"Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira."
Finalmente tenho este livro lido e já posso falar um bocadinho sobre ele!
Há muito tempo que queria ler autores russos e optei por começar pelo Tolstoi. Um dos seus livros mais conhecidos é o Anna Karénina, publicado em 1877 e foi por esse mesmo que comecei.
Neste livro, o autor não se limitou a contar-nos a história de Anna Karénina, explorando também uma série de outras personagens que acabam por estar todas interligadas. Talvez se possa dizer que, ao longo do livro, vamos seguindo três linhas narrativas, a de Lévin e Kitti, a de Anna e Vronski e a de Oblonski e Dolli.
Esta história passa-se num meio aristocrático, na Rússia, durante o czarismo. Naquela altura a Rússia estava a passar por várias mudanças e os temas dessas mesmas acabam por ser constantemente discutidos por alguns personagens durante os seus encontros sociais, como a criação do zemstvo, o desenvolvimento da agricultura russa, o estatuto da mulher e ainda há tempo para debater questões bélicas.
Como mencionei antes, seguimos três linhas narrativas, cuja existência é absolutamente essencial para que Tolstoi conseguisse levar o leitor a inevitavelmente comparar estas três e ainda para que este conseguisse aproveitar para fazer as críticas sociais que fez.
Focando-me agora só na história da personagem que dá nome ao livro, Anna Karénina é uma mulher que nos é descrita como sendo absolutamente linda, elegante e cativante. O momento em que ela aparece pela primeira vez é descrito de tal forma que nós percebemos imediatamente que é ela. Adorei especialmente essa cena, no comboio, principalmente pela forma como Tolstoi a escreveu:
"Pediu desculpa e ia entrar na carruagem, mas sentiu a necessidade de olhá-la uma vez mais - não por ela ser muito bonita, não pela elegância e pela graça discreta que emanava de toda a sua figura, mas porque havia qualquer coisa de especialmente gentil e terno na expressão do seu rosto quando passou ao lado dele. Quando ele olhou para trás, ela também voltou a cabeça. Os seus olhos cinzentos e brilhantes, escurecidos pelas densas pestanas, detiveram-se amigáveis e atentos no rosto dele, como se o reconhecesse, e de imediato se desviaram para a multidão que se aproximava, como que há procura de alguém. Nesse breve olhar, Vronski conseguiu notar uma vivacidade contida, que brincou no rosto dela e esvoaçou entre os olhos brilhantes e um sorriso quase impercetível que lhe arqueou os lábios vermelhos."
Resumidamente, Anna era casada com um homem bastante importante na sociedade, de quem tinha um filho, mas eventualmente apaixona-se por outro homem, Vronski. Contrariamente ao que acontecia com outras mulheres que cometiam adultério, Anna decide aceitar os seus sentimentos e, mesmo sabendo que, ao fazê-lo, teria que abandonar o filho, opta por não se esconder. Assim, a sociedade fica a saber do seu caso extra-conjugal com Vronski, o que faz com que ela passe a ser olhada de lado, como sendo uma mulher má e desprezível, pela maior parte das pessoas.
Não vou contar mais, porque se o fizesse ia estar aqui a escrever para sempre, tendo em conta o enorme conteúdo deste grande livro e visto que existem nele imensos temas que poderiam ser discutidos. Não o vou fazer aqui, como é óbvio. Digo só que é um livro excelente e que devia ser lido por todos, visto que acaba por abordar vários temas, que podem interessar a várias pessoas. A escrita do Tolstoi é clara e deliciosa. Este é um livro que se lê bem, não estando cheio de "palavras difíceis". Além disso, como segue várias personagens, que (já agora) são exploradas de forma profunda e bem desenvolvidas ao longo do livro, há sempre algo a acontecer, o que faz com que o queiramos estar sempre a ler. Posso também dizer que, embora adore a Anna Karénina e ter ficado muito triste com o desfecho dela (apesar de já o saber mais ou menos), acho que o meu personagem preferido é o Lévin. Curiosamente, segundo o posfácio da minha edição, escrito pelo Vladimir Nabokov, este homem (Lévin) é o personagem mais próximo do próprio autor, o que eu achei interessante.
Provavelmente havia mais coisas que eu queria mencionar, mas que já me esqueci. Vou só dizer que adoro a edição que comprei (a da imagem), mas que quem não conhecer nada da história e não quiser ficar a saber demais, como era o meu caso, não leia o que está na contra-capa. Além disso, uma boa ajuda para entrar no
mood para ler este livro é estar a ouvir a
banda sonora do
filme, o qual eu tenciono ver entretanto e talvez até venha aqui dizer aquilo que achei dele.
Tornou-se num dos meus livros preferidos, por isso é óbvio que o recomendo!