Tinha pensado em não escrever a minha opinião sobre estes dois livros, mas decidi que era útil fazê-lo, principalmente por causa da minha memória de peixe, que agradece muito o trabalho que lhe facilito sempre que eu escrevo sobre os livros que leio.
C O N T O S D O G I N - T O N I C
Já andava há algum tempo à procura de uma edição dos Contos do Gin-Tonic, do Mário-Henrique Leiria, mas este livro já não é editado em separado. Atualmente temos uma edição com toda a ficção deste autor, incluindo os contos deste livro, mas para mim não compensava o investimento, já que apenas queria perceber se gostava desta obra específica. Até que encontrei uma única edição perdida nas estantes da biblioteca, por requisitar desde há dez anos. Trouxe-o logo comigo! Era desta que ia ler os Contos do Gin-Tonic!
Sendo um livro de contos, fui lendo aos poucos, enquanto acompanhava com outras leituras. É um livro muito curtinho, com a maioria dos contos a ocupar apenas uma, duas ou três páginas, então lê-se bastante depressa, embora a certa altura desesperasse por chegar ao seu final. Não desisti da leitura, porque não é costume e porque, sendo um livro de contos, estava sempre à espera que o próximo fosse melhor. Não posso dizer que não gostei deste livro, apenas que ficou aquém das minhas expectativas. Não sei bem o que esperava dele, mas a maioria dos contos foi-me indiferente, embora tenha gostado bastante de alguns. São feitas muitas referências sociais e políticas, nomeadamente à guerra colonial, o que me deixou a pensar como é que este livro terá passado na censura. Dos contos de que gostei, alguns muito desenháveis, destaco o facto de serem surrealistas, de nos fazerem sentir que espreitamos para dentro de um sonho e o recurso ao humor, muitas vezes negro. Mesmo não tendo adorado, foi uma boa experiência.
D A V A M G R A N D E S P A S S E I O S A O S D O M I N G O S
Numa outra ida à biblioteca, com o propósito de explorar um bocadinho mais o mundo da poesia, acabei por trazer comigo um livro de prosa do português José Régio, de quem apenas conhecia alguns poemas. Trouxe o Davam Grandes Passeios aos Domingos, uma pequena novela com menos de 100 páginas, inicialmente com a ideia de o tentar ler em 24 horas e participar no projeto da Silvéria. A vida meteu-se no meio e demorei um bocadinho mais a lê-lo do que tinha planeado, mas foi uma leitura muito prazerosa.
Sendo muito curto, não vou dar muitos detalhes, para não estragar a experiência de quem o queira ler. Trata-se da história de Rosa Maria, uma jovem que se muda para Portalegre para viver com uma tia rica, depois da morte da mãe. Ao longo destas curtas páginas vamos conhecendo esta protagonista insegura e vamos acompanhando a forma como se está a adaptar à sua nova vida. Atravessamos com ela os dias nostálgicos, em que vê pela janela a paisagem alentejana e relembra os dias passados com a mãe; mas também os dias em que tem que se embrenhar na cultura pseudo-aristocrática, movida pelas aparências e pelas mesquinhices. Aqui pelo meio conhecemos também uma paixão confinada apenas às paredes da existência de Rosa Maria e vemos a forma como esta lida com tais sentimentos. A minha veia trágica esperava um final diferente e embora não tenha sido um livro extremamente marcante, gostei da sua leitura.