São várias as pessoas com quem já surgiu este tema de conversa e de ambos os lados da questão. Já ouvi dizerem que
não percebem quem gosta de fantasia, "mesmo já tendo atingido a idade adulta", e também já ouvi amantes de fantasia (e livros
YA) dizerem que sentem um certo
preconceito por gostarem deste tipo de histórias.
Eu gosto de alguns livros de fantasia e gosto também de livros de outros géneros, então hoje decidi trazer esta reflexão aqui para o blog. Acima de tudo, sou da opinião de que o que importa é que a pessoa leia aquilo de que gosta. Aliás, sinto que muitas pessoas só não se dedicam mais à leitura, porque ainda não descobriram que tipo de livros lhes dão mais gozo ler.
Há uns tempos, pensei
aqui sobre a hesitação que muitas pessoas sentem em relação aos livros clássicos, dadas as ideias pré-concebidas que têm (e.g. serem aborrecidos, desatualizados, com linguagem difícil). Mas por outro lado, há também quem diga não entender a preferência por livros de fantasia, também por causa das ideias que têm em relação a estes. Dizem que nos livros de fantasia, predomina uma realidade que não existe e
que essa busca por entrar num mundo diferente, com criaturas mágicas e poderes sobrenaturais, é algo que deve ser
remetido à infância e à adolescência, como se de um amigo imaginário se tratasse. (Ide ver o
Inside Out e voltem aqui para me dizer se ainda querem ver o vosso amigo imaginário pelas costas!)
Esta ideia, para mim, não faz sentido (e não é por causa da minha nostalgia da infância). É mesmo porque já li livros de fantasia muito bons, que me sugaram para dentro deles com a mesma veemência que o Tom Riddle puxou o Harry para dentro do seu diário (#thingsmuggleswontunderstand). Há quem tenha a ideia de que estes livros são de qualidade inferior, que são feitos apenas para crianças ou adolescentes, com ideias tão básicas que fariam revirar os olhos a qualquer pseudo-intelectual. Mas pelo contrário, a construção de muitos destes mundos de fantasia é extremamente complexa e, contrariamente ao que muitas vezes se lhes associa, nem sempre temos como protagonista uma criança ou adolescente. É claro que lemos, por exemplo, Harry Potter e não vamos encontrar ali a explicação para a origem do universo, mas a vida não é só isso, certo?
Acho que também
depende muito daquilo que cada um procura nos livros. Estão a ler porquê? Só consigo responder por mim. Leio porque me relaxa e me dá muito gosto. Leio porque quero saber mais, porque conhecimento é poder e aprendo sempre qualquer coisa em cada livro, sejam isso factos, vocabulário, histórias, maneiras de sentir, locais diferentes e episódios históricos. Leio porque gosto de ser transportada para outra realidade, seja ela equivalente ao mundo em que habito ou não, porque isso me permite cultivar a minha imaginação e conhecer sítios e situações que de outra forma dificilmente conheceria. Leio porque gosto de ouvir histórias, de conhecer um bocadinho mais do outro e ir além de mim mesma.
Olhando para isto, os livros de fantasia que tenho lido até aqui (e ainda tenho um monte por ler!), preenchem muitos dos requisitos que me fazem gostar de ler. Além de me ajudarem a desenvolver a imaginação e criatividade, levam-me a conhecer histórias noutras realidades, o que me relaxa, porque faz com que me envolva mais facilmente na história e me distraia do que se passa à minha volta. (Quem nunca quis ignorar um bocadinho o mundo em que vive, as responsabilidades e os prazos, que atire a primeira pedra!) Depois o facto do autor ter escolhido transmitir a sua mensagem através dos moldes da fantasia, não significa que não tenha coisas importantes a dizer. Até porque há temas universais, que estão também presentes nestas histórias.
E depois há histórias que merecem ser contadas só porque entretêm. Há pouco tempo, estive na apresentação do livro "Estar Vivo Aleija", do grande Ricardo Araújo Pereira, e ele falou do papel que o humor tem em nos ajudar a lidar com o facto de sabermos da nossa mortalidade. Sabemos que vamos morrer, mas até lá vamos então aproveitar e rir-nos um bocadinho disto. Penso o mesmo dos livros que nos entretêm. O que importa é que sejam uma boa companhia enquanto por cá andamos. Se a pessoa é feliz a ler ensaios filosóficos, políticos e astrocenas, que seja. Se é feliz a ler livros de fantasia, romances românticos, ficção científica, ... Que seja.