sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Rebecca, Daphne du Maurier

Já tinha pensado em ler este livro da Daphne du Maurier quando foi a escolha dos meses Setembro/Outubro para o clube do livro da Emma Watson, o Our Shared Shelf. No entanto, foi através do projeto Uma Dúzia de Livros, da Rita da Nova, que decidi entrar nesta leitura.
Sabia apenas que era um livro muito bem falado, o mais conhecido da autora. Quanto ao enredo, não quis saber muita coisa e recomendo que façam o mesmo, pelo que evitarei entrar em grandes detalhes.
Rebecca, conta a história de uma protagonista, a nossa narradora, uma jovem que trabalha como dama de companhia de uma senhora mais velha, Mrs. Van Hopper. O seu nome nunca nos é revelado, porque apesar de ser a protagonista e de conhecermos a história através dos seus olhos, o estrelato é-lhe roubado (ou nunca lhe é dado) desde o início. 
Não se revendo na maneira de ser de Mrs. Van Hopper (mesquinha, metediça, "aquele-tipo-de-pessoas-que-lê-as-fofocas-sobre-o-crème-de-la-crème-da-sociedade-e-já-se-acha-amiga-de-toda-a-gente") e tendo-se apaixonado por um homem que acaba por conhecer, decide aceitar a sua proposta, casando-se com ele e abandonando o seu trabalho.
Depois de um casamento discreto e de uma lua de mel pela Europa, este homem, Max de Winter, leva a nossa protagonista para Manderley, a sua propriedade (uma casa enorme junto à praia, rodeada de grandes jardins). Logo desde o primeiro capítulo, vamos percebendo que Manderley é estranha, pela forma sombria como nos vai sendo descrita, parecendo até ter uma vida própria.

Ora, tendo ficado viúvo há menos de um ano, muitos olham com desdém para este recém casamento de Max de Winter, dada a forma como ficara abalado após a morte da sua esposa, Rebecca. Isto é sentido pela nossa protagonista como vindo de todas as partes, visto que criados, vizinhos e familiares olham para ela com desconfiança e incredulidade. Contrariamente a Rebecca, a nossa protagonista é tímida, pouco assertiva e pouco opinativa, o que leva a que oiça constantemente a frase "É muito diferente da Rebecca", essa mulher cuja imagem transmitida é de alguém imponente, poderosa, linda e encantadora.

Ao longo da leitura vamos percebendo cada vez mais que, mesmo depois de morta, Rebecca continua a exercer o seu poder naquela casa. Isto é especialmente transmitido através da personagem (HORRENDA, ASSUSTADORA) de Mrs. Danvers, a governanta da casa e grande confidente da ex Mrs. de Winter. A certa altura, a protagonista refere sentir-se em relação a esta personagem como se estivessem a jogar a um jogo equivalente ao nosso Macaquinho do Chinês e não podia ter utilizado uma comparação melhor! Esta mulher é a sombra em pessoa! Ela vai estar sempre num canto ou numa janela à espreita, com aquela cara ossuda e o vestido preto. A morte de Rebecca é um tema tabu, surgindo sempre rodeado de grande tensão por parte de todos, excepto de Mrs. Danvers. É, claramente, quem ainda está mais abalada pela sua morte, rejeitando a chegada da nova Mrs. de Winter. É, assim, através dela que conhecemos muito de quem foi Rebecca, já que ela está sempre pronta a mostrar à nossa protagonista que ela era a mulher mais bonita, adorada, competente (e inigualável). 

A presença de Rebecca é constante e vai aumentando ao longo do livro, como uma nuvem pesada e sufocante, que vai obviamente influenciando a nossa protagonista. Tudo isto é conseguido de uma forma brilhante através da escrita da Daphne du Maurier, que contrói aqui um ambiente de grande suspense. A forma como certas passagens estão escritas cria imagens realmente arrepiantes, como esta logo no início:

"O restolhar das folhas parece o andar vigoroso de uma mulher em vestido de noite e quando estremecem de repente e caem, espalhando-se pelo chão, assemelham-se ao toque-toque de passos ligeiros femininos e a marca na gravilha a de um sapato de salto alto de cetim."

Este foi um dos aspetos de que mais gostei ao longo da leitura, do ambiente construído, onde a tensão é palpável e parece realmente que estamos com a protagonista a jogar ao Macaquinho do Chinês e que a qualquer momento vamos ter alguém parado mesmo atrás de nós (provavelmente a velha da Mrs. Danvers!).
As personagens estão muito bem construídas, acreditamos nelas e criamos empatia, especialmente com a nossa protagonista. Não sei o que esperava desta história, mas surpreendeu-me de muitas maneiras. As reviravoltas foram fantásticas, daquelas que me faziam largar o livro de repente e me deixavam literalmente boquiaberta. Então mais próximo do final... Enfim, a certa altura já não consegui parar de ler até terminar!

Este livro foi, sem dúvida, uma excelente maneira de começar o meu ano de leituras e deixou-me cheia de vontade de conhecer outros trabalhos da autora. Agora sigo para o filme, uma adaptação realizada pelo grande Alfred Hitchcock, como só poderia ser. Esta história não combina tão bem com ninguém como com ele e acredito que o filme esteja também genial. Logo venho aqui contar o que achei!

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