O (interminável) mês de Janeiro chegou ao fim e, apesar de ter estado mais dedicada a livros e séries, consegui ver alguns filmes. Normalmente escolho falar só de alguns aqui no blog, mas quem quiser saber todos os que vou vendo, basta acederem à minha conta no Letterboxd.
Comecei o ano cinematográfico da melhor maneira com o Schindler's List (Steven Spielberg, 1993). Sempre tive vontade de ver este filme, mas a sua longa duração sempre me deixou hesitante. São mais de três horas de filme, o que acaba por ser um grande investimento do nosso tempo, mas vale muito a pena.
Este conta a história de Oskar Schindler, um empresário alemão, que acaba por salvar a vida de centenas de judeus, durante a 2ª Guerra Mundial. Fá-lo, definindo cada pessoa essencial para o funcionamento da sua fábrica, impedindo que sejam levados para campos de concentração, como Auschwitz. Gostei muito de conhecer esta história, que me fez descobrir da existência de outras semelhantes (ex: o nosso Aristides de Sousa Mendes), e que nos faz refletir sobre como aquilo que julgamos serem pequenas ações, podem de facto ter um grande impacto na vida dos outros. Este é um filme que ficou muito presente em mim, em especial um diálogo entre Oskar Schindler e outra personagem, onde ele diz o seguinte:
"They fear us because we have the power to kill arbitrarily. A man commits a crime, he should know better. We have him killed and we feel pretty good about it. Or we kill him ourselves and we feel even better. That's not power, though, that's justice. That's different than power. Power is when we have every justification to kill - and we don't."
De seguida, decidi saltar o livro de David Sheff e ver primeiro a sua adaptação cinematográfica. Beautiful Boy (Felix van Groening, 2018) é um filme que dá imagem às palavras escritas por um pai (David Sheff, interpretado por Steve Carell), acerca do percurso do seu filho (Nic, interpretado por Timothée Chalamet) no mundo das drogas. É uma história baseada em pessoas que realmente existem, o que torna a sua visualização um pouco mais dura. É mais uma história de um adolescente que entra neste mundo, de maneira a escapar do real e a testar os seus limites, não sabendo depois como sair. Vemos tudo isto através da perspetiva do pai e apercebemo-nos do impacto de toda a problemática na relação de ambos e na vida familiar. São tomadas decisões difíceis, o que nos faz empatizar bastante com os protagonistas. Chegamos ao fim (ou pelo menos, eu cheguei) com vontade de ir lá tentar ajudar estas pessoas, não só as que partilharam a sua história através deste filme, mas também todas as outras que sabemos que existem. São grandes os números e só espero que a banalidade destes casos não nos torne insensíveis a eles.
Um dos últimos filmes que vi este mês foi To All The Boys I've Loved Before (Susan Johnson, 2018). Nunca li o livro, mas já tinha ouvido falar desta história e já me tinham recomendado o filme como algo leve para se ver quando estamos a precisar de descontrair. E foi isso mesmo. Tinha passado o dia a ler, então apetecia-me terminá-lo de uma forma descontraída, sem ter que me esforçar muito. Estava com sono, então previa que fosse adormecer a meio do filme, mas surpreendeu-me bem. Fiquei agarrada a ele do início ao fim. É claramente um daqueles filmes adolescentes, que explora a forma como as relações amorosas são vividas (ou sonhadas) nessa fase da vida. A sua premissa é engraçada, visto que temos então uma jovem adolescente (Lara Jean, interpretada pela Lana Condor) que desde criança tinha o hábito de escrever cartas onde declarava o seu amor pelos rapazes por quem se sentia apaixonada. Fazia-o como forma de ter provas para se lembrar a si própria de como era possível sentir algo tão forte por alguém, guardando-as a todas. Até que pronto, alguém as encontra e decide enviá-las aos seus destinatários, desde o menino por quem ela se sentiu atraída quando tinha oito anos, até ao rapaz de quem ela gosta atualmente. Pronto, já conseguem imaginar a trapalhada que ela teve que resolver, não é? Gostei deste filme, porque teve momentos engraçados e achei algo perfeito para se ver num domingo à tarde, com a chuva lá fora e umas mantinhas no colo.
Por fim, o último filme que vi este ano, e do qual acho que vale a pena falar, foi o documentário Stories We Tell (Sarah Polley, 2012). Sabia muito pouco sobre ele e aconselho que façam o mesmo, de maneira a se deixarem surpreender. Este documentário consiste numa série de entrevistas feitas pela realizadora (Sarah Polley) a familiares e amigos da família, de maneira a reconstruir a sua história. Tendo sido fruto de uma gravidez não planeada, Sarah é a filha mais nova dentro de uma família onde já existem filhos bem mais velhos e outros de um primeiro casamento. Ainda muito nova, perde a mãe devido ao cancro, o que a aproxima muito mais do pai. Não vou desvendar mais, até porque a parte engraçada deste filme é ir descobrindo a história através da memória daqueles que são entrevistados. Esta foi uma forma da realizadora explorar a importância das narrativas de vida e da forma como a nossa identidade está muito ligada à maneira como contamos a nossa história; o que acabou por aproveitar para que ela própria reconstruísse a sua história, nomeadamente em relação à sua mãe, que ela tão pouco conheceu.
"I'm interested in the way we tell stories about our lives, about the fact that the truth about the past is often ephemeral and difficult to pin down, and many of our stories, when we don't take proper time to do research about our pasts, which is almost always the case, end up with shifts and fictions in them, mostly unintended."
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