, embora não nos moldes que podem estar a prever.

Devo dizer que devorei este livro numa semana (eu, que sou uma slowreader). Inicialmente fez-me alguma confusão a tal questão da paixão repentina, mas isso foi-se desvanecendo, conforme os fui conhecendo. Adorei passar tempo com estes personagens e quando cheguei ao final do livro, apercebi-me da grande história que me tinham acabado de contar. Não se tornou no melhor livro da minha vida, mas foi uma boa experiência com um autor brasileiro contemporâneo, do qual nunca tinha ouvido falar. É um livro quente e húmido, como imagino o Brasil. Gostei muito e recomendo a quem quiser conhecer a relação desta duas pessoas, contada de uma forma muito bonita, poética e crua.

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