"Não é a tirania que provoca a submissão, mas obedecendo à sequência inversa, são os mecanismos de submissão que propiciam o aparecimento do tirano."
(João Bernardo, em Algumas reflexões acerca de "A Quinta dos Animais": Abril 2008: A Quinta dos Animais de George Orwel: Antígona )
Decidi ler George Orwell e optei por começar pelo livro A Quinta dos Animais, publicado em Inglaterra em 1945.
Nesta fábula muito bem contada por Orwell, é-nos apresentada a Quinta do Infantado, governada pelo Sr. Reis.
A história começa com o anoitecer e a reunião de todos os animais da quinta num celeiro, onde iriam ouvir o que o velho Major, um porco bastante respeitado por todos, teria para lhes dizer. Este conta-lhes que havia sonhado com uma revolução na quinta, na qual eles se veriam livres das mãos dos Homens, que os obrigavam a trabalhar, para depois lhes retirarem quase todo o lucro do seu árduo trabalho.
"O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é demasiado fraco para puxar o arado, não consegue correr suficientemente depressa para caçar coelhos. E todavia, é amo e senhor de todos os animais. Obriga-os a trabalhar, dá-lhes o mínimo indispensável para evitar que morram de fome e guarda o resto para si."
Após a morte do velho Major, esta revolução acaba mesmo por acontecer e o Sr. Reis, bem como todos os homens que ali se encontravam, são expulsos da quinta, que agora se passaria a chamar Quinta dos Animais. Com este acontecimento, os animais da quinta ganham esperança de poderem vir a viver uma vida melhor, aproveitando ao máximo os frutos do seu trabalho, sem a presença dos homens para os explorar.
Na quinta, os animais aceitaram que os porcos seriam os mais inteligentes e que, portanto, estes deveriam ocupar-se da parte administrativa desta. Tinham um hino, uma bandeira e até criaram sete mandamentos pelos quais deveriam guiar os seus comportamentos, entre os quais estavam "Nenhum animal matará outro animal" e "Os animais são todos iguais". O seu objectivo era não só tornar a quinta sustentável, mas também fazer com que esta fosse a melhor quinta de Inglaterra, onde não eram precisos humanos e cujo exemplo todos os animais iriam querer seguir.
Contudo, "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros" e, assim, os animais da quinta vão sendo gradualmente divididos em duas classes, a classe dominante, os porcos, e a dominada, os restantes animais, e a igualdade deixa de existir mais uma vez, ainda sem que os dominados se apercebam disso. Isto porque os porcos fazem de tudo para que os outros animais continuem iludidos, a achar que vivem melhor do que anteriormente, com o Sr. Reis. Além disso, observamos também outro tipo de medidas, características de um governo tirano, como a repressão e o culto ao líder.
"Durante a Primavera e o Verão, labutaram sessenta horas por semana, e, em Agosto, Napoleão anunciou que também haveria trabalho aos domingos à tarde. Este trabalho era estritamente voluntário, mas qualquer animal que faltasse veria as suas rações reduzidas a metade."
Orwell pretendia que este fosse um livro fácil de ler, pois queria que o máximo número de pessoas compreendesse a sua mensagem. A Quinta dos Animais é um livro curto, mas enorme em conteúdo e, na minha opinião, devia ser de leitura obrigatória, porque toda a gente o devia ler. Esta é uma história que teria adorado ainda mais na altura em que estudei a Revolução Russa, em História (saudades!). Isto, porque este livro é uma alegoria a essa mesma revolução e é impossível lê-lo sem reconhecer personagens e o que se passou nessa altura na Rússia. Por isso mesmo, sem dúvida que o vou querer reler, porque tenho a certeza que vou retirar mais dele, de cada vez que o ler.
Obviamente que recomendo muito.
"Doze vozes gritavam, furiosas, e todas se assemelhavam. Era agora evidente o que sucedera ao rosto dos porcos. Os animais diante da janela olhavam dos porcos para os homens, dos homens para os porcos, e novamente dos porcos para os homens: mas era já impossível distingui-los uns dos outros."
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